domingo, 30 de março de 2008

INCANCELLABILE - Cap 13 Parte 1

San Sebastian
Dia seguinte


A noite tinha sido longa e cansativa mas nem por isso Jack deixou Kate sozinha.


Durante a madrugada e por varias horas ele tinha deixado a mente maquinar atrás de uma resposta para a situação critica que vivia nesse momento. A razão e a emoção brigavam constantemente entre si, deixando Jack ainda sem a resposta tão esperada. Sabia que o tempo se esgotava e logo Desmond entraria pela porta querendo iniciar o procedimento, sim porque para ele era fácil, ela era so uma paciente.


Uma enfermeira entra no quarto para a ronda. Ao ver Jack se desculpa. Após conferir as condições da paciente pergunta se o medico precisa de algo o que ele gentilmente recusa e agradece.

9hs

Desmond entra no quarto de Kate e não fica surpreso ao ver o amigo ainda sentado ao lado dela.

- Jack...voce precisa se alimentar.

- Não estou com fome.

- Não se trata de fome, se você insiste em fazer vigília precisa estar alerta. Como ela esta?


- Na mesma. Não acordou.


- Você já chegou a uma conclusão? Sobre o estado dela?


- Não, Des.


- Brotha, não posso esperar por muito tempo. Muito menos ela. Tenho que opera-la, não pode passar de hoje a tarde. Ok?

Jack balançou a cabeça em acordo. Desmond saiu da sala dizendo que ia providenciar um café reforçado para o amigo.


Vinte minutos depois...


Juliet já estava no San Sebastian e após uma breve conversa com Desmond pegou uma pequena vasilha com frutas e pão alem de uma caneca com café forte e dirigiu-se ao quarto de Kate.

Abriu a porta com cuidado e a cena que se deparou provocou nela um misto de alegria e tristeza. Jack estava com a cabeça deitada sobre o estomago de Kate e com a mão entrelaçada a dela.

Parecia dormir.

Ela colocou a comida sobre uma mesinha e tocou o ombro do amigo suavemente. Ele se assustou.

- Juliet? O que faz aqui?

- Vim ajudar um amigo. E abriu os braços para ele.

Jack abraçou a amiga e agradeceu.

Por poucos minutos, Juliet conseguiu roubar a atenção do amigo para que ele comesse e ao mesmo tempo desabafasse com ela. Era mais fácil uma vez que Jules era a única que conhecia a historia dele.


Nova York


Sawyer e Cassidy já tinham se instalado no hotel e estavam conversando já com o gerente do banco para sacarem o dinheiro.

O próprio Sawyer já havia passado na seguradora para dar entrada na papelada. O atestado de óbito tinha sido providenciado bem antes do previsto afinal fazia parte do plano. Após meia hora , os dois deixaram o banco sorrindo.

Havia sido mais fácil que tirar doce de criança.

O próximo passo do plano era enfim começar a curtição. No dia seguinte, partiam para Paris em férias sem data de volta.


San Sebastian
11hs

Kevin e Justin estavam de volta ao hospital para visitar a amiga e também para tentar encontrar uma solução para o problema que acabaram de descobrir. Ao entrarem no quarto, encontraram Jack e Juliet sentados conversando baixinho.

- Com licença... podemos ver nossa amiga?

- Claro.

Eles se aproximaram da cama e ficaram contemplando Kate por uns minutos.

- Ela parece tão frágil!

- Doutor, precisamos conversar com o senhor sobre a Kate. Temos que acertar os custos de hospital e ...

- Vocês podem tratar isso direto na administração do hospital.

- E que... Justin não sabia como falar... – e que a Kate não pode pagar as despesas.

Jack achou estranho aquele comentário, afinal ela era famosa, uma jornalista de respeito. Foi Kevin quem contou tudo o que aconteceu:

- Ontem ao procurar o banco onde o ex-marido de Kate trabalha e ela mantem conta, descobrimos que ela não tem mais que 10 mil dólares na conta. O que e totalmente improvável porque Kate tinha uma excelente poupança alem dos investimentos. Tentamos localizar o James sem sucesso.

- Mas ele não esta trabalhando em outra agencia?

- Sim, foi o que pensamos mas não conseguimos falar com ele. Nem o banco! Parece que sumiu do mapa. O banco não pode dar a nos maiores informações porque não somos parentes dela.

- Isso soa muito estranho...Kevin suspirou e colocou suas suspeitas no ar.

- Eu acredito que a Kate sofreu uma tentativa de assassinato. Alguém a queria morta mas aparentemente o golpe não saiu como o planejado.

Jack não podia acreditar. "Quem em sa consciência iria querer matar uma mulher tão linda como aquela?"

- A Kate tinha inimigos?
- E claro que não! Ela e um doce! Incapaz de fazer mal a uma mosca.

- Olha não se preocupem com a conta do hospital. Eu cubro. Mas o que me preocupa e se realmente estamos diante de um crime. Se chamarmos a policia, vocês estão dispostos a contar o que sabem?

- Claro!

Jack pegou o telefone. Discou.

- Ana, preciso da sua ajuda.

Dez minutos depois, Jack tinha conseguido o apoio de uma amiga que trabalhava no FBI. Ela iria contactar um delegado amigo dela e pediu para os amigos de Kate seguirem ate a delegacia indicada por ela. Antes de deixar o hospital, Justin perguntou se ela iria ficar bem. Jack afirmara que sim procurando convencer a si mesmo disso.

Jack estava sozinho com Kate, as horas passaram muito rápido e logo Desmond viria cobrar dele uma resposta. Sentado na cadeira ele descansava os olhos por um momento tendo sua cabeça inclinada para trás. De repente, ouviu um pequeno gemido.


- Pls, Jack ... I’m sorry...


Kate abrira os olhos e balbuciava baixinho. Jack aproximou-se dela.


- Kate, eu estou aqui. Fale comigo...

- Don’t leave me, Jack ...

- I won't...

- Jaaaaackkkk....

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....

Jack desesperou-se ao ver o monitor disparar.

- Código azul!!!

Ele massageava o coração dela enquanto gritava por socorro. Dois internos e Juliet entraram pelo quarto trazendo o desfibrilador. Jack tomou a frente dele e preparou para dar o choque.

- Carregue pra 200. afastem-se!

Nada.


Preparou novamente e aplicou.

- Vamos, Kate.

Nada.

- 300 e afastem-se!


Sem reação, ele largou o aparelho e passou a massagea-la com as mãos alternando o oxigênio.

-Please, amore...

- Jack, mais uma vez....era Juliet quem o incentivava.

Ela acabara de mandar um dos internos aplicar adrenalina na veia de Kate que continuava sem reagir.

Ele pegou o aparelho nas mãos e meneou a cabeça. Juliet carregou.

Uma, duas....na terceira vez um pequeno ponto de sinal apareceu na tela.

Pi....pi....pi....


Jack respirou aliviado.

O monitor cardíaco mostrava a recuperação gradual dos batimentos.

Jack deixou-se cair exausto na cadeira. Ter a vida de seu amor por um fio era forte demais para ele.

Desmond que acompanhara os minutos finais antes da volta de Kate, colocou a mão sobre o ombro do amigo. Uma simples troca de olhares e ele sabia que tinha a permissão de Jack para ir em frente.


CONTINUA...

INCANCELLABILE - Cap 13 Parte 2

2PM



Desmond já havia solicitado a preparação da sala de cirurgia.

Em meia hora deveria estar começando a operação de Kate. Sentado na sala do conforto medico, ele preparava-se.


Como um dos melhores neuro-cirurgiões do pais, ele estava acostumado a realizar vários procedimentos iguais a esses sem qualquer problema. Esse caso porem, era bem diferente.


Não se tratava apenas de uma paciente, era alguém especial para seu melhor amigo. Todo o seu conhecimento na medicina seria necessário naquele momento mas sua mente e seu coração teriam que estar presentes na sala também.


A cirurgia era mais do que salvar uma vida, ela significava dar vida a uma pessoa querida. Não percebeu quando o próprio Jack parou a sua frente.


- Des...


Ele levantou a cabeca. O amigo tinha o rosto cansado pelas noites mal dormidas e pela preocupação.


- Você esta bem, Jack? Já se alimentou?


- Eu estou bem. Quero te dizer uma coisa. Você sabe que essa cirurgia e muito importante pra mim e que eu não poderia confiar a execução dela a ninguém mais a não ser você. Por todas as vezes que você me falou para aproveitar a vida, quando me dava conselhos amorosos e pedia para eu ser feliz...agora eu posso dizer e acredito que você também pode entender que eu estava esperando pela minha felicidade, hoje ela esta nas suas mãos.


Jack engoliu em seco para não expressar toda a carga de sentimento envolvida naquele momento.


- Eu confio em você.


Desmond tinha os olhos cheios d’agua.


- Brotha, eu farei tudo que estiver ao meu alcance e por isso quero que você me acompanhe porque eu me sentirei mais tranqüilo. Jack abraçou o amigo e eles rumaram juntos para a OR.

3 PM

A cirurgia acabara de começar.


Kate estava dopada como previsto simulando o coma.


Jack monitorava cada batimento dela atento a qualquer variação.


A operação era demorada mas de certa forma simples do ponto de vista de um neurologista. A maior preocupação nesse caso era saber se havia possibilidade de seqüelas.


Por ser pequeno, a área da cirurgia era mínima e Desmond operava com destreza os aparelhos.


Uma hora depois, o aneurisma foi retirado com sucesso. Antes de fechar o corte porem, precisavam fazer o teste dos reflexos do braço esquerdo. Ele sinalizou a enfermeira para reverter o processo de coma induzido.


Gradualmente, percebia-se na paciente a necessidade de respirar por si so. Jack que segurava a mão de Kate percebeu um esforço mais difícil por parte dela.


- Des, ela precisa de ajuda para respirar.


- Jack mantenha por enquanto a mascara de oxigênio. Ela estava muito tempo desacordada.


Lentamente, Desmond aplicava diferentes estímulos em região do cérebro correspondente a área motora. Os reflexos eram essenciais para definir se tudo correra bem.


Após 3 tentativas de choques, Kate moveu a mão finalmente. Desmond continuou o teste para verificar cada reflexo possivel, dedo a dedo. Tudo normal.


Alivio foi o que se viu no rosto de Jack.


Mais alguns testes, todos respondidos de maneira satisfatória, Desmond abriu um sorriso.


- See Brotha. Tudo perfeito.


Ele voltou-se para o corte e fechou o local da cirurgia. Depois deu ordens para a enfermeira transferi-la para um quarto.


- Vamos, Jack. Precisamos comer alguma coisa. Você terá uma longa jornada pela frente.

7 PM

Jack entra devagar no quarto do hospital. Estava exausto mas não iria deixa-la sozinha ainda mais agora após uma cirurgia delicada.

Ele sentou-se na beira da cama e tomou a mão dela nas suas. Não cansava de admira-la mesmo nessa situação.


Tocou suavemente o rosto dela. A maciez da pele o lembrava o quanto foram bons os momentos passados com ela.
Queria tanto que ela acordasse, queria ver aqueles olhos verdes o mirando. Ouvir aquela voz suave que preenchia seus mais doces sonhos.

- Kate, eu esperei tanto para te encontrar novamente. Porque assim? Depois de tanto tempo... preciso que reaja pra mim. Lute, amore mio.

Pequenas batidas na porta o tiraram de sua reflexão.

- Com licença, Jack.


Era Justin.


- Apenas passei aqui para te dizer que já procuramos o delegado e provavelmente deverão começar uma busca por James. Ele comentou que a historia esta mesmo mal contada. Ele também falou que vai entrar em contato com o banco para alerta-los. Disse que gostaríamos de saber do andamento da investigação.

- Obrigada por vir aqui me contar.

Justin estava atento aos movimentos de Jack e não pode deixar de notar as mãos entrelaçadas.


- Posso fazer uma pergunta?


- Manda!


- De onde você conhece a Kate? Desculpe mas pelo jeito que você age tenho certeza que ela não e somente mais uma paciente.


- Você esta certo, a conheci a alguns anos mas perdemos contato...


- Eu sei que não devia me intrometer mas so queria dizer que a Kate e uma pessoa maravilhosa, um ser humano incrível mas que infelizmente ainda não teve a chance de ser feliz como ela merece. Eu queria muito vê-la feliz novamente.


- Porque você esta me dizendo isso?


- Intuição talvez... cuide dela ok?

E sorrindo deixou o quarto.

Quinze minutos depois, um interno entrou no quarto. Vinha trocar o curativo do ferimento da coxa de Kate. Aproveitando, Jack decidiu ir ao banheiro e tomar um pouco d’agua.


No caminho, encontrou Desmond que já estava de saída para encontrar-se com Penny.

- Hey, brotha! Fui deixar alguns documentos na sua mesa e achei seu celular. Tem pelo menos 3 ligacoes perdidas...

- Obrigado. Você sabe da Juliet?


- Acho que foi para o hotel. Porque?


- Preciso de um banho e queria deixar a Kate com alguém de confiança.


- E com quem ela esta agora? - O interno esta trocando o curativo.


Pipipipi... era o bip de Jack.


Dizia para ir ao quarto de Kate. Ele saiu voando e em menos de 30 segundos estava la.


- O que houve?


- Dr. Shepard, acho que o corte esta inflamado e não quis tomar ação nenhuma para resolver antes de o consultar.


- Ok, você limpou o local?


- Sim.


O corte realmente estava ruim, muito inflamado era tudo que ela não precisava nesse momento. Mais complicações. Ele examinou o ferimento e pediu ao interno para providenciar uma dose de penicilina. Decidiu ele mesmo cobrir o curativo para evitar maiores contatos com qualquer coisa que pudesse piorar a situação. Tão logo terminou, seu celular começou a tocar.


- Jack.


- Oi, e a Ana Lucia.Tentei falar varias vezes com voce.


- Ana, obrigada pela ajuda com a policia.


- Que isso esse e o motivo pelo qual estou ligando. Meu amigo me colocou a par do caso e ele descobriu através do banco que o ex-marido da vitima não era quem dizia ser. Nem o mesmo o nome dele e verdadeiro. James e na verdade Sawyer. Um golpista escolado em limpar mulheres indefesas com varias passagens pela policia e acredite – ficha no FBI! Tudo indica que a sua paciente foi enganada por ele no intuito de tirar grana dela. Ela e rica?


- Não rica, mas tem um bom patrimônio suponho. E jornalista famosa.


Jack não podia acreditar no que Ana lhe dissera.


- Você tem certeza que isso tudo foi armação do ex-marido?


- Totalmente não, mas diria que 90%. Ainda tenho algumas coisas a investigar e mais importante encontrar o tal Sawyer que parece ter sumido do mapa. As únicas pistas que temos são as movimentações no banco. Assim que souber mais, te aviso.


- Ok, obrigado mais uma vez.


Após desligar o telefone, Jack voltou a olhar para Kate indefesa na cama. “Como alguém poderia fazer mal a ela? Que espécie de cara era esse tal de Sawyer? Um vigarista, um vagabundo!”

Jack estava irritado. Ele esperava sinceramente que a Ana encontrasse o safado caso contrario, ele iria tomar as suas providencias.

Seus pensamentos foram interrompidos por Juliet.


- Des disse que você estava me procurando?


- E, queria um favor...


- Diga!


- Voce pode ficar com ela alguns minutos? Preciso de um banho...


- Claro! Voce vai pra casa?


- Não vou usar o banheiro do conforto mesmo...qualquer problema ou reacao me chame.


Ela sorriu pra ele.


- Sem problema... e Jack...isso tambem vai passar...


Ele saiu.


FBI Headquarter Los Angeles



Ana Lucia já havia questionado todos os possiveis contatos de Sawyer no banco e ainda não tinha ficado satisfeita. Depois de muito insistir, conseguiu um mandato para quebra de sigilo bancario de Kate Austen e tambem permissao para vasculhar a rede interna do banco, qualquer pista seria crucial para encontrar esse cretino.


Com a ajuda de um expert do FBI em computadores e redes, finalmente foi possivel rastrear de onde viera a movimentacao na conta.

- Computador publico?....ok, e como procurar agulha no palheiro!


- Calma, Ana. Esqueceu que eu trabalho no FBI? Atraves do IP posso mapear com o gps qual a regiao da cidade onde o pc pode estar, me de algumas horas...


- Horas?!... ok, amanha cedo eu ligo pra voce. Preciso ir pra casa dispensar minha baba.

Paris

Sawyer e Cassidy estavam como pediram aos ceus.


Dinheiro facil, bebida a vontade, um excelente quarto de hotel. Nem se quer lembravam do que faziam nas ultimas 72 hs...

- Amor, eu sei que esta tudo lindo mas o que nos vamos fazer quando enjoarmos tudo isso?

- Enjoar? Cass baby, isso vai demorar ainda...

- Voce não pretende voltar ao Estados Unidos?

- Talvez... mas por hora prefiro me manter por aqui. Esse lance da Kate ainda deve estar muito recente por la.

- Voce nem mesmo procurou checar se correu tudo bem...

- E claro que foi perfeito ou voce acha que se algo tivesse saido errado estariamos aqui ainda? E chega de papo...

Ele jogou o corpo sobre ela e Cassidy resolveu esquecer, por hora.


CONTINUA...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Matt e Speed Racer


Para comecar bem e alegrar o fim de semana ...


Apreciem sem moderacao!!!







O que e bonito, ops! Lindo e pra se olhar, admirar, babar....




Beijocas =)

quinta-feira, 27 de março de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 2

Capitulo 2


"Estavas chorando?" perguntou Penny quando Kate entrou na varanda, trazendo a garrafa e a mensagem.


Com a confusão, tinha-se esquecido de jogar fora a garrafa.Kate sentiu-se embaraçada e limpou os olhos enquanto Penny pousava o jornal e se levantava da cadeira.


- Estás bem? Que aconteceu lá fora?


Kate abanou a cabeça.


- Não, nada disso. Acabei de encontrar esta carta e... não sei, depois de a ler não me contive.


- Uma carta? Que carta? Tens certeza que estás bem? - A mão de Penny gesticulava compulsivamente enquanto fazia as perguntas.


- Estou bem, sério. A carta estava numa garrafa. Encontrei-a na praia. Quando a abri e a li... - A sua voz sumiu-se, e o rosto de Penny aligeirou-se apenas um pouco.


- Oh... ainda bem. Por um instante pensei que tivesse acontecido alguma coisa horrível. Como se alguém te tivesse atacado ou coisa do género.


Kate afastou uma madeixa de cabelo que tinha sido atirada pelo vento para a cara e sorriu perante a preocupação dela.


- Não, foi só a carta que me impressionou verdadeiramente. É besteira, eu sei. Não devia ter sido tão sentimental. E desculpa ter te assustado.


- Oh, puu - disse Penny, não ligando.


- Disseste que a carta te fez chorar? Porquê? O que é que dizia?


Kate limpou os olhos, entregou-lhe a carta, e dirigiu-se para a mesa de ferro forjado onde Penny estivera sentada. Sentindo-se ainda um pouco ridícula por ter chorado, fez o possível para se compor.

Penny leu a carta devagar, e quando acabou, olhou para Kate. Os seus olhos também lacrimejavam. Afinal não era só ela.


- É... é bela - disse Penny por fim. - É uma das coisas mais comoventes que alguma vez li.


- Foi o que pensei.


- E encontraste-a na praia? Quando corria?


Kate acenou que sim com a cabeça.


- Não sei como é que ela pode ter dado à costa ali. A baía é abrigada do resto do oceano, e nunca ouvi falar em Wrightsville Beach.


- Também não sei, mas parece que foi lançada à praia ontem à noite. A principio quase que passava por ela, antes de ter reparado no que era.


Penny passou o dedo pelas letras e fez uma breve pausa.


- Gostaria de saber quem eles são. E porque estava selada dentro de uma garrafa?


- Não sei.


- Não sentes curiosidade?


A verdade era que Kate estava de fato curiosa. Logo depois de a ter lido, lera de novo, depois uma terceira vez. Como seria, meditou ela, ter alguém que a amasse daquela maneira?


- Um pouco. Mas e depois? Não há maneira de alguma vez virmos a saber.


- Que vais fazer com ela?


- Guardá-la, suponho. Na verdade ainda não pensei assim tanto no assunto.


- Hmmm - disse Penny com um sorriso indecifrável. Depois: - Como foi o teu jogging?


Kate deu um gole no copo que tinha enchido de suco.- Foi bom. O Sol estava muito bonito quando nasceu. Parecia que o mundo estava a arder.


- Então, qual é o programa para hoje?- Pensei em irmos fazer umas compras e almoçar na cidade.


- Era o que esperava que dissesses.


As duas mulheres conversaram sobre os lugares onde poderiam ir. Depois Penny levantou-se e foi buscar mais uma caneca de café e Kate observou-a a entrar.Penny tinha quarenta anos e seguramente a melhor pessoa que ela conhecia. Era entendida em música e arte, e no trabalho, as gravações de Mozart ou Beethoven irrompiam continuamente do seu escritório para o caos da redação. Vivia num mundo de otimismo e bom humor, e toda a gente que a conhecia a adorava.Quando Penny voltou para a mesa, sentou-se e olhou para a baía.


- Não é este o lugar mais bonito que alguma vez viste?


-Sim, é. Estou contente por teres me convidado.


- Estava precisando. Terias ficado completamente sozinha naquele teu apartamento.


- Parece a minha mãe.


- Vou considerar isso um elogio.


Penny estendeu a mão através da mesa e pegou de novo na carta. As suas sobrancelhas erguiam-se, enquanto lia atentamente a carta, mas optou por não dizer nada. Na opinião de Kate, parecia que a carta tinha despoletado algo na memória de Penny.


- O que foi?- Estava só pensando... - disse ela baixinho.


- No quê?- Bem, pensando se não poderíamos publicar isto na tua coluna esta semana.


- Do que estás falando? Penny debruçou-se sobre a mesa.


- Daquilo mesmo que disse. Deveríamos publicar a carta na tua coluna esta semana. Tenho a certeza de que outras pessoas adorariam lê-la. É de fato extraordinária. As pessoas precisam de ler algo como isto de vez em quando. E é tão comovente. Posso imaginar uma centena de mulheres a recortá-la e a colá-la nas suas agendas ou geladeiras para que os seus maridos possam vê-la quando chegam em casa do trabalho.


- Nós nem sequer sabemos quem eles são. Não achas que devíamos primeiro obter a sua autorização?


- Aí está o problema. Não podemos. Posso falar com o advogado no jornal, mas tenho a certeza de que é legal. Não usaremos os nomes verdadeiros, e desde que não atribuamos a autoria da carta a nós mesmos ou revelemos a sua possível origem, estou certa de que não haverá problemas.


- Eu sei que provavelmente é legal, mas não tenho a certeza se é correto. Quer dizer, é uma carta muito pessoal. Não deve ser divulgada para todo mundo ler.


- É uma história de interesse humano, Kate. As pessoas adoram esse tipo de coisas. Além disso, não há nada aí que possa ser embaraçoso para ninguém. É uma bela carta. E lembra-te, esse tal Jack enviou-a numa garrafa pelo oceano. Ele sabia que ela iria ser encontrada.


Kate abanou a cabeça.


- Não sei, Penny...- Bem, pensa no assunto. Pensa o dia todo se for preciso. Eu acho que é uma bela ideia.

Kate pensava efetivamente na carta enquanto se despia e se metia debaixo do chuveiro. Deu por si a interrogar-se sobre o homem que a tinha escrito - Jack, se esse fosse o seu nome verdadeiro.


E quem seria Sarah? A sua amante ou a sua mulher, obviamente, mas já não se encontrava perto dele. Estaria morta? ou teria acontecido outra coisa qualquer que os forçara a separarem-se? E porque fora ela selada numa garrafa e lançada ao sabor das correntes? Tudo aquilo era estranho.


Os seus instintos de jornalista tomaram então conta dela, e subitamente pensou que a mensagem poderia não significar nada. Podia ser alguém que queria escrever uma carta de amor mas não tinha ninguém a quem enviá-la.


Mas à medida que as palavras se desenrolavam novamente na sua cabeça, ela percebeu que essas possibilidades eram improváveis. A carta obviamente vinha do coração. E pensar que um homem a tinha escrito!


Em todos os seus anos de vida, nunca recebera uma carta que se aproximasse minimamente daquela. Sentimentos comoventes que lhe fossem parar à mão vinham sempre brasonados com logotipos do género dos cartões de parabéns da Hallmark.


James nunca fora um grande escritor, nem mais ninguém com quem ela tivesse namorado. Como seria um homem como este? perguntava-se a si mesma. Seria ele tão atencioso em pessoa como a carta parecia sugerir?Kate ensaboou e enxaguou o cabelo e à medida que a água fresca rolava pelo seu corpo abaixo, as perguntas iam dissipando-se na sua mente.


Olhou para si mesma ao espelho enquanto acabava de se enxugar com a toalha. Nada mal para uma mulher de trinta e seis anos com um filho adolescente, pensou para consigo. Os seus seios haviam sido sempre um tanto pequenos, e embora isso a tivesse preocupado quando era mais nova, estava contente agora por não terem começado a cair como os de outras mulheres da sua idade. O seu estômago era liso, e as pernas compridas e magras devido a todo o exercício ao longo dos anos. Tão pouco os pés-de-galinha à volta dos cantos dos olhos pareciam sobressair, embora isso não fizesse qualquer sentido.


De uma maneira geral, estava satisfeita com o seu aspecto naquela manhã, e atribuiu às férias essa aceitação invulgarmente fácil de si própria.Depois de aplicar um pouco de maquilagem, vestiu-se.


Lá fora na varanda, Penny tinha posto o cafe na mesa. Havia melão e toranjas, juntamente com doughnuts torrados. Depois de se sentar no seu lugar, espalhou um pouco de queijo-creme magro sobre os doughnuts - Penny estava de novo numa das suas intermináveis dietas - e as duas conversaram durante um bom bocado de tempo. Desmond tinha saído para jogar golfe, como faria todos os dias daquela semana. Desmond e Penny estavam juntos há vinte anos.


Namorados de faculdade, tinham casado no Verão depois da formatura, logo depois de Desmond ter aceito um emprego numa firma de contabilidade no centro de Chicago. Oito anos mais tarde Desmond tornou-se sócio e eles compraram uma casa espaçosa, onde tinham vivido sozinhos durante os últimos doze anos.Sempre quiseram ter filhos, mas depois de seis anos de casamento Penny ainda não conseguira engravidar. Ela não podia por isso sua relação sofrera alguns problemas, mas o sentimento de ambos permaneceu sólido, e Penny virou-se para o trabalho para preencher o vazio na sua vida.


Começou no Chicago Tribune quando as mulheres eram escassas e foi gradualmente subindo na escala da empresa. Quando se tornou diretora, dez anos atrás, começou a acolher mulheres jornalistas sob a sua asa. Kate fora a sua primeira estudante.


Depois de Penny se arrumava, Kate levantou-se e foi até ao telefone.


- Olá. É a Kate. O Kevin está por aí?


- Oh, olá. Claro que está. É só um segundo.


O telefone caiu tinindo sobre a mesa e Kate ouviu Ana chamá-lo:- Kevin, é para ti. A Kate está ao telefone.


O fato de não ter sido referida como mãe de Kevin magoou-a mais do que esperava, mas não teve tempo para pensar muito no assunto.Kevin estava sem fôlego quando chegou ao telefone.


- Olá, mãe. Tudo bem? Como estão as férias?


Ela sentiu uma pontada de solidão ao ouvir a sua voz. Ainda era aguda, de criança, mas ela sabia que era apenas uma questão de tempo antes de começar a mudar.


- É muito bonito, mas só cheguei ontem à noite. Ainda não fiz muita coisa a não ser correr esta manhã.


- Havia muita gente na praia?


- Não, mas vi algumas pessoas irem para lá quando estava voltando. Ei, quando é que partes com o teu pai?


- Daqui a dois dias. As férias dele só começam na segunda-feira, e é então que partimos. Queres falar com ele?


- Não, não é preciso. Estou telefonando para dizer que espero que te divirtas muito.


- Vai ser espetacular. Vi um folheto sobre a viagem no rio. Alguns dos rápidos parecem ser o máximo.


- Bem, tu tem cuidado.


- Mãe, já não sou nenhuma crianca .


- Eu sei. É só para tranquilizar a tua mãe antiquada.


- Está bem, eu prometo. Vou usar o meu colete salva-vidas o tempo todo. - Ele fez uma breve pausa. - Sabes, não vamos ter telefone, por isso não vamos poder falar até eu voltar.


- Já imaginava. Deve ser muito divertido, mesmo assim.


- Vai ser o máximo. Quem me dera que pudesses vir conosco. íamos divertir-nos bastante.


Ela fechou os olhos durante um momento antes de responder, um truque que o terapeuta lhe ensinara. Sempre que Kevin dizia algo sobre os três estarem de novo juntos, ela tentava certificar-se de que não diria nada de que pudesse arrepender-se mais tarde. Assim a sua voz soava tão otimista quanto lhe era possível.


- Tu e o teu pai precisam de algum tempo juntos. Eu sei que ele tem sentido muito a tua falta. Agora têm de pôr em dia muita coisa, ele anseia por esta viagem há tanto tempo quanto voce. Pronto, não fora assim tão difícil.


- Ele te disse isso?


- Sim. Várias vezes. Kevin ficou calado.


- Vou ter saudades tuas, mãe. Posso telefonar pra você?


- Claro. Podes telefonar-me em qualquer hora. Adoraria saber tudo sobre a viagem. Te amo, Kevin.


- Eu também, mãe.


Ela desligou o telefone, sentindo-se simultaneamente alegre e triste, como normalmente se sentia sempre que falavam ao telefone quando ele estava com o pai.


- Quem era? - disse Penny atrás dela.

- Era o Kevin.

- Ele está bem? - Ela abriu o armário e agarrou numa máquina fotográfica para completar o conjunto.

- Está . Parte dentro de dois dias.

- Muito bem, isso é bom. - Pendurou a máquina ao pescoço.

- E agora vamos as compras.


Fazer compras com Penny era uma experiência. Uma vez chegadas a Provincetown, passaram o resto da manhã e o princípio da tarde em várias lojas. Kate comprou três novos conjuntos de roupa antes de Penny a arrastar para um lugar chamado Nightingales, uma loja de lingerie.Penny ficou completamente entusiasmada lá dentro. Não por ela mesma, claro, mas por Kate.


A desinibição de Penny era das coisas que Kate mais gostava. Ela realmente não se importava com o que as outras pessoas pensassem, e Kate muitas vezes desejara poder ser como ela.Depois de aceitar duas das sugestões de Penny - afinal ela estava de férias -, as duas passaram alguns minutos na loja dos discos. Kate comprou um CD de jazz de uma das gravações mais antigas de John Coltrane.


Ao voltarem para casa, Desmond estava lendo o jornal na sala de estar.


- Olá. Estava ficando preocupado com vocês duas. Como foi o dia?


- Foi bom - respondeu Penny. - Almoçámos em Provincetown, depois fizemos algumas compras. Como correu o teu jogo hoje?


- Bastante bem. Se não tivesse falhado nos dois últimos buracos, teria conseguido um oitenta.


- Bem, vais simplesmente ter de treinar um pouco mais até conseguires jogar como deve ser.


Desmond riu-se.- Tu não te importas?


- Claro que não.


Desmond sorriu enquanto folheava ruidosamente o jornal, satisfeito por poder passar muito do seu tempo no campo de golfe durante aquela semana. Reconhecendo o sinal de que ele queria voltar à sua leitura, Penny sussurrou ao ouvido de Kate. "Aprende comigo. Deixa um homem jogar golfe e ele nunca se chateia com o quer que seja."

Kate deixou-os sozinhos durante o resto da tarde. Uma vez que o dia ainda estava quente, foi para a praia.Depois de uma hora ao sol, Kate percebeu que estava com calor e foi até à água. Arrastou-se mar adentro até a cintura e depois mergulhou quando uma pequena onda se aproximou. A água fresca fê-la arfar quando a sua cabeça emergiu à superfície, e um homem que se encontrava ao lado dela riu-se.


- Refrescante, não é? - disse ele, e ela concordou com um aceno de cabeça enquanto cruzava os braços.Ele era alto com cabelo escuro da mesma cor que o dela, e por um segundo ela interrogou-se se ele não estaria a paquera-la. Mas as crianças por perto depressa acabaram com essa ilusão com gritos de "Papá!" e depois de mais alguns minutos na água, ela saiu e voltou para a sua cadeira. A praia estava ficando vazia. Arrumou as suas coisas e iniciou o caminho de volta.


Em casa, Desmond estava vendo golfe na televisão e Penny lendo um romance com a imagem de um advogado jovem e bonito na capa. Penny levantou os olhos do livro.- Como estava a praia?


- Estava ótima. O sol estava maravilhoso, mas a água dá-te uma espécie de choque quando mergulhas.


- É sempre assim. Não vejo como as pessoas conseguem aguentar estar lá dentro durante mais que uns minutos.


Kate pendurou a toalha num varal perto da porta e falou por cima do ombro.- Como é o livro?


Penny virou o livro ao contrário nas suas mãos e olhou para a capa.


- Maravilhoso. Me lembrar o Desmond de alguns anos atrás.


Desmond resmungou sem tirar os olhos da televisão. - Hem?- Nada, querido. - Voltou a sua atenção de novo para Kate. Os seus olhos estavam a brilhar. - Queres jogar um pouco?


Penny adorava jogos de cartas de qualquer tipo. Pertencia a dois clubes de bridge, jogava como uma campeã, e mantinha um registro de todas as vezes que ganhava um jogo de paciência. Mas blackjack fora sempre o jogo que ela e Kate jogavam quando tinham tempo, porque era o único em que Kate tinha realmente alguma chance de ganhar.


- Claro. - Penny dobrou a página com alegria, pousou o livro, e levantou-se.


Kate começou a organizar as suas cartas.


- Conheceste alguém interessante?


- Na verdade, não. Apenas li e relaxei ao sol. Quase todos estavam lá com as suas famílias.


- Pena.


- Porque dizes isso?


- Bem, estava mais ou menos com esperanças de que conhecesses alguém especial esta semana. Estava com esperança de que encontrasses um homem para ti esta semana. Um que tirasse teu folego.


Kate levantou o olhar, surpresa.


- O que é que fez com que pensasses isso?


- O sol, o oceano, a brisa, não sei.


- Na verdade não tenho estado à procura, Penny.


- Nunca?


- Não muito, de qualquer maneira.


- Não passou assim tanto tempo desde o divórcio.


- Já passaram quase três anos. Não tens ninguém em vista que tenhas andado a esconder de mim?

- Não.


- Ninguém?Penny tirou uma carta do baralho e descartou um quatro de copas.


- Não. Mas não sou apenas eu, sabe? É difícil conhecer pessoas hoje em dia. Não tenho propriamente tempo para sair e conhecer pessoas.


- Eu sei isso, sei mesmo. É só que tens tanto para oferecer a alguém. Eu sei que existe alguém para ti em algum lugar.


- Tenho certeza de que existe. Simplesmente não o encontrei ainda.


- Procuras, pelo menos?- Quando posso. Mas a minha patroa é uma verdadeira chata, sabe. Não me dá um minuto de descanso. Piscou.


- Talvez devesse falar com ela.


- Talvez devesse - concordou Kate, e riram-se ambas. Penny tirou do baralho e descartou um sete de espadas.


- Não tens mesmo saído com ninguém?


- Não desde que o Mark Qualquer-coisa me disse que não queria uma mulher com filhos.


Penny franziu a testa durante um momento.


- às vezes os homens conseguem ser uns verdadeiros idiotas, e ele era um exemplo perfeito. É o tipo de homem cuja cabeça devia estar pendurada numa parede com uma placa a dizer "Macho Egocêntrico Típico". Mas eles não são todos assim. Há montes de verdadeiros homens por esse mundo fora - homens que se podiam apaixonar por ti num abrir e fechar de olhos.


- É por isso que gosto de ti, Penny. Dizes as coisas certas sempre.


Penny tirou uma carta do baralho.


- Mas é verdade. Acredita em mim. És uma mulher de sucesso, bonita, inteligente. Conseguiria encontrar uma dúzia de homens que adorariam sair contigo. Nem sequer dás uma oportunidade para que isso aconteça.


Kate encolheu os ombros.


- Talvez não. Mas isso não significa que vá morrer sozinha num lar qualquer para velhas solteiras mais tarde na vida. Acredita, adoraria apaixonar-me de novo. Adoraria conhecer um cara maravilhoso e viver feliz para sempre. Simplesmente não posso fazer disso uma prioridade neste momento. O Kevin e o trabalho já me ocupam o tempo todo.


Penny não respondeu durante um momento.


- Eu acho que tens medo.


- Medo?


- Não que haja algo de errado nisso.


- Porque dizes isso?


- Porque eu sei o quanto James te magoou, e sei que teria medo de que a mesma coisa voltasse a acontecer se fosse eu. É a natureza humana. Gato escaldado.... como diz o velho ditado. Há muita verdade nisso.


- Mas tenho a certeza de que se o homem certo aparecer, eu saberei. Tenho fé.


- Que tipo de homem procuras?


- Porque estás tão interessada?


- Oh, faz lá a vontade a uma velha amiga, está bem?


- Está bem. Nada de bando de motoqueiros, isso é certo - disse ela com um abano da cabeça. Pensou durante um momento. - Humm... acho que mais do que tudo, teria de ser o tipo de homem que seria fiel para comigo, ao longo de toda a nossa relação. Eu já tive o outro tipo de homem, e não aguento uma relação como aquela de novo. E penso que também gostaria de alguém da minha idade ou próximo, se possível.


Kate parou ali e franziu as sobrancelhas um pouco.


- E?


- Creio que ficaria pelos clichés habituais. Gostaria que ele fosse bonito, gentil, inteligente, e que tivesse charme, sabes, todas aquelas coisas boas que as mulheres querem num homem.


Fez novamente uma pausa. Penny revelava o seu prazer em colocar Kate contra a parede.


- E?- Teria de passar tempo com Kevin como se fosse o seu próprio filho - isso é mesmo importante para mim. Ah - e teria de ser romântico, também. Adoraria receber flores de vez em quando. E atlético, também. Não posso respeitar um homem se o puder ganhar no braço de ferro.


- É tudo?


- Sim, é tudo.


- Então, deixa-me ver queres um homem de trinta e tal anos, bonito, charmoso e fiel, que seja também inteligente, romântico e atlético. E tem de ser bom para o Kevin, certo?


- É isso mesmo.Ela respirou fundo enquanto colocava a sua mão sobre a mesa.


- Bati.


Depois de perder três vezes, Kate foi para dentro para começar a ler um dos livros que trouxera. Sentou-se no parapeito da janela na parte de trás da casa enquanto Penny voltou para o seu próprio livro.


Depois do pôr do Sol, os três foram dar um passeio de carro até Hyannis e jantaram no Sam's Crabhouse, um próspero restaurante que merecia a sua reputação. Estava cheio e tiveram de esperar uma hora por uma mesa, mas os caranguejos cozidos a vapor e a manteiga valiam a pena. A manteiga tinha sido condimentada com alho, e em duas horas beberam cerca de seis cervejas.


Lá para o fim do jantar, Desmond perguntou pela carta que tinha dado à praia.


- Li quando voltei do golfe. Penny tinha prendido na geladeira.


Penny encolheu os ombros e riu-se. Voltou-se para Kate com uma expressão nos olhos que dizia "Eu te disse" mas não disse nada.


- Encontrei quando corria. Desmond acabou a sua cerveja e continuou.


- Era uma carta e tanto. Parecia muito triste.


- Eu sei. Foi o que senti quando a li.


- Sabes onde fica Wrightsville Beach?


- Não. Nunca ouvi falar.- É na Carolina do Norte - disse Desmond enquanto metia a mão num bolso à procura de um cigarro.Kate perguntou:


- Onde na Carolina do Norte?

- Perto de Wilmington, ou efetivamente pode até ser mesmo uma parte de Wilmington, não tenho bem a certeza quanto às fronteiras. Se fores de carro, fica a cerca de hora e meia a norte de Myrtle Beach. já ouviste falar do filme Cape Fear?


- Já.- O rio Cape Fear é em Wilmington, e foi aí que os filmes foram rodados.


- Como é que nunca ouvi falar nela?


- Não sei. julgo que não atrai muita atenção por causa de Myrtle Beach, mas é popular lá no sul. As praias são muito bonitas - areia branca, água quente. É um ótimo local para se passar uma semana se alguma vez tiveres a oportunidade.Kate não respondeu, e Penny falou de novo com uma insinuação de malícia no seu tom de voz.


- Bem, agora já sabemos de onde é o nosso escritor misterioso.


Kate encolheu os ombros.- Suponho que sim, mas ainda não se pode ter a certeza absoluta.


- Realmente tens pensado bastante no assunto, não tens?


- Instintos. Aprende-se a segui-los, e estaria disposta a apostar em como Wrightsville Beach ou Wilmington é onde ele vive.


- E então? Já pensaste melhor sobre a publicação da carta?


- Na verdade não. Ainda não sei se é uma boa ideia.


- E que tal se não usarmos os nomes deles - apenas as iniciais? Podemos até mudar o nome de Wrightsville Beach, se quiseres.


- Porque é isto tão importante para ti?


- Porque sei reconhecer uma boa história. Mais do que isso, penso que seria importante para muita gente. Hoje em dia, as pessoas andam tão atarefadas que o romantismo parece estar lentamente a morrer. Esta carta mostra que ele ainda é possível.


Kate pegou distraidamente num fio de cabelo e começou a enrolá-lo. Um hábito desde a infância, era o que fazia sempre que estava a pensar em algo. Depois de um longo momento, respondeu finalmente.


- Está bem.


- Vais fazê-lo?


- Sim, mas como disseste, usaremos apenas as suas iniciais e omitiremos a parte sobre Wrightsville Beach. E escreverei algumas frases como introdução.


- Fico muito contente - exclamou Penny, com um entusiasmo de menina. - Eu sabia que o farias. Enviamo-la por email amanhã.


Mais tarde naquela noite, Kate escreveu o começo da coluna à mão numas folhas de papel que encontrou na gaveta da mesa no pequeno escritório. Quando terminou, foi para o seu quarto, colocou as duas páginas na prateleira à cabeceira da cama, depois deitou-se. Naquela noite dormiu irregularmente.
No dia seguinte, Kate e Penny foram até Chatham e pediram que a carta fosse digitada numa lan house. Nenhuma trouxera o seu notebook e Kate insistia para que uma parte da informação fosse excluída da coluna, parecia a coisa mais lógica a fazer. Quando a coluna ficou pronta, enviaram-na por email. Ia ser publicada na edição do dia seguinte.O resto da manhã e da tarde foi passado como no dia anterior fazendo compras, repousando na praia, conversas descontraídas, e um jantar delicioso. Quando o jornal chegou cedo na manhã seguinte, Kate foi a primeira a lê-lo. Acordou cedo, terminou a sua corrida antes de Penny e Desmond se levantarem e depois abriu o jornal e leu a coluna.

"Há quatro dias, quando estava de férias, escutava algumas velhas canções na rádio e ouvi o Sting a cantar Message in a Bottle. Estimulada pelo seu canto apaixonado, corri até à praia para encontrar uma garrafa só para mim. Passados poucos minutos encontrei uma, e claro está, tinha uma mensagem lá dentro. (Na verdade, não ouvi a canção primeiro: inventei isso como efeito dramático. Mas encontrei realmente uma garrafa numa destas manhãs com uma mensagem profundamente comovente lá dentro.) Não tenho conseguido deixar de pensar nela, e apesar de não se tratar de um assunto sobre o qual eu normalmente escreveria, numa época em que o amor e o compromisso duradouros parecem estar tão pouco disponíveis, esperei que a achassem tão importante como eu a achei."


O resto da coluna era dedicada à carta. Quando Penny se juntou a Kate para o lanche, leu também de imediato a coluna antes de olhar para qualquer outra.


- Maravilhoso - disse ela quando acabou. - Vais receber muita correspondência por causa desta coluna.


- Achas que sim?


- Tenho certeza absoluta.


- Mais até do que o costume?


- Toneladas a mais. Sinto-o.


- Veremos - disse Kate enquanto comia um doughnut, não sabendo ao certo se deveria acreditar ou não em Penny, mas mesmo assim curiosa.


CONTINUA...

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 3

Capitulo 3



No sábado, oito dias depois de ter chegado, Kate regressou a Chicago.

Abriu a porta do seu apartamento. Era bom estar em casa. Depois de desfazer as malas e de ir buscar as chaves e o correio na casa de Ella, serviu-se de um copo de vinho, foi até à aparelhagem, e pôs a tocar o CD de John Coltrane que tinha comprado.


Enquanto o som do jazz se infiltrava pela sala, passou em revista o correio. Como de costume, eram principalmente contas, e colocou-as de lado para outra ocasião.Havia oito mensagens na secretaria quando verificou. Duas eram de homens com quem ela saíra no passado, pedindo-lhe para telefonar se tivesse uma oportunidade. Pensou no assunto rapidamente, depois decidiu-se pela negativa. Nenhum deles a atraía, e não lhe apetecia sair só porque tinha uma vaga no seu programa. Também tinha recebido telefonemas da mãe e da irmã, e tomou nota para lhes telefonar durante aquela semana. Não havia telefonemas de Kevin. Naquela altura ele já estava a descer o rio de balsa e a acampar com o pai no Arizona.


Sem Kevin, a casa parecia estranhamente silenciosa. Porém estava arrumada e isso de alguma maneira tornava as coisas mais fáceis. Era bom regressar a uma casa e ter apenas de limpar aquilo que ela sujava de vez em quando.Pensou nas duas semanas de férias que ainda lhe restavam naquele ano. Ela e Kevin iriam passar algum tempo na praia porque ela prometera-lhe que o fariam. Mas isso ainda deixava outra semana bem depois pensaria nisso.


Meteu-se na cama e pegou num dos romances que começara a ler em Cape Cod. Leu depressa e sem distração e terminou quase uma centena de páginas, antes de estar cansada. à meia-noite apagou a luz.


Naquela noite, sonhou que estava a andar ao longo de uma praia deserta, embora não soubesse porquê.


Na segunda-feira de manhã, a quantidade de correio na sua mesa era impressionante, Havia quase duzentas cartas quando lá chegou, e outras cinquenta chegaram mais tarde naquele dia com o porteiro.

Mal ela entrou no escritório, Penny apontou orgulhosamente para a pilha. "Eu te disse!", sorrira ela.

Kate pediu para que as suas chamadas fossem suspensas, e começou logo a abrir o correio. Sem exceção, eram reações à carta que publicara na sua coluna. A maior parte era de mulheres, embora alguns homens também tivessem escrito, e a sua uniformidade de opiniões surpreendeu-a.

Uma a uma, leu como elas tinham ficado comovidas com a carta anonima. Muitas perguntavam se ela sabia quem era o autor, e algumas sugeriam que se o homem fosse solteiro, elas queriam casar com ele.Descobriu que quase todas as edições de domingo pelo país fora tinham publicado a coluna, e as cartas vinham de tão longe quanto Los Angeles.

Seis homens afirmavam ter sido eles a escrever a carta, e quatro deles reclamavam direitos de autor - um até ameaçava com uma ação judicial. Mas quando ela examinava as diferentes caligrafias, nenhuma delas se assemelhava, ainda que remotamente, à caligrafia da carta.


Ao meio-dia foi almoçar no seu restaurante japonês preferido, e algumas pessoas que estavam almoçando diziam que também tinham lido a coluna. "A minha mulher colou-a na geladeira", disse um homem, o que fez com que Kate risse em voz alta.


Ao fim do dia já tinha verificado a maior parte da pilha, e estava por isso cansada. Não tinha ainda sequer trabalhado na sua próxima cronica, e sentiu a pressão a crescer atrás do pescoço, como normalmente acontecia quando se aproximava o prazo de entrega.


As cinco e meia começou a trabalhar numa crónica relacionada com o fato de Kevin estar fora de casa e com a maneira como ela encarava o fato. Estava indo melhor do que esperava e tinha quase terminado quando tocou o telefone.Era a recepcionista do jornal.


- Olá, Kate. Sei que me pediste para suspender as tuas chamadas, e tenho-o feito - começou ela.


- Não foi fácil. A propósito, recebeste cerca de sessenta telefonemas hoje. O telefone não tem parado de tocar.


- Então o que se passa?


- Há uma mulher que não pára de telefonar. Esta é a quinta vez que liga hoje, e telefonou duas vezes na semana passada. Recusa-se a dar o nome, mas já reconheço a voz. Diz que tem que falar contigo.


- Não podes simplesmente ficar com uma mensagem?


- Tentei, mas ela é persistente. Pede sempre para que a deixe ficar em linha até teres um minuto. Diz que é uma chamada interurbana, mas que tem de falar contigo.


Kate pensou durante um momento. A sua coluna estava quase pronta - só mais uns parágrafos para terminar.


- Não podes pedir um número de telefone onde eu possa contactá-la?


- Não, também não quer me dar isso. É muito evasiva.


- Sabes o que ela quer?


- Não tenho qualquer ideia. Mas ela parece coerente. Não como muita gente que tem telefonado hoje. Um cara pediu-me para casar com ele.


Kate riu-se.


- Está bem, diz-lhe para aguardar. Atenderei dentro de dois minutos.


- Está bem.


- Em que linha é que ela está?


- Cinco.


- Obrigada.


Kate acabou a cronica depressa. Iria revê-la outra vez logo que se despachasse do telefonema. Pegou o telefone e carregou na linha cinco.


- Alo?


A linha permaneceu silenciosa por um momento. Depois, numa voz suave e melódica, a pessoa no outro lado perguntou:


- Kate Austen?


- Sim, ela mesma. - Kate recostou-se na cadeira e começou a enrolar o cabelo.


- Foi a senhora que escreveu a coluna sobre a mensagem na garrafa?


- Sim. Em que posso ajudá-la?


A mulher fez uma nova pausa. Kate conseguia ouvi-la respirar, como se ela estivesse a pensar sobre o que dizer a seguir. Depois de um instante, ela perguntou:


- Pode dizer-me os nomes que estavam na carta?


Kate fechou os olhos e parou de enrolar o cabelo. Apenas outra caçadora de curiosidades, pensou. Os seus olhos voltaram-se para o notebook e começou a rever a crónica.


- Não, lamento, não posso. Não quero que essa informação seja tornada pública.


A mulher ficou de novo em silêncio, e Kate começou a ficar impaciente. Começou a ler o primeiro parágrafo. Depois a mulher surpreendeu-a.


- Por favor - disse ela. - Eu tenho de saber.


Kate levantou o olhar da tela. Podia ouvir uma sinceridade absoluta na voz da mulher. Havia outra coisa também, mas não conseguia identificá-la.


- Lamento - disse Kate finalmente. - Não posso mesmo.


- Então pode responder uma pergunta?- Talvez.


- A carta é endereçada a Sarah e assinada por um homem chamado Jack?


A mulher tinha toda a atenção de Kate e ela sentou-se mais direita na cadeira.


- Quem fala? - perguntou com uma urgência repentina, e logo após as palavras terem saído, ela soube que a mulher saberia a verdade.


- É, não é?


- Quem fala? - perguntou Kate de novo, desta vez mais gentilmente. Ouviu a mulher respirar fundo antes de responder.


- Me chamo Michelle Turner e vivo em Norfolk, Virgínia.


- Como sabia da carta?


- O meu marido está na marinha e foi colocado aqui. Há três anos, estava passeando ao longo da praia, e encontrei uma carta exatamente igual àquela que encontrou nas suas férias. Depois de ler a sua coluna, eu sabia que tinha sido a mesma pessoa que a escrevera. As iniciais eram as mesmas.


Kate parou durante um momento. "Não podia ser, pensou ela. Há três anos?"


- Em que tipo de papel estava escrita?


- O papel era bege, e tinha uma imagem de um barco à vela no canto superior direito.


Kate sentiu o coração acelerar. Ainda parecia inacreditável.


- A sua carta tinha uma imagem de um barco também, não tinha?


- Sim, tinha - murmurou Kate.


- Eu sabia. Soube logo que li a sua coluna. - Michelle soava como se um peso lhe tivesse sido retirado dos ombros.


- Ainda tem uma cópia da carta? - perguntou Kate.


- Tenho. O meu marido nunca a viu, mas eu a pego de vez em quando só para lê-la de novo. É um pouco diferente da carta que copiou na sua coluna, mas os sentimentos são os mesmos.


- Pode enviar-me uma cópia por fax?- Claro que sim - disse ela antes de fazer uma pausa.


- É espantoso, não é? Quer dizer, primeiro eu a encontrá-la há tanto tempo, e agora você a encontrar outra.


- Sim - murmurou Kate -, é mesmo.


Depois de dar o número do fax a Michelle, Kate mal podia rever a sua crónica. Michelle tinha de ir a uma loja de cópias para enviar a carta por fax, e Kate deu por si a andar da sua mesa até à máquina do fax todos os cinco minutos enquanto esperava que a carta chegasse.


Quarenta e seis minutos mais tarde ouviu a máquina do fax dar sinal de vida. A primeira página a sair era uma nota do Serviço Nacional de Cópias, endereçada a Kate Austen do Chicago Times.Observou-a cair para o tabuleiro debaixo e escutou o som da máquina do fax à medida que esta copiava a carta linha por linha. Funcionava com rapidez - levava apenas dez segundos para copiar uma página - mas mesmo essa espera parecia muito longa. Depois uma terceira página começou a ser impressa, e ela percebeu que, tal como a carta que ela encontrara, esta também devia ter ambos os lados preenchidos.Estendeu as mãos para pegar nas cópias quando a máquina de fax começou a apitar, sinalizando o fim da transmissão.


Levou-as para a sua mesa sem as ler e colocou-as de face para baixo durante alguns minutos, tentando acalmar a sua respiração. "É apenas uma carta", disse ela para consigo mesma.


Respirando fundo, levantou a primeira página. Um relance rápido ao logotipo do barco comprovou-lhe que era de fato o mesmo autor. Colocou a página sob uma luz melhor e começou a ler.

6 de Março de 2001


Dear Sarah,


Onde estás tu? E porque razão,interrogo-me sentado sozinho numa casa escurecida, fomos forçados a separar-nos?

Não conheço as respostas para estas perguntas, por mais que me esforce por compreender. A razão é evidente, mas a minha mente obriga-me a rejeitá-la e sou atormentado pela ansiedade durante todas as minhas horas de vigília. Sinto-me perdido sem ti. Sinto-me sem alma, um vagabundo sem casa, um pássaro solitário em voo para lado nenhum.

Sinto todas essas coisas, e não sou absolutamente nada. Esta, meu amor, é a minha vida sem ti. Anseio para que tu me mostres como viver de novo.Tento lembrar-me de como éramos em tempos, no convés ventoso do Happenstance. Lembras-te como trabalhamos nele juntos? Tornámo-nos numa parte do oceano enquanto o reconstruíamos, porque ambos sabíamos que tinha sido o oceano que nos havia juntado.

Era em momentos como esses que eu compreendia o sentido da verdadeira felicidade. à noite, velejávamos sobre a água enegrecida e eu contemplava o luar refletindo a tua beleza.

Olhava para ti com espanto e sabia no meu coração que estaríamos juntos para sempre. É sempre assim, pergunto-me, quando duas pessoas estão apaixonadas?

Não sei, mas se a minha vida desde que te tiraram de mim e vazia.

A partir de agora, sei que estarei sozinho.Penso em ti, sonho contigo, invoco-te quando mais preciso de ti.

É tudo o que posso fazer, mas para mim não é o suficiente. Nunca será o suficiente, eu sei isso, mas que mais me resta fazer? Se aqui estivesses, dirias-me, mas até disso me roubaram.

Tu sabias sempre as palavras certas para apaziguar a dor que sentia. Tu sempre soubeste como fazer para que eu me sentisse bem por dentro.É possível que saibas como eu me sinto sem ti? Quando sonho, gosto de pensar que sim. Antes de nos termos encontrado, atravessava a vida sem sentido, sem razão. Sei que de alguma maneira, todos os passos que dei desde o momento em que comecei a andar eram passos dirigidos ao teu encontro.

Estávamos destinados a nos encontrar.Mas agora, sozinho na minha casa, comecei a perceber que o destino pode magoar uma pessoa tanto quanto a pode abençoar, e dou por mim a perguntar porque razão - de todas as pessoas do mundo inteiro que alguma vez poderia ter amado - tinha de me apaixonar por alguém que foi levada para longe.

Jack

Depois de ler a carta, recostou-se na cadeira e levou os dedos aos lábios. Os ruídos da sala da redação pareciam vir de um lugar muito distante. Procurou a sua mala, encontrou a carta inicial, e colocou as duas lado a lado em cima da mesa.


Leu a primeira carta, depois a outra, depois leu-as de trás para a frente, sentindo-se quase como um voyeur, como se estivesse a espiar um momento privado e cheio de segredos.


Levantou-se da mesa, sentindo-se estranhamente confusa. Esperando clarear a mente, começou distraidamente a arrumar a confusão da sua mesa. Quando terminou, nada estava fora do seu lugar exceto as duas cartas, nas quais não tinha sequer tocado.


Há pouco mais de uma semana ela encontrara a primeira, e as palavras tinham deixado uma impressão profunda, embora a pessoa pragmática dentro de si a forçasse a tentar esquecê-las. Mas agora isso parecia impossível. Não depois de encontrar uma segunda carta, escrita presumivelmente pela mesma pessoa.


Haveria mais? E que tipo de homem as enviaria em garrafas? Parecia um milagre que outra pessoa, três anos antes, tivesse encontrado uma carta e a tivesse guardado escondida na sua gaveta porque também ficara comovida. No entanto isso tinha acontecido.


Mas o que significava tudo aquilo? Sabia que o assunto não deveria realmente ter muita importância para ela, mas de repente passou a ter.


Passou a mão pelo cabelo e olhou em volta da sala. Por todo o lado as pessoas estavam em movimento. Não tinha ainda bem a certeza, e o seu único desejo era que ninguém se dirigisse à sua mesa nos minutos seguintes, até ela ter uma ideia melhor sobre o que estava acontecendo. Voltou a meter as duas cartas na mala, enquanto a frase de abertura da segunda carta se sucedia na sua cabeça.


Onde estás tu?


Saiu do programa de computador onde costumava escrever a sua coluna, e apesar das dúvidas, escolheu o programa que lhe dava acesso à Internet.Depois de um momento de hesitação, escreveu as palavras WRIGHTSVILLE BEACH no programa de busca e deu enter.

Sabia que alguma coisa iria encontrar, e em menos de cinco segundos ela tinha uma série de tópicos diferentes por onde escolher.


Foram encontrados 3 registros com Wrightsville Beach.


Categorias - Sites - Páginas da Web
Categorias
Regional: E.U. América: Carolina do Norte: Cidades: Wrightsville Beach
Sites
Regional: E.U. América: Carolina do Norte: Cidades: Wilmington: Imobiliárias- Imobiliária Ticar - escritórios também em Wrightsville Beach e Carolina BeachRegional: E.U. América: Carolina do Norte: Cidades: Wrightsville Beach: Alojamentos- Estância de Veraneio Cascade Beach

Enquanto fitava o monitor, sentiu-se subitamente ridícula. Mesmo que Penny tivesse razão e Jack vivesse na zona de Wrightsville Beach, mesmo assim seria quase impossível localizá-lo.


Por que razão, então, estava ela a tentar fazê-lo?


Ela sabia a razão, claro. As cartas foram escritas por um homem que amou profundamente uma mulher, um homem que estava agora sozinho. Quando menina, ela aprendera a acreditar no homem ideal - o príncipe ou cavaleiro das suas histórias de infância. No mundo real, porém, homens como aqueles simplesmente não existiam. Pessoas reais tinham programas de vida reais, exigências reais, expectativas reais acerca de como as outras pessoas devem se comportar.


Era verdade, havia homens bons por esse mundo fora- homens que amavam com todo o coração e que permaneciam firmes face a grandes obstáculos - o tipo de homem que ela quisera conhecer desde que se divorciara de James. Mas como encontrar tal homem?


Ali e naquele momento, ela sabia que tal homem existia - um homem que estava agora sozinho - e saber isso fez com que qualquer coisa dentro dela se apertasse. Parecia óbvio que Sarah - quem quer que ela fosse - estava provavelmente morta, ou pelo menos desaparecida sem uma explicação.


No entanto, Jack ainda a amava o suficiente para lhe enviar cartas de amor durante pelo menos três anos. Jack procurava assim ser capaz de amar alguém profundamente e de, mais importante do que isso, permanecer totalmente comprometido - mesmo muito depois de a sua pessoa amada ter desaparecido.


Onde estas tu? Tinia-lhe repetidamente através da cabeça, como uma canção que ela tivesse ouvido na rádio de manhã cedo e que estivesse continuamente a repetir-se pela tarde inteira.


Onde estás tu? Ela não sabia ao certo, mas ele existia, e uma das coisas que aprendera cedo na vida era que se descobríssemos algo que nos fazia apertar o peito, o melhor era tentarmos conhecer mais sobre o assunto. Se ignorássemos simplesmente o sentimento, nunca saberiamos o que poderia ter acontecido, e de certa maneira isso era pior do que descobrir que estávamos errados desde o início. Porque se estivéssemos errados, podíamos, seguir em frente com as nossas vidas sem nunca olhar para trás e perguntarmo-nos sobre o que poderia ter sido.


Mas até onde poderia isto tudo levar? E qual era o seu significado? Fora a descoberta da carta de alguma maneira predeterminada, ou seria apenas uma coincidência?


Mas ela estava curiosa sobre o escritor misterioso, e não fazia sentido negar isso - pelo menos a ela própria. E porque mais ninguém compreenderia (como poderiam eles compreender, se ela própria não compreendia?), resolveu naquele instante não contar a ninguém o que estava sentindo.


Onde estás tu? Lá bem no fundo ela sabia que as buscas no computador e a sua fascinação por Jack não iriam levar a nada. Aos poucos transformariam-se numa espécie de história ridícula para contar e recontar vezes sem conta.


Ela seguiria em frente com a sua vida - escrevendo a sua coluna, passando o tempo com Kevin, fazendo todas as coisas que uma mãe solteira tinha de fazer.E estava quase certa. A sua vida teria continuado exatamente como ela a imaginara.


Mas algo aconteceu três dias mais tarde que fez com que ela se atirasse ao desconhecido só com uma mala cheia de roupa e uma pilha de papéis que poderiam, ou não, ter significado alguma coisa.


Kate descobriu uma terceira carta de Jack.





CONTINUA...

terça-feira, 25 de março de 2008

INCANCELLABILE - Cap 12 Parte 1

Kevin e Justin estavam atrasados. Nem sabiam porque Kate não ligara.

Quando chegaram finalmente, Justin notou a porta aberta.

- Estranho... porque estaria aberta? Kate!

Nada. Eles entraram.

- Kate! Chegamos.

Kevin que segurava a sobremesa decidiu ir a cozinha.

- Oh, meu deus!

Largou a sobremesa sobre o balcão e ficou estático.

- O que foi... mas não precisou completar a frase. No chão coberto de cacos de vidro e respingado de sangue, Kate permanecia desacordada coberta de sangue. Justin pegou o celular e discou 911.

- Emergência.

- Por favor preciso de uma ambulância urgente na North Canon drive numero 42 o mais rápido possível. Acredito ter havido um assalto e a dona da casa esta ferida e inconsciente.

Após desligar o telefone, Justin debruçou-se sobre a amiga para checar se ela ainda respirava. Ele sabia que pela quantidade de sangue se ela não fosse socorrida logo poderia morrer.

Cinco minutos depois, os paramedicos entravam com uma maca na casa de Kate guiados por Kevin altamente tenso. Kate já estava na ambulância recebendo os primeiros cuidados quando Justin se ofereceu para ir com eles.


Porem , os paramedicos acharam melhor não porque realmente precisavam de espaço pois a situação dela não era nada boa.


- Para onde vão leva-la?


- San Sebastian.


As portas foram fechadas e a ambulância partiu rapidamente. Os dois correram para o carro a fim de estarem no hospital o mais breve possível.



San Sebastian





O plantão da noite não estava sendo nada agradável para Jack.

Aparentemente, as pessoas tinham escolhido a noite para aprontarem. Duas ambulâncias já haviam trazido duas vitimas de acidente de carro gravíssimas, uma já estava na cirurgia e outra infelizmente não resistira.


Alem disso, ele teve que operar as pressas um rapaz que levara um tiro na perna esquerda e por sorte não teve que amputa-la. Durante as 5 horas em que estava de plantao, nao tinha conseguido sentar no seu escritorio nem por cinco minutos. Da ultima vez que tentou, foi chamaso com urgencia para outra emergencia deixando o celular sobre a mesa.


Enquanto atendia mais um ferido, o celular vibrava sobre a mesa insistentemente ate cair na caixa postal.


Ele havia acabado de fazer um trabalho de ressuscitacao quando seu bip tocou novamente sinalizando outra emergência. Quase correndo dirigiu-se a porta do pronto-socorro.


Ele já podia avistar a vitima na maca puxada pelos paramedicos. Ele se pos ao lado deles ajudando a levar a maca ate uma sala de trauma.

- O que temos aqui?

- Mulher, 27 anos vitima de assalto. Ferimento na coxa direita causado por vidro, o sangramento superficial já foi estancado e ferimento a bala na altura do ombro esquerdo. Inconsciente, pulso 82, pressão 9 por 5, perdeu muito sangue.


Jack levantou o olhar para examinar o ferimento a bala e seus olhos não podiam acreditar no que ele via. Ele tocou o rosto pálido.


- Kate... oh, deus! Rápido! Eu preciso de unidades de sangue O negativo, vamos entrar em cirurgia. Bipem o Dr. Hume.


Jack rasgava a roupa dela freneticamente. Cada segundo era precioso.

- Kate você pode me ouvir? Fale comigo, it's me, Jack...de Vegas...por favor reaja!

Ele preparava-se para opera-la. Estava nervoso.

Uma enfermeira entrou na sala trazendo duas bolsas de sangue e injetou na veia de Kate.

Jack preparava-se para corta-la.

Ao chegar perto para fazer a incisão viu que sua mão tremia, o medo queria domina-lo. Ele olhou para o rosto dela procurando um sinal de permissão, algo que o tranqüilizasse, que dissesse que tudo ficaria bem.

Ele suspirou.


- 1...2....3...4...5.... fechou os olhos.


Tornou a abri-los retomando então a coragem e o equilíbrio, ele fez a incisão. Com a ajuda de um interno, ele dedicava-se a retirar a bala que ficara alojada entre o músculo e o nervo motor do braço esquerdo.

Desmond entrou na sala.

- O que temos?

- Ferimento a bala, estou tentando retira-la para estabilizar a paciente e ...

Um bip continuo soou pela sala. A enfermeira alertou:

- Pressão caindo, batimentos a 50...

- Ela esta tendo uma parada cardíaca! Código azul! Jack gritara.

Desmond correu com o carrinho do desfibrilador.

- Carregue para 200. Afastem-se!

Ele pressionou o aparelho sobre o corpo da Kate. O corpo dela não respondeu.

- 300! Afastem-se!

Novamente ele não obteve sucesso. Jack começava a desesperar-se.

- Afaste-se Des.

E começou a fazer massagem cardíaca nela.

- Por favor! Reaja! Um, dois, três... vamos, Kate!

Ele pegou o desfibrilador da mão de Desmond e carregou para 300 novamente.


- Injete 100ml de adrenalina. Afastem-se!

Ele aplicou o choque sem sucesso. Carregou de novo.

- Kate, não faz isso comigo... por favor....

E aplicou o choque.
Bip, bip, bip...


- Pressão subindo, batimentos 70 e subindo...

Jack respirava aliviado.

Ao olhar para o amigo, Desmond percebeu as lagrimas no rosto.

Jack voltou a segurar o bisturi. Já ia retornar a operação de retirada da bala quando Desmond o impediu.

- Espere Jack.

Examinou rapidamente o ferimento e fez uma cara feia.

- Precisamos retirar essa bala com muito cuidado, o modo como ela se alojou pode causar danos aos nervos motores.

- Eu sei, era o que tentava fazer...

- Você tem certeza que pode fazer isso?

- Sim.

- Ok! Então retire a bala e religue os nervos que se romperam. Enquanto isso, vou costurar a coxa dela.


Assim, Jack se concentrou na minuciosa cirurgia e Desmond examinava o ferimento da coxa. Estava feio. Os paramedicos apenas haviam limpado superficialmente mas na verdade, o ferimento era profundo e ele ainda podia perceber pedaços pequenos de vidro. Removeu-os com cuidado procurando não dispersar a atenção de Jack naquele momento. Costurou.


Voltou-se então para o amigo que já havia retirado a bala e estava agora religando os nervos.


Jack sabia que caso errasse alguma ligação teriam que fazer uma cirurgia cerebral, e isso seria a ultima coisa que ele queria.


Passadas três horas, ele finalmente conseguira fechar o local. Outra bolsa de sangue foi trocada.


Ela continuava inconsciente e muito fraca. Deveria permanecer na UTI. Desmond podia ver a fisionomia tensa do amigo.


- Ela tem parentes esperando?

- Não sei... Jack pensou "isso não importa agora, ela tem a mim."

- Vamos ver se alguém precisa de noticias. E puxou o amigo pelo braço.

Na sala de espera, Justin andava de um lado a outro nervoso. Kevin estava sentado no sofá.

- Será que da pra parar de encerrar o chão? Você esta me deixando mais tenso.

Kevin viu dois atendentes se aproximarem.

- Dr, tem noticias da Kate? Ela chegou aqui de ambulância e...

- São amigos dela ou parentes? Desmond perguntou.

- Amigos, encontramos ela nesse estado. Como ela esta?

- Foi operada, retiramos a bala mas a situação dela ainda e grave. Vocês contataram a família?

- Os pais da Kate estão fora do pais, num cruzeiro. Ela e filha única. Podemos fazer alguma coisa?

- Por hora não. Acredito que o melhor e vocês voltarem pra casa e descansar. Amanha, podem voltar e trazer roupas limpas para ela. Não posso nem garantir se ela acordara amanha. Esta ainda em observação.

Os dois se olharam pensativos. Jack estava de cabeça baixa a uma certa distancia. Justin o reconheceu.

- Jack? Hey, foi você que operou a Kate? Nossa esquecemos completamente que você trabalha no San Sebastian.

Jack não estava muito a fim de falar mas não podia deixar de cumprimentar o casal de gays que morava no mesmo prédio que ele. Alem do mais se não fossem eles talvez ela estivesse morta agora.

- Sim, eu operei. Vocês a conhecem?

- Claro! Trabalho com ela.

Somente então Jack notara que o rosto de Justin era familiar não apenas porque moravam no mesmo prédio, ele trabalhava com ela no jornal. Mundo pequeno.

- Acredito que o Dr. Hume tem razão. Vocês não tem muito o que fazer aqui nesse momento. Vocês avisaram o marido dela?

- Kate esta separada. O ex-marido esta em Nova York trabalhando.

- Nesse caso, amanha vocês poderão fazer o procedimento de entrada dela nesse hospital porque ela ainda ficara alguns dias internada. Podemos segurar ate amanha certo, Jack?

Jack não podia acreditar no que ouvia. Separada? Isso era realmente uma boa noticia no meio desse caos.

- Jack? Desmond chamava.

- Ah, sim. Com licença – disse Jack – tenho pacientes para ver.

- Tudo bem, obrigada! Vamos Kevin? E os dois deixaram o hospital.

Jack rumou para a área da UTI, não estava conseguindo segurar a emoção.

Toda essa loucura, o assalto, o reencontro, a situação de risco, a noticia da separação. Era demais para ele. Quando aproximou-se da cama onde ela estava, o simples fato de vê-la ali tão indefesa fora o suficiente para liberar as lagrimas que ate aquele instante lutava por esconder.

O choro era incontrolável.

Ele segurava firme a mão dela e apoiou a cabeça no estomago dela.

Desmond que o seguira observava de longe, ainda sem entender o porque do sofrimento do amigo. Sabia que essa era uma das características de Jack, envolver-se demais com os pacientes a ponto de varias vezes se culpar quando algo saia errado.

Ele aproximou-se da cama e colocou a mão sobre o ombro do amigo.

- Jack... acalme-se. O caso e grave ainda não sabemos como ela ira reagir nem se podem haver seqüelas. Não se culpe, brotha. Você nem a conhece.

Jack levantou o rosto, percebia-se que a superfície da roupa onde ele encostara formara uma poça d’agua por causa das lagrimas. Ele olhou serio para Desmond, os olhos inchados.

- Des, essa e a Kate.

- O que? A garota de Vegas?

- A minha Kate. Ela e real.

- Meu Deus! Jack... você não esta bem... não esta em condições de ficar aqui.

- Você não vai me tirar daqui. Eu não sairei do lado dela.

- Jack, por favor você tem que me ouvir...

- Não! Gritou.

- Você me ouve : se realmente e meu amigo e quer me ver feliz, você vai me ajudar a cura-la. Você fará tudo que estiver ao seu alcance!

- Jack você sabe que isso não depende somente de mim... depende dela também.

- Des, você não e o meu neuro-cirurgiao por nada, ela vai reagir e seu papel aqui e garantir que ela fique 100% curada entendeu?


Desmond olhou para o amigo e viu naqueles olhos algo que raramente enxergara em Jack Shepard, ele estava com medo e vulnerável.

Ali a sua frente, ele não era o grande medico, ele era apenas um homem e porque não dizer um apaixonado?

- Ok, Jack. Vou fazer tudo que puder.

Ele pegou o prontuário de Kate para examinar. Após alguns minutos, ele acabou percebendo algo.

- Jack...acho que devemos fazer uma tomografia. Precisamos saber se a cirurgia foi suficiente para que os ligamentos tenham suas funções motoras corretas. Sei que ela esta muito fraca mas quanto antes soubermos melhor. O fato dela não acordar também me preocupa.

- Você não acha arriscado? Esta tao fraca. Jack olhou pra ela com um olhar triste.

- Arriscado sim mas as conseqüências podem ser piores.

Ele suspirou e passou a mao pela cabeca.

- Você esta certo, me da um tempo pra eu prepara-la.

- Deixe a enfermeira fazer isso, ou um interno...

- Não. Desmond resolveu não insistir e saiu da sala.

Sozinho com Kate, Jack aproveitou para admira-la.

Mesmo com todo o sofrimento, o semblante pálido, ela ainda era a mulher mais linda que ele conhecia. Acariciou o rosto com a mão e beijou-a suavemente na testa. Verificou o soro e os sinais vitais monitorando pressão e batimentos cardíacos.

Apesar de fraca, ela respirava sem a ajuda de aparelhos. Após checar cada detalhe pelo menos umas três vezes, resolveu chamar um interno para acompanha-lo ate a sala de exames.

Antes de se separar dela sussurrou: - Por favor, seja forte Kate. Eu estarei aqui como prometi.

Através do telefone, acionou o interno e em menos de cinco minutos saiu da sala com ela.


Tomografia


Jack estava apreensivo ao lado de Desmond esperando as imagens aparecerem no monitor.

Assim que receberam a primeira fotografia do cérebro, os dois se debruçaram sobre a mesa a procura de qualquer indicio de problema. Outras imagens foram sendo adicionadas e o que Desmond previa acabou por se confirmar.

- Jack, você esta vendo essa área aqui? Se compararmos com a tomografia de uma pessoa normal podemos ver uma pequena massa, um aneurisma. Você sabe o q isso significa, certo?

Jack se deixou arriar na cadeira. Sim, sabia.

- Você terá que opera-la.

- Essa massa deve ter aparecido em função da queda que ela tenha levado quando recebeu o tiro. Também e uma oportunidade de verificar os nervos motores.

- Quanto tempo temos ainda?

- Não muito.

- Mas ela esta fraca...

- Teremos que induzir o coma, Jack. Caso contrario, ela pode não resistir.

Uma lagrima rolou pelo rosto de Jack.

Sensibilizado, Desmond apoiou o amigo.

- Não decida agora. amanha tomamos a decisão juntos.

- Obrigado.

- Vamos leva-la para um quarto.


Desmond deu a ordem ao interno. Jack levantou-se devagar da cadeira e acompanhou os dois.

Quando estava já no quarto, após coloca-la diretamente na cama, o interno saiu deixando Desmond e Jack sozinhos.

Sentindo que o amigo precisava de um tempo sozinho com a paciente, ele apenas deu tapinha nas costas dele e retirou-se.

Jack puxou a cadeira para perto da cama de Kate afim de segurar a sua mão enquanto lhe fazia companhia.

Tinha uma decisão muito seria e importante a tomar. Se concordasse com a cirurgia, exporia Kate a varias horas de procedimento em uma situação de coma induzido já que por estar muito fraca, o organismo dela não suportaria horas a fio de uma cirurgia no sistema nervoso. Afinal, já passara por uma cirurgia bem complicada para a retirada da bala e não a colocar no estagio de coma poderia agravar o quadro com possibilidade de parada cardíaca e respiratória. Tudo o que Jack queria evitar nesse momento.

O não aceite da cirurgia poderia agravar a massa cefálica já existente no cérebro e comprometer outras funções do cérebro e o risco de coma real ou morte.

Estava entre a cruz e a espada.

- Ah, Kate... como queria que esse momento fosse diferente. Porque tudo tem que ser tão complicado? Eu não quero perder você. Me ajude, me diga que você ira lutar. Eu preciso que lute, Kate. Por você, por mim, por nos.

Ele beijou a mão dela e ficou a velar seu sono. Cansado, acabou adormecendo ainda segurando a mão de Kate.


CONTINUA...