domingo, 23 de março de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap. 1



Capitulo 1



Ela estava fazendo jogging ao amanhecer, recordava-se, e conseguia visualizar aquela manhã de verão nitidamente.


Era o começo de um belo dia. à medida que ia absorvendo o mundo à sua volta, escutava o grasnar estridente de andorinhas-do-mar e o marulhar suave das ondas rolando na areia.


Apesar de estar de férias, levantara-se suficientemente cedo para poder correr sem ter de olhar constantemente por onde andava. Dentro de algumas horas, a praia estaria apinhada de turistas estendidos nas suas toalhas absorvendo os raios do sol quente da Nova Inglaterra.


Cape Cod estava sempre superlotado naquela altura do ano, mas a maior parte dos veraneantes tendia a dormir até um pouco mais tarde, e ela gostava da sensação de correr sobre a areia dura e lisa deixada pela maré vazante. Ao contrário dos passeios perto de casa, a areia parecia ceder apenas o suficiente, e ela sabia que não ficaria com dores nos joelhos como por vezes acontecia depois de correr nos passeios de cimento.


Sempre gostara de fazer jogging, um hábito que tinha ficado desde os tempos em que fizera atletismo na escola. Embora já não fosse competitiva e raramente cronometrasse o tempo das suas corridas, correr era agora uma das poucas horas em que podia estar sozinha com os seus pensamentos. Considerava-o como sendo uma espécie de meditação, e era por isso que gostava de fazê-lo sozinha. E para completar seu passeio, Kate permanecia por alguns minutos com os pes fincados na areia sentindo as ondas beijarem suavemente seus pes, a sensacao era de tranquilidade.


Por mais que amasse o seu filho, estava contente por Kevin não estar com ela. Todas as mães precisam de um descanso de vez em quando, e ela ansiava por poder levar as coisas calmamente enquanto ali estivesse.


Nada de jogos de futebol ao fim da tarde ou encontros de natação, nada de MTV em altos berros, nada de trabalhos de casa a requerer ajuda, nada de acordar no meio da noite para confortá-lo quando ele tinha cãibras nas pernas.


Levara-o ao aeroporto fazia três dias para apanhar um avião para ir visitar o pai - o seu ex-marido - na Califórnia, e foi só depois dela o ter lembrado que Kevin percebeu de que ainda não a abraçara e beijara para se despedir.


"Desculpa, Mãe", disse ele enquanto a envolvia com os braços e a beijava. "Gosto muito de voce. Não sinta muitas saudades, está bem?"


Depois, voltando-se, entregou o bilhete ao comissário de bordo e quase pulou para dentro do avião sem olhar para trás.Ela não o culpava por quase ter esquecido. Aos doze anos ele estava numa fase difícil em que achava que abraçar e beijar a mãe em público não era legal. Além disso, tinha a mente ocupada com outras coisas.


Desde o último Natal que ele ansiava por aquela viagem. Ele e o pai iam ao Grand Canyon, depois iriam passar uma semana a descer o rio Colorado de balsa, e finalmente iriam à Disneylândia. É a viagem de sonho de qualquer garoto, e ela sentia-se feliz por ele. Embora ele fosse estar ausente durante seis semanas, ela sabia que era bom para Kevin passar algum tempo com o pai.


Ela e James estavam dando-se relativamente bem desde que se haviam divorciado há três anos. Embora ele não fosse o melhor dos maridos, era um bom pai para Kevin. Nunca se esquecia de mandar um presente de aniversário ou de Natal, telefonava semanalmente, e atravessava o país algumas vezes durante o ano apenas para passar fins-de-semana com o filho.


Depois, claro, havia também as visitas fixadas pelo tribunal - seis semanas no verão, o Natal, ano sim, ano não, e o intervalo da Páscoa, quando a escola os deixava sair durante uma semana. Ana, a nova mulher de James, estava ocupadíssima com o bebé, mas Kevin gostava muito dela, e nunca tinha regressado a casa sentindo-se aborrecido ou negligenciado. Na verdade, ele normalmente vibrava quando lhe contava as visitas e como se tinha divertido.


Havia momentos em que isso lhe fazia sentir uma pontada de ciúmes, mas fazia o seu melhor para o esconder de Kevin.


Agora, na praia, corria a um passo moderado. Penny estaria à espera que ela acabasse de correr antes de começar a fazer o cafe - Desmond já teria ido embora, ela sabia - e Kate aguardava com prazer para fazer algumas visitas com ela.


Penny era a sua melhor amiga.Diretora do jornal onde Kate trabalhava, há vários anos que Penny vinha para Cape Cod com o marido, Desmond. Ficavam sempre no mesmo lugar, a Fisher House, e quando ela descobriu que Kevin ia embora para visitar o pai na Califórnia durante uma boa parte do verão, insistiu para que Kate fosse com eles.


"Desmond vai jogar golfe todos os dias, e eu gostaria de companhia", disse ela, "e além disso, que mais é que vais fazer? Alguma vez vais ter de sair daquele apartamento."


Kate sabia que ela tinha razão, e depois de alguns dias a pensar no assunto, acabou por aceitar. "Fico muito contente", disse Penny com um ar vitorioso no rosto. "Vais adorar aquele lugar."


Kate tinha de admitir que era um lugar agradável para se ficar. A Fisher House era a casa de um capitão que fora maravilhosamente restaurada e que ficava à beira de um penhasco rochoso com vista para a baía de Cape Cod, e quando ela a avistou ao longe, começou a correr mais devagar.


Ao contrário dos jovens corredores que aceleravam o passo quando se aproximavam do fim da corrida, ela preferia desacelerar e não se esforçar. Aos trinta e seis anos já não se recuperava tão depressa como fazia em tempos. à medida que a respiração acalmava, pensava em como iria passar o resto do seu dia.


Como colunista do Chicago Tribune para o qual tinha de produzir três colunas por semana cumprindo prazos, estava permanentemente sujeita a uma forte pressão. A maior parte dos colegas pensavam que ela conseguira o trabalho ideal - bastava escrever trezentas palavras no computador e estava feito o trabalho do dia - mas não era de todo assim. Conseguir produzir constantemente algo de original já não era fácil - especialmente se quisesse que o seu trabalho continuasse a ser publicado noutros jornais do país.


Kate desacelerou, começou a andar e por fim parou enquanto uma andorinha-do-mar dava voltas no céu por cima dela. A umidade era elevada e ela usou o antebraço para limpar a transpiração da cara.


Era ainda muito cedo, daí que o Oceano estivesse cinzento turvo, o que mudaria logo que o Sol se levantasse um pouco mais. Tinha um aspecto tentador. Passado um momento ela se pos descalça, depois desceu para a beira da água deixando as pequeninas ondas lamber-lhe os pés. A água era refrescante, e ela passou alguns minutos caminhando para trás e para frente.


Sentiu-se subitamente contente por ter tido tempo de escrever cronicas suplementares ao longo dos últimos meses, para que pudesse esquecer-se do trabalho naquela semana. Não conseguia lembrar-se da última vez em que não tivera um computador por perto, ou uma reunião a que assistir, ou um prazo por cumprir, e era uma sensação libertadora estar longe da sua mesa durante algum tempo.


Sentia-se quase como se estivesse de novo a controlar o seu próprio destino, como se estivesse prestes a começar a viver. Deu mais uns passos para dentro da água


Mas quando fechou os olhos, a única coisa em que conseguia pensar era em Kevin. Deus sabia que ela queria passar mais tempo com ele, e decididamente ser mais paciente para com ele quando estivessem juntos. Queria poder sentar-se e conversar com ele, ou jogar Monopólio, ou simplesmente ver televisão na sua companhia sem sentir vontade de se levantar do sofá para ir fazer alguma coisa mais importante. Havia alturas em que ela se sentia uma fraude quando insistia com Kevin dizendo-lhe que ele vinha primeiro e que a família era a coisa mais importante que ele iria ter na vida.


Mas o problema era que havia sempre qualquer coisa para fazer. Os afazeres de casa acabavam por tomar-lhe o tempo. Alem disso, Kevin estava quase tão ocupado quanto ela com a escola, os amigos e todas as suas outras atividades. Era assim que as revistas iam diretamente para o lixo sem serem lidas, e que ficavam cartas por escrever, e era, em momentos como aquele, que receava que a sua vida estivesse a passar em branco.


Mas como mudar tudo isso? "Vive um dia de cada vez", a sua mãe sempre dissera, mas a sua mãe não tinha de trabalhar fora de casa ou criar um filho forte e confiante mas carinhoso, sem a ajuda de um pai. Ela não compreendia as pressões que Kate enfrentava todos os dias.


Ela e James haviam se divorciado fazia três anos agora, quatro se se contasse o ano em que estiveram separados. Ela não o odiava pelo que ele tinha feito, mas o seu respeito por ele fora quebrado. O adultério, fosse um caso de uma só noite ou uma ligação prolongada, era algo com que ela não conseguia conviver. E nem o fato de ele não se ter casado com a mulher com quem tivera um caso durante dois anos, a fazia sentir-se melhor. A quebra de confiança era irreparável.James voltou para a Califórnia, o seu estado natal, um ano depois de se terem separado e conheceu Ana alguns meses após.


Desde o divórcio que houvera apenas uns poucos encontros amorosos. Não que ela não fosse atraente. Era atraente, ou assim lhe diziam muitas vezes. O seu cabelo era castanho escuro, cortado mesmo acima dos ombros, e cheio de cachinhos. Os olhos, a feição pela qual recebia mais elogios, eram verdes lembrando esmeraldas. Porque corria todos os dias, estava em boa forma e não aparentava a idade que tinha. Os seus amigos pensavam que ela era doida. "Estás com melhor aspecto agora do que há uns anos atrás", insistiam, e ainda reparava nalguns homens a olhar para ela no corredor do supermercado.


Embora ela estivesse sempre em movimento, parecia que já nada mais de especial lhe acontecia. Cada dia parecia exatamente idêntico ao anterior, era por isso que tinha dificuldade em diferenciá-los. Uma vez, cerca de um ano antes, estivera sentada à mesa durante quinze minutos tentando lembrar-se da última coisa espontânea que tinha feito. Não conseguiu pensar em nada.


Agora, passados três anos, ela não sabia sinceramente se alguma vez iria amar alguém de novo da maneira como amara James.


Quando James apareceu na festa no início do seu primeiro ano de faculdade, um olhar foi o que bastou para que ela soubesse que queria estar com ele. O seu amor juvenil parecera tão avassalador, tão poderoso. Ficava acordada na cama a pensar nele, e quando atravessava a cidade universitária, sorria tanto que as outras pessoas também sorriam sempre que a viam.


Mas amor como aquele não dura muito, pelo menos foi o que ela descobriu.


Com o passar dos anos, emergiu um casamento diferente. Olhando para trás, Kate sentia que James se transformara numa pessoa completamente diferente, embora não pudesse precisar o momento em que tudo começou a mudar. Mas tudo pode acontecer quando a chama de uma relação se apaga, e para ele, ela tinha-se apagado. O encanto fora quebrado.


A injustiça de tudo aquilo era que às vezes ela ainda sentia a falta dele, ou antes, do lado bom dele. Estar casada era confortável. Habituara-se a ter outra pessoa à sua volta, com quem pudesse simplesmente falar ou escutar. Sentia falta de muita coisa, mas mais do que tudo, sentia a falta da intimidade que vinha do abraçar e sussurrar a outra pessoa por detrás de portas fechadas.


Kevin ainda não tinha idade para compreender isso, e embora ela o amasse profundamente, não era o mesmo tipo de amor que desejava naquele momento. O seu sentimento por Kevin era o amor de mãe, provavelmente o mais profundo, o mais sagrado que existe. Mesmo agora ela gostava de entrar no seu quarto depois de ele adormecer e sentar-se na sua cama para apenas o olhar.


Ainda sonhava em apaixonar-se por alguém, em ter alguém que a tomasse nos braços e a fizesse sentir-se como a única pessoa que tinha importância. Mas era difícil, se não mesmo impossível, encontrar alguém decente hoje em dia. A maior parte dos homens que ela conhecia na casa dos trinta já estavam casados, e aqueles que estavam divorciados pareciam estar à procura de alguém mais novo que pudessem de alguma maneira moldar exatamente naquilo que eles queriam. Restavam os homens mais velhos, mas embora pensasse que poderia ser capaz de se apaixonar por alguém com mais idade, tinha ainda o seu filho com quem se preocupar. Queria um homem que tratasse de Kevin da maneira como ele deveria ser tratado, não simplesmente como o apêndice indesejado de alguém que esse homem desejasse.


Admitia também sentir falta da intimidade física que vinha do fato de amar e confiar e agarrar-se a outra pessoa. Não estivera com um homem desde que se divorciara.


O sexo era demasiado importante, demasiado especial, para ser partilhado com qualquer um. Na verdade, ela fora para a cama com apenas dois homens na sua vida - James, claro, e Tom, o primeiro verdadeiro namorado que tivera. Não queria acrescentar nomes à lista só por alguns minutos de prazer.


Por isso, naquelas férias em Cape Cod, sozinha no mundo e sem um homem a seu lado, queria apenas aproveitar os dias para fazer algumas coisas somente para si mesma. Ler, pôr os pés para cima, e beber um copo de vinho sem a televisão a tremeluzir ao fundo. Escrever a amigos de quem não tinha notícias há já algum tempo. Dormir até tarde, comer em demasia, e correr de manhã cedo, antes de toda a gente chegar à praia e estragar o seu prazer.


Queria experimentar novamente a liberdade, mesmo que apenas por um curto período de tempo.Também queria fazer compras naquela semana. Queria experimentar vestidos novos e comprar um ou dois que realçassem a sua figura, apenas para lhe fazer sentir que ainda estava viva e vibrante. E se um cara simpático aparecesse a convidá-la para sair naquela semana, talvez ela aceitasse, só para ter uma desculpa para usar as coisas novas que tinha comprado.


Com um sentido de otimismo um tanto renovado, estava pronta para ir embora. Caminhava junto à borda e viu uma rocha meio enterrada na areia, a alguns centímetros do local onde a maré das primeiras horas da manhã alcançara o seu ponto mais alto.


Estranho, pensou para consigo mesma, parecia destoar ali.à medida que se aproximava, reparava em algo diferente na sua aparência. Para começar, era lisa e comprida, e quando chegou perto dela percebeu que não era sequer uma rocha. Era uma garrafa, provavelmente descartada por um turista negligente ou um dos adolescentes locais que gostavam de ir para ali à noite. Olhou por cima do ombro e viu um caixote de lixo acorrentado à torre do salva-vidas e decidiu fazer a sua boa ação do dia.


Quando estendeu o braço para pegar nela, porém, ficou surpresa ao ver que estava rolhada. Desviando-a para uma luz melhor, viu lá dentro um bilhete amarrado com um fio.A rolha estava firmemente apertada, e os seus dedos escorregavam quando tentava abri-la. Não conseguia agarrá-la bem. Cravou as unhas curtas na parte exposta da rolha e girou lentamente a garrafa.


Nada.


Mudou de mãos e tentou de novo. Agarrando-a com mais força, fincou a garrafa entre as pernas para forçá-la em alavanca, e mesmo quando estava prestes a desistir, a rolha cedeu um pouco.


Subitamente reanimada, mudou de novo de mãos... apertou... girando lentamente a garrafa... mais rolha... e de repente ela desprendeu-se e a porção restante deslizou para fora com facilidade.Virou a garrafa de gargalo para baixo e foi surpreendida quando o bilhete caiu na areia junto aos seus pés quase imediatamente.


Quando se debruçou para apanhá-lo, reparou que estava firmemente atado, sendo essa a razão por que deslizara para fora tão facilmente.Ela desatou o fio com cuidado, e a primeira coisa que a surpreendeu enquanto desenrolava a mensagem foi o papel.


Era caro, grosso e sólido, com uma silhueta de um barco à vela gravado em relevo no canto superior direito. E o próprio papel estava enrugado, com aspecto de antigo, quase como se houvesse estado na água durante cem anos.Deu por si a conter a respiração. Talvez fosse antigo. Podia ser, havia histórias de garrafas que davam à costa depois de cem anos no mar, por isso podia ser esse o caso. Talvez tivesse ali com ela um verdadeiro artefato.


Mas quando examinou a escrita em si, viu que estava enganada. Havia uma data no canto superior esquerdo do papel.


22 de Julho de 2004. Fazia pouco mais de três semanas.


Três semanas? Só isso? Olhou um pouco mais à frente. A mensagem era longa - cobria ambos os lados do papel - e parecia não pedir qualquer tipo de resposta. Uma rápida olhada não revelava qualquer morada ou número de telefone, mas ela supôs que tais pormenores poderiam ter sido incluídos no corpo da própria carta.


Sentiu uma pontada de curiosidade ao segurar a mensagem à sua frente, e foi então que, à luz do nascer do Sol de um dia quente de Nova Inglaterra, ela leu pela primeira vez a carta que mudaria a sua vida para sempre.


22 de Julho de 2004


Dear Sarah,


Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos.


Quase consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se.Estou tentando, mesmo assim.


à noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece ser a maior, encontras constantemente uma maneira de voltar para mim. Ontem à noite, nos meus sonhos, te vi perto de Wrightsville Beach. O vento soprava através do teu cabelo, e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao parapeito.


Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direção, e quando finalmente te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também. "Conhece-la?" perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade.


"Melhor do que o meu próprio coração." Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez.


Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objetivo na vida.


Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro lugar onde possa estar.Mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo, fechando, até mais nada restar senão nós dois.


Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que e hora de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu.


Anseio por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível.E eu assisto com o coração partido enquanto desapareces lentamente. Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo sobre aquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e choro.



Jack


CONTINUA...

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