domingo, 20 de abril de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 9

Capitulo 9



- Que queres dizer, não podes almoçar comigo hoje? Há anos fazemos isso. Como pudeste esquecer?

- Eu não esqueci, pai, simplesmente não posso ir hoje. Retomamos os almoços para a semana, está bem?

Chris Shepard fez uma pausa no outro lado da linha de telefone, tamborilando os dedos sobre a mesa.

- Porque é que tenho a sensação de que estás escondendo algo?

- Não tenho nada para contar.

- Tem certeza?

- Sim, tenho.

Kate chamou Jack do chuveiro, pedindo para lhe levar uma toalha. Jack cobriu o bocal e disse que já lá iria. Quando voltou a sua atenção para o telefone, ouviu o pai suspirar profundamente.

- O que foi isso?

- Nada.

Então, num tom de compreensão repentina:

- Aquela moca chamada Kate está aí, não está?

Sabendo que não poderia esconder-lhe a verdade, Jack respondeu:

- Sim, está aqui.

Chris assobiou, obviamente satisfeito.

- Já nao era sem tempo!

Jack tentou minimizar o assunto.

- Pai, não dê muita importância...

- Está bem - prometo.

- Obrigado.

- Mas posso fazer uma pergunta?

- Claro. - Jack suspirou.

- Ela te faz feliz?

Ele demorou um momento a responder.

- Sim, faz - disse ele finalmente.

- Já não era sem tempo! - disse ele de novo com uma gargalhada antes de desligar. Jack colocou o telefone no gancho.

- E faz mesmo - murmurou com um pequeno sorriso no rosto. - E faz mesmo.

Kate saiu do quarto alguns minutos mais tarde, com um ar descansado. Sentindo o cheiro de café, foi até à cozinha para buscar uma caneca. Depois de pôr uma fatia de pão na torradeira, Jack foi ate ela.

- Bom dia, outra vez - disse ele, beijando-a na nuca.

- Bom dia para ti também.

- Desculpa ter deixado o quarto ontem à noite.

- Ei, tudo bem... eu compreendo.

- Sério?

- Claro que sim. - Ela voltou-se e olhou para ele com um sorriso. - Tive uma noite maravilhosa.

- Eu também - disse ele. Tirando uma caneca de café para Kate do armário, ele perguntou por cima do ombro:


- Queres fazer alguma coisa hoje? Eu telefonei para a loja e disse que não ia hoje.

- Que tem em mente?

- Que tal uma volta por Wilmington para conhecer?

- Podíamos fazer isso. - Ela não parecia convencida.

- Prefere fazer outra coisa?

- E que tal ficarmos apenas por aqui hoje?

- E fazer o quê?

- Oh, posso pensar em algumas coisinhas - disse ela, abraçando-o. - Quer dizer, se isso não for um problema para voce.

- Não - disse ele sorrindo. - Absolutamente nenhum.

Durante os quatro dias seguintes, Kate e Jack tornaram-se inseparáveis. Jack deixou a loja ao cuidado de Ian, deixando-o até dar as aulas de mergulho no sábado, algo que nunca fizera antes.


Por duas vezes, Jack e Kate foram dar passeios de barco; da segunda vez passaram toda a noite fora, dormindo juntos na cabine, embalados pelas leves ondas do Atlântico. Mais tarde nessa noite ela pediu para ele contar mais histórias de aventuras no mar enquanto ela afagava-lhe os cabelos.

O que ela não sabia era que depois de adormecer, Jack deixara o seu lado como o tinha feito na primeira noite passeando sozinho de um lado para o outro do convés. Pensou em Kate dormindo lá dentro e no fato dela ir embora em breve, e com esse pensamento veio uma outra recordação de anos atrás quando Sarah precisou passar um tempo longe dele.

A sensacao de solidao ja comecava a apavora-lo, Jack voltou para dentro da cabine e viu Kate deitada sob o lençol. Silenciosamente enfiou-se ao lado dela e apertou-a com força contra ele.

O dia seguinte foi passado na praia, sentados perto do pontão onde tinham almoçado da primeira vez. Kate ficou queimada com os primeiros raios de sol da manhã, Jack logo arrumou um protetor solar. Ele aproveitou para esfrega-lo delicadamente na pele, como se ela fosse uma criança.


Algumas vezes ela sentia que havia momentos em que a mente dele se afastava para longe. Mas depois, tão subitamente como surgiam, os momentos passavam e ela interrogava-se se não estaria enganada.

Almoçaram de novo no Hank's, de mãos dadas e olhando um para o outro. Conversavam tranquilamente, inconscientes da multidão que os rodeava, nenhum deles reparando quando a conta foi colocada na mesa e que a multidão do almoço foi embora.

Kate observava-o com atenção, perguntando a si mesma se Jack fora tão intuitivo com Sarah como parecia ser com ela. Era como se ele quase pudesse ler os seus pensamentos sempre que estavam juntos: se ela queria que ele pegasse na sua mão, ele pegava nela antes de ela pedir. Se ela queria apenas falar durante um tempo sem ser interrompida, ele escutava calado. Se ela queria saber o que ele estava sentindo em relação a ela em dado momento, a maneira como ele a olhava esclarecia tudo.


Ninguém - nem sequer James - alguma vez a tinha compreendido tão bem como Jack parecia compreendê-la. No entanto, conhecia-o há quanto tempo? Alguns dias? Como era possível? Era tao encantador e assustador ao mesmo tempo!


Mais tarde enquanto ele dormia a seu lado, a resposta levava-a sempre de volta às garrafas que encontrara. Quanto mais conhecia Jack, mais acreditava ter sido destinada a encontrar as mensagens dele para Sarah, como se houvesse uma grande força que as tivesse conduzido a ela, com a intenção de os unir.

No sábado à noite Jack cozinhou novamente para ela, eles comeram na varanda sob as estrelas. Depois de fazerem amor, permaneceram deitados na cama, abraçados um ao outro. Ambos sabiam que ela tinha de voltar a Chicago no dia seguinte. Era um assunto sobre o qual tinham evitado falar até àquele momento.

- Alguma vez voltarei a te ver? - perguntou ela.

Ele permaneceu silencioso, muito silencioso.

- Espero que sim - disse ele finalmente.

- Queres me ver?

- Claro que quero. – Quando disse, sentou-se na cama, afastando-se ligeiramente dela. Depois de um momento ela sentou-se e acendeu a luz da mesa de cabeceira.

- Que foi, Jack?

- Só não quero que isto acabe - disse ele, baixando o olhar. - Não quero que a nossa relação acabe, não quero que esta semana acabe. Quer dizer, voce entra na minha vida e a vira de pernas para o ar, e agora vai embora.

Ela pegou-lhe na mão e falou calmamente.

- Oh, Jack, também não quero que acabe. Esta foi uma das melhores semanas tive em muito tempo. Parece que te conheço desde sempre. Podemos fazer com que isto dure, se tentarmos. Eu posso vir para cá ou tu podes ir a Chicago. De uma maneira ou de outra, podemos tentar, não podemos?

- Quantas vezes poderia te ver? Uma vez por mês? Menos que isso?

- Não sei. Acho que isso depende de nós e daquilo que estamos dispostos a fazer. Se ambos estivermos dispostos a dar um pouquinho, conseguiremos fazer isto funcionar.

Ele fez uma longa pausa.

- Achas mesmo que é possível, se nos virmos tão poucas vezes? Quando poderia te abraçar? Ver o teu rosto? Se só nos virmos de vez em quando, não poderemos fazer as coisas que precisamos fazer para... continuar a sentirmo-nos da maneira como nos sentimos. Cada vez que nos víssemos, saberíamos que seria apenas por alguns dias. Não haveria tempo para que alguma coisa pudesse crescer.

As suas palavras magoavam, em parte por causa da sua verdade e em parte porque parecia que ele queria simplesmente terminar tudo ali naquele momento. Quando ele finalmente se voltou para ela, com um sorriso pesaroso no rosto, ela não sabia o que dizer. Largou a mão dele, confusa.

- Não queres tentar, então? É isso que estás dizendo? Queres simplesmente esquecer tudo o que aconteceu... – Kate lutava para conter as lagrimas.

Ele abanou a cabeça. - Não - não quero esquecer. Não consigo esquecer. Não sei... quero apenas poder te ver mais vezes do que parece ser possível .

- Eu também. Mas não podemos, por isso vamos apenas fazer o melhor que pudermos. Está bem?

Ele abanou a cabeça quase indiferente.

- Não sei...

Ela observou-o atentamente enquanto ele falava, havia algo mais.

- Jack, o que foi?

Ele não respondeu, e ela continuou.

- Existe alguma razão porque não queiras tentar?

Ele continuou calado. No silêncio, ele voltou-se para a foto de Sarah na mesa de cabeceira.

- Jack, fala comigo.

Ela olhava fixamente para ele, preocupada. Finalmente ele falou:

- Kate... é tão difícil neste momento. As coisas por que tenho passado...

A sua voz sumiu e Kate soube exatamente do que ele falava. Sentiu o estômago revirar.

- É por causa de Sarah? Tudo isto é por causa dela?

- Não, é só que... - Ele calou-se, e ela percebeu com tristeza que tinha razão.

- É, não é? Nem sequer queres tentar nada... por causa de Sarah.

- Voce simplesmente não compreende.

Sem querer, ela sentiu a raiva explodir.

- Oh, eu compreendo. Foste capaz de passar este tempo comigo, apenas porque sabias que eu iria embora. E depois, quando eu tivesse partido, podias voltar para o que tinhas antes. Eu fui apenas um caso, não fui?

Ele abanou a cabeça.

- Não, não foste. Não foste nenhum caso. Eu gosto de você...

Ela olhou duramente para ele.

- Mas não o suficiente para tentar fazer com que a nossa relação funcione.

Ele olhou para ela, o sofrimento evidente nos seus olhos. - Não sejas assim...

- Como é que queres que eu seja? Compreensiva? Queres que eu diga simplesmente, "Oh, está bem, Jack, ficamos apenas por aqui porque isto é tudo muito difícil e não vamos poder ver-nos muitas vezes. Eu compreendo. Foi um prazer te conhecer". Ela tinha a voz elevada.


- É isso que queres que eu diga? As lagrimas percorriam o rosto de Kate, a dor no coração era grande demais.


- Não, não é isso que quero que tu digas.


- Então o que é que queres? Eu já disse que estava disposta a tentar... eu quero tentar...

Ele abanou a cabeça, incapaz de a olhar nos olhos. Kate podia sentir as lágrimas.


- Olha, Jack, eu sei que perdeste a tua mulher. Sei que sofreste terrivelmente com isso. Mas isso nao te impede de viver. Não jogues tudo fora para continuar vivendo no passado.

- Eu não estou vivendo no passado - disse ele defensivamente. Kate esforçava-se por conter as lágrimas. A sua voz enterneceu-se.

- Jack... eu posso não ter perdido uma mulher, mas também perdi algo de que realmente gostava muito. Sei tudo sobre dor e sofrimento. Mas para ser franca, estou cansada de estar sozinha o tempo todo. Isto já dura mais de três anos para mim - igual a voce - e estou cansada. Estou pronta para seguir em frente agora e encontrar alguém especial com quem partilhar a minha vida. E tu também devias fazer o mesmo.

- Eu sei. Achas que não sei disso?

- Sinceramente, não tenho certeza. Algo maravilhoso aconteceu entre nós, e não quero abrir mao disso!

Ele fez uma longa pausa.

- Tens razão - começou ele, esforçando-se por encontrar as palavras. - Na minha mente, eu sei que tens razão. Mas o meu coração... não sei mesmo.


- E o meu coração? Isso não te interessa? Pensei que voce era diferente, disse que nao me magoaria...ela tinha a voz tremula pelo choro.

A maneira como ela o olhou, fez Jack sentir um nó na garganta.

- Claro que interessa. Interessa muito mais do que pensas.


Quando estendeu a mão para pegar na dela, ela recuou, e ele percebeu o quanto a tinha magoado. Falou ternamente, tentando controlar as suas próprias emoções.


- Kate, desculpa por te fazer passar - por nos fazer passar - por isto na nossa última noite. Não era minha intenção. Acredita em mim, não foste apenas um caso para mim. Deus, tu foste tudo menos isso. Eu disse que gostava realmente de ti, e foi sério.

Ele abriu os braços, os seus olhos implorando para que ela viesse para o seu lado.


Ela hesitou porem nao mais que um segundo, simplismente nao conseguia. Encostou nele, sua mente tomada por um milhao de sensacoes antagonicas. Encostou o rosto no peito dele, não querendo ver a sua expressão. Ele beijou-lhe o cabelo, falando docemente, com os seus lábios agitando-se sobre ela.

- Gosto muito de voce. Gosto tanto que me assusta. Há tanto tempo que não me sentia assim, é quase como se tivesse esquecido de como outra pessoa pode ser tão importante para mim.Poderia simplesmente te deixar ir e esquecer, e não quero. E decididamente não quero que a nossa relação acabe agora.


Por um momento ouvia-se apenas o som suave e constante da sua respiração. Por fim sussurrou:


- Prometo fazer tudo o que for capaz para te ver. E vamos tentar fazer a nossa relação durar.

A ternura na sua voz fez com que as lágrimas dela voltassem a cair. Ela já não se importava mais. Ele continuou, quase tão baixo para ela ouvir.

- Kate, acho que estou apaixonado por você.

Acho que estou apaixonado ela ouviu-o de novo. Estou...

Não querendo responder, ela murmurou apenas:

- Me abraça só, está bem? Não falemos mais.

Fizeram amor quando acordaram de manhã e permaneceram abraçados até a hora de Kate se preparar para partir. Apesar de ter passado muito pouco tempo no hotel e de ter trazido a sua mala para a casa de Jack, ela não tinha cancelado o quarto para o caso de Kevin ou Penny telefonarem.

Tomaram um banho juntos, e depois de se vestir, Jack preparou o café para Kate enquanto ela acabava de fazer a mala. Kate ouviu o som de algo na cozinha enquanto o cheiro do bacon flutuava pela casa. Depois de secar o cabelo e de se maquiar, foi até à cozinha.

Jack estava sentado a mesa, bebendo café. Piscou quando ela entrou. No balcão ele deixara uma caneca ao lado da máquina do café, e ela serviu-se. O café já estava na mesa - ovos mexidos, bacon e torradas. Kate sentou-se na cadeira mais próxima dele.

- Não sabia o que querias para o café - disse ele, fazendo sinal para a mesa.

- Não estou com fome, Jack, se não te importas.

Ele sorriu.

- Tudo bem. Também não tenho muita fome.

Ela levantou-se e foi ate ele, sentando-se ao seu colo. Abraçou-o e enterrou o rosto no pescoço dele. Ele por sua vez abraçou-a com força, passando as mãos pelo cabelo dela.

Por fim ela afastou-se. O tempo que eles tinham passado ao sol naquela semana deixara-a bronzeada.

- O meu avião parte cedo, e ainda tenho de pagar a conta do hotel e devolver o carro alugado - disse ela.


- Tens certeza de que não queres que vá contigo?

Ela acenou que sim com a cabeça, franzindo os lábios.

- Tenho, vou ter de me apressar para pegar o avião, e além disso terias de vir atrás de mim com o carro. Tanto faz despedirmo-nos aqui ou la.

- Telefono à noite.

Ela sorriu.


- Eu adoraria.

Os seus olhos começaram a encher-se de lágrimas, e ele puxou-a para si.

- Vou sentir a tua falta aqui - disse ele enquanto ela começava a chorar. Ele limpava-lhe as lágrimas com os dedos, o seu toque leve contra a pele dela.

- E eu vou sentir a falta dos teus dotes culinários - murmurou ela, sentindo-se idiota.

Ele riu-se, quebrando a tensão.

- Não fique triste. Vamos voltar a nos ver dentro de duas semanas, não vamos?

- A não ser que queiras desistir.

Ele sorriu.

- Ficarei contando os dias. E desta vez vais trazer o Kevin, certo?

Ela acenou que sim com a cabeça.

- ótimo, gostaria de conhecê-lo. Se ele for parecido contigo, nem que seja um pouco, tenho certeza de que nos daremos bem.

- Tenho certeza que sim, também.

- E até lá, ficarei pensando em voce o tempo todo.

- Sério?

- Claro. já estou pensando.

- Isso é porque estou no teu colo.

Ele riu-se de novo, e ela fez-lhe um sorriso lacrimoso. Depois ela levantou-se e limpou a face.


Jack levantou-se e foi buscar a mala dela, e saíram ambos da casa. Kate pegou os óculos escuros que guardava no bolso do lado da sua mala, levando-os a cabeça enquanto se dirigiam para o carro alugado.

Abriu o porta-malas, e ele colocou as coisas dela lá dentro. Depois, abraçando-a, beijou-a uma vez suavemente e soltou-a. Depois de abrir a porta do carro, ajudou-a a entrar e ela pôs a chave na ignição.

Com a porta aberta, olharam fixamente um para o outro até ela ligar o carro.

- Tenho de ir, se quiser pegar o meu avião.

- Eu sei.

Ele afastou-se da porta mas ela saiu do carro e tascou um beijo intenso. Sem fôlego, ela o soltou e entrou no carro. abriu a janela e pôs a mão de fora. Jack tomou-a na dele apenas por um instante.

- Telefonas hoje à noite?

- Prometo.

Ela pôs a mão para dentro, sorrindo para ele, e recuou com o carro lentamente. Jack viu-a a acenar uma última vez antes de arrancar, perguntando a si mesmo como iria aguentar as duas semanas seguintes.


*****************


Apesar do trânsito, Kate conseguiu chegar depressa ao hotel e pagou a conta. Havia três mensagens de Penny, cada uma aparentemente mais desesperada que a outra.


"O que se está acontecendo? Como foi o teu encontro?" dizia a primeira;


"Porque é que não telefonaste? Estou à espera para ouvir tudo", dizia a segunda; e a terceira dizia simplesmente "Estás me dispensando! Me liga quero detalhes, por favor! ".


Havia também uma mensagem de Kevin - apesar dela ter telefonado duas vezes da casa de Jack.


Ela devolveu o carro alugado e chegou ao aeroporto menos de meia hora antes da partida. Felizmente a fila para o check-in era curta, e ela conseguiu chegar ao portão mesmo quando começavam a embarcar.

Kate fechou os olhos, recordando-se dos acontecimentos espantosos da última semana. Não apenas tinha encontrado Jack, como o conhecera melhor do que alguma vez imaginara ser possível. Ele despertara sentimentos profundos dentro dela, sentimentos que ela pensava há muito estarem enterrados.

Mas amava-o?

Ela abordou a pergunta cautelosamente, sabendo o que admitir significaria.

Descontraidamente, recapitulou a conversa da noite anterior. Os receios dele de largar o passado, os seus sentimentos sobre não poder vê-la tanto quando desejaria. Tudo isso ela compreendia totalmente. Mas...

Acho que estou apaixonado por você.

Ela franziu a testa. Porque acrescentou a palavra "acho"? Ou estava apaixonado ou não estava... não estava? Dissera-o apenas para acalmá-la? Ou dissera-o por uma outra razão?


Acho que estou apaixonado por você.

Na sua mente, ela ouvia-o dizê-lo repetidas vezes, a sua voz revestida de... de quê? Ambiguidade? Pensando nisso agora, quase desejava que ele não tivesse dito nada. Pelo menos não estaria tentando compreender exatamente o que ele quisera dizer.


Mas e ela? Amava Jack?

Fechou os olhos subitamente sem vontade para enfrentar as suas emoções. Sorriu. Sabia que sim.


Uma coisa era certa, porém, ela nunca lhe diria que o amava até ter a certeza de que ele seria capaz de esquecer Sarah.



Naquela noite, nos sonhos de Jack, desenrolava-se uma violenta tempestade.


A chuva castigava a casa, e Jack corria freneticamente de um quarto para o outro. A chuva o cegava entrando pelas janelas abertas, dificultando a visão. Os relâmpagos iluminavam o céu,o telhado era arrancado e a janela tinha explodido para dentro, espalhando o vidro sobre o chão.


Do lado de fora da janela, ouviu Kate chamar por ele.


- Jack, tens de sair agora!

A casa não conseguiria resistir por muito mais tempo.

Sarah.

Ele tinha de ir buscar a foto e as outras coisas que tinha na mesa de cabeceira.

- Jack! já não tens muito tempo! - gritou Kate de novo.

A foto. A aliança.

- Vamos! - continuava ela a gritar. Acenava freneticamente com os braços.

Ele deu um passo em direção ao quarto e, com isso, viu Kate parar de acenar com os braços. Pareceu-lhe que ela tinha subitamente desistido.

- Jack! Por favor! - gritou Kate. De novo o som da voz dela fê-lo parar, e com isso percebeu que se tentasse salvar as coisas do seu passado, poderia não conseguir escapar com vida.

Mas valeria a pena?

A resposta era evidente.

Desistiu da sua tentativa e correu em direção à abertura onde estivera a janela. Quando ele saltou para a varanda, as paredes desmoronaram.

Ele procurou Kate para se certificar de que ela estava bem, mas estranhamente, já não a via.

Acordou sobressaltado. Era de madrugada e por um bom tempo ele nao conseguiu dormir pensando nela.



CONTINUA...

Nenhum comentário: