sexta-feira, 4 de abril de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 4

Capitulo 4


No dia em que descobriu a terceira carta, ela não esperava, claro, nada de anormal. Era um típico dia de Verão em Chicago. Kate estava na redação, pesquisando um tópico relacionado com lugares exoticos.


Quando estava prestes a desligar o computador, um pensamento cruzou subitamente a sua mente e ela deteve-se. Porque não? perguntou a si mesma. É pouco provável, mas que tenho a perder? Sentou-se à mesa, no site do google escreveu as palavras MENSAGEM NUMA GARRAFA. Esperou.

A resposta surpreendeu-a - uma dúzia de diferentes artigos tinham sido escritos sobre o assunto nos últimos anos. A maioria foi publicada em revistas científicas, e os seus títulos pareciam sugerir que as garrafas eram utilizadas em várias tentativas de pesquisa sobre as correntes dos oceanos.
Três dos artigos pareciam interessantes, e ela resolveu lê-los. Falavam de mensagens enviadas a enamorados.Mais para o fim do artigo, ela encontrou dois parágrafos que falavam ainda de outra mensagem que dera à costa em Long Island:


"A maior parte das mensagens enviadas dentro de garrafas pede geralmente à pessoa que as encontra para responder uma vez. Uma carta deste tipo, um tributo comovente a um amor perdido, foi descoberta numa praia de Long Island o ano passado. Parte dela dizia:
Sem ti nos meus braços, sinto um vazio na alma..." Kate continuou a ler a mensagem com um misto de surpresa e ansiedade.


Não pode ser! Deu por si a olhar fixamente para as palavras. "Simplesmente não é possível... Mas... quem mais poderia ser? Outra carta?"


Voltou para o princípio do artigo e olhou o nome do autor. Tinha sido escrito por Arthur Shendakin, Ph. D., um professor de história no Colégio de Chicago, quer isso dizer que... ele deve viver na area.
Saltou do sofá e foi buscar a lista telefônica. Folheou-a, à procura do nome. Havia perto de uma dúzia de Shendakins na lista, embora apenas dois lhe parecessem uma possibilidade. Ambos tinham "A" como a primeira inicial, e ela olhou para o relógio antes de telefonar. Nove e meia. Tarde, mas não muito tarde. Foi até à cozinha e encheu um copo com água. Depois de beber bastante, respirou fundo e voltou para o telefone.


Certificou-se de que discava o número correto e esperou enquanto o telefone começava a tocar.
Uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.

Ao quarto toque começou a perder a esperança, mas ao quinto toque ouviu a outra linha responder.
- Alo? - disse um homem. Pelo tom da voz, pensou que ele deveria estar na casa dos sessenta anos.
Ela clareou a garganta.

- Alo. Aqui e Kate Austen do Chicago Tribune. É Arthur Shendakin?

- É sim - respondeu ele, parecendo surpreso. Calma, disse para consigo mesma.

- Oh, olá. O senhor é o mesmo Arthur Shenclakin que escreveu um artigo publicado no ano passado na revista Yankee, sobre mensagens em garrafas.

- Sim, fui eu que o escrevi. Em que posso ajudá-la? Sentia as mãos molhadas.

- Despertou-me a atenção uma das mensagens que o senhor diz ter dado à costa em Long Island. Lembra-se de que carta estou falando?

- Posso perguntar porque está interessada?

- Bem - começou ela -, o Tribune quer fazer um artigo sobre o mesmo assunto, e estávamos interessados em conseguir uma cópia da carta.

Ela fez uma careta perante a sua própria mentira, mas dizer a verdade parecia pior. "Como aquilo iria soar? Oh, olá, estou apaixonada por um homem misterioso que envia mensagens em garrafas, e queria saber se a carta que encontrou foi também escrita por ele..."

Ele respondeu devagar.

- Bem, não sei. Essa foi a carta que me inspirou a escrever os artigos... Teria de pensar no assunto.

Kate sentiu um aperto na garganta.

- Então, o senhor tem a carta?

- Sim. Encontrei-a há dois anos.

- Prof. Shendakin, sei que é um pedido pouco habitual, mas posso dizer-lhe que se nos deixar usar a carta, teríamos muito gosto em pagar-lhe uma pequena quantia. E não precisamos da carta em si. Bastava uma cópia da mesma, e assim não ficaria de fato a perder nada.

Ela podia perceber que o pedido o surpreendera.

- De quanto é que estamos falando?

- Estamos dispostos a oferecer trezentos dólares, e claro, será devidamente creditado como a pessoa que a encontrou.

Ele fez uma breve pausa, ponderando. Kate voltou a falar antes de ele poder formular qualquer recusa.

- Prof. Shendakin, tenho a certeza de que deve estar um pouco preocupado com uma eventual semelhança entre o seu artigo e aquilo que o jornal tenciona publicar. Posso assegurar-lhe de que serão bastante diferentes. O artigo que faremos é essencialmente sobre o trajeto das garrafas - sabe, correntes oceânicas e tudo isso. Queremos apenas algumas cartas autênticas que possam proporcionar aos nossos leitores algum interesse humano.
"Donde veio isto tudo?"

- Bem...

- Por favor, Prof. Shendakin. Seria mesmo muito importante para mim.

Ficou em silêncio durante um momento.

- Apenas uma cópia?

"Yes!"


- Sim, claro. Posso dar-lhe um número de fax, ou pode enviá-la por email. Passo o cheque em seu nome?

Fez uma nova pausa antes de responder.

- Eu... suponho que sim. - Ele soava como se de algum modo tivesse sido encostado a uma parede não sabendo como sair da situação.

- Obrigada, Prof. Shendakin. - Antes que ele pudesse mudar de ideia, Kate deu-lhe o número do fax, anotou o endereço dele, e tomou nota para ir buscar um vale no dia seguinte. Pensou que poderia parecer suspeito se enviasse um dos seus cheques pessoais.

A possível existência de uma terceira carta tornava difícil pensar noutra coisa. Na verdade, ainda não havia nenhuma garantia de que a carta era da mesma pessoa, mas se fosse, ela não sabia o que iria fazer.


Tinha pensado em Jack quase toda a noite, tentando imaginar a sua aparência, e as coisas que ele gostava de fazer. Não compreendia exatamente o que estava sentindo, mas por fim resolveu deixar que a carta o decidisse.


Se não fosse de Jack, ela terminaria tudo aquilo num instante. Não usaria o seu computador para procurá-lo, não iria à procura de sinais de quaisquer outras cartas. E se descobrisse que ainda continuava obcecada, jogaria fora as duas cartas. A curiosidade era saudável desde que não tomasse conta da sua vida - e ela não deixaria que isso acontecesse.

Mas, por outro lado, se a carta fosse de Jack...

Não sabia ainda o que faria então. Parte dela esperava que não fosse, para que não tivesse de tomar uma decisão.

Quando chegou à sua mesa, esperou propositadamente antes de ir até ao fax. Ligou o computador, e deu alguns telefonemas Existem provavelmente milhares de cartas à deriva pelo oceano, disse para si mesma. O mais provável é que seja de outra pessoa.

Finalmente foi até ao fax quando já não conseguia pensar em mais nada e começou a examinar a pilha de papel. Encontrou uma carta de introdução endereçada a si. Vinha acompanhada de mais duas páginas, e quando olhou mais de perto para elas, a primeira coisa em que reparou - tal como acontecera com as outras duas cartas - foi no barco à vela gravado em relevo no canto superior direito. Mas esta era mais curta do que as outras, e leu-a antes de chegar à sua mesa. O parágrafo final era o mesmo que tinha lido no artigo de Arthur Shendakin.

25 de Setembro de 2002
Dear Sarah,

Passou-se um mês desde que te escrevi, mas pareceu decorrer muito mais devagar. A vida passa por mim agora como a paisagem do lado de fora da janela de um carro. Respiro e como e durmo como sempre, mas parece não haver qualquer grande objetivo na minha vida que necessite uma participação ativa da minha parte. Continuo simplesmente ao sabor da corrente como as mensagens que te escrevo. Não sei para onde vou ou quando lá chegarei.
Nem mesmo o trabalho alivia a dor. Posso estar a mergulhar sozinho ou a ensinar aos outros como fazê-lo, mas quando volto para a loja, parece vazia sem ti. Faço fornecimentos e encomendas como sempre fiz, mas mesmo agora, por vezes olho por cima do ombro sem pensar e chamo por ti. Enquanto te escrevo este bilhete, pergunto a mim mesmo quando, ou se alguma vez, coisas como essas irão terminar.
Sem ti nos meus braços, sinto um vazio na alma. Dou por mim à procura do teu rosto no meio das multidões - sei que é impossível, mas não consigo conter-me. A minha procura por ti é uma busca interminável destinada ao fracasso. Tu e eu tínhamos falado sobre o que aconteceria se fossemos separados por força das circunstâncias, mas não consigo manter a promessa que te fiz naquela noite. Desculpa, meu amor, mas não existirá nunca ninguém para te substituir. As palavras que te murmurei eram absurdas, e eu devia ter percebido isso então. Tu - e só tu - tens sido sempre a única coisa que eu desejei, e agora que já não estás aqui, não tenho qualquer desejo de encontrar outra. Até que a morte nos separe, sussurramos na igreja, e eu acredito que as palavras permanecerão verdadeiras até finalmente chegar o dia em que eu, também, serei levado deste mundo.

Jack


- Penny, tem um minuto? Preciso falar contigo. Penny levantou os olhos do computador e tirou os óculos.
- Claro que tenho. Que houve?

Kate colocou as três cartas na mesa de Penny sem falar. Penny pegou nelas uma por uma, os seus olhos dilatando de surpresa.

- Onde arranjaste estas duas outras cartas? Kate explicou como as tinha encontrado. Quando terminou a sua história, Penny leu as cartas em silêncio. Kate sentou-se na cadeira defronte dela.

- Bem - disse ela, pousando a última carta -, não há dúvida de que tens andado a guardar segredo, não é?

Kate encolheu os ombros, e Penny continuou.

- Mas há mais nisto tudo do que o simples fato de teres encontrado as cartas, não há?
- Que queres dizer?
- Quero dizer - disse Penny com um sorriso matreiro - não vieste aqui só porque encontraste as cartas. Vieste porque estás interessada nesse tal Jack.

A boca de Kate abriu-se, e Penny riu.

- Não pareça tão surpreendida, Kate. Não sou completamente idiota. Sabia que algo acontecia nestes últimos dias. Tens andado tão distraída por aí - como se estivesses a cem quilômetros de distância. Queria falar sobre o assunto, mas calculei que viesses falar quando te sentisses pronta.

- Pensei que tivesse tudo sob controle.

- Talvez para outras pessoas. Mas eu já te conheço há tempo suficiente para saber quando tem algo diferente. - Ela sorriu de novo. - Então me diz, que houve?

Kate pensou durante um momento.

- Tem sido realmente estranho. Quer dizer, não consigo parar de pensar nele, e não sei porquê. É como se estivesse de novo na escola secundária e estivesse apaixonada por alguém que nem sequer conhecia pessoalmente. Só que isto é pior - não só nunca nos falámos, como nunca sequer o vi. Pelo que sei, pode até ser um homem de setenta anos.

Penny recostou-se na sua cadeira e acenou com a cabeça, pensativa.

- Isso é verdade... mas não acha que seja o caso, não?

Kate abanou lentamente a cabeça.

- Não, na verdade não.

- Nem eu - disse Penny enquanto pegava de novo nas cartas. - Ele fala de como se apaixonaram quando eram jovens, não faz menção de quaisquer filhos, ensina mergulho, e escreve sobre Sarah como se tivesse casado apenas alguns anos. Duvido que seja assim tão velho.
- Foi o que pensei, também.
- Queres saber o que eu penso?
- Claro.

Penny proferiu as palavras com cuidado.

- Eu penso que devias ir a Wilmington encontrar Jack.
- Mas parece tão... tão ridículo, até para mim.
- Porquê?
- Porque não sei nada sobre ele.
- Kate, tu sabes muito mais sobre Jack do que eu sabia sobre Desmond antes de o conhecer. E além disso, eu não disse para casar com ele, apenas disse para ires procurá-lo. Podes descobrir que nem sequer gostas dele, mas pelo menos saberás, não é? Quer dizer, que mal haver nisso?
- E se... - Ela fez uma pausa, e Penny completou a sua frase.
- E se ele não for o que tu imaginas? Kate, posso garantir que ele não é. Nunca ninguém é. Mas na minha opinião, isso não deveria ter qualquer importância para a tua decisão. Se achas que queres descobrir mais, vai. O pior que pode acontecer é descobrires que ele não é o tipo de homem que procura. E que faria então? Voltarias para Chicago com a tua resposta. Que mal haveria nisso? Provavelmente não seria pior do que a duvida que tens agora.
- Não achas que tudo isto é uma loucura?

Penny abanou a cabeça, pensativa.

- Kate, há muito tempo que quero que volte a namorar,saia com outro homem. Como te disse quando estávamos de férias, tu mereces encontrar outra pessoa com quem partilhar a tua vida. Agora, não sei como é que isto com Jack vai correr. Se tivesse de apostar, diria provavelmente que não iria dar em nada. Mas isso não significa que não devas tentar. Se todos pensassem que poderiam fracassar nem sequer tentasse, onde estaríamos hoje?

Kate ficou em silêncio durante um momento.

- Sou mais velha do que voce, e já passei por muito. Uma das coisas que aprendi na minha vida é que às vezes temos de arriscar. E pra mim, neste caso nem sequer estás arriscando muito. Quer dizer, não estás abandonando o teu marido e família para ires à procura dessa pessoa, não estás abandonando o teu emprego e nem mudando para o outro extremo do país. Na verdade encontras-te numa situação maravilhosa. Não tens nada a perder, por isso não dês uma importância exagerada a isto. Se sentes que deves ir, vai. Se não queres ir, não vás. Na realidade, é tão simples quanto isso. Além disso, o Kevin não está aqui e ainda tens muito tempo de férias este ano.

Kate começou a enrolar uma madeixa de cabelo à volta do dedo.

- E a minha crônica?
- Não te preocupes com isso. Ainda temos aquela crônica que escreveste que não usamos porque publicamos a carta em vez dela. Depois disso, podemos publicar alguns artigos dos anos anteriores..
- Fazes tudo isto parecer tão fácil.
- E é fácil. A parte difícil vai ser encontrá-lo. Mas as cartas têm alguma informação que podemos usar para te ajudar. Que tal dar alguns telefonemas e umas buscas no computador?
- Está bem - disse Kate finalmente. - Mas espero não me arrepender.
- Então - perguntou Kate a Penny -, por onde começamos?

Deu a volta com a cadeira para o outro lado da mesa de Penny.

- Já - começou Penny -, vamos começar com aquilo de que temos a certeza. Primeiro, pode-se dizer que o seu nome é mesmo Jack. Foi assim que assinou todas as cartas, e não acho que ele se tivesse dado ao trabalho de usar outro nome que não o seu. Talvez o fizesse se fosse apenas uma carta, mas com três cartas, estou quase certa de que se trata ou do primeiro nome, ou até do seu nome do meio. Seja qual for o caso, é o nome porque é conhecido.

- E - acrescentou Kate -, vive provavelmente em Wilmington ou em Wrightsville Beach, ou noutra comunidade ali por perto, - Penny concordou. - Todas as suas cartas falam do oceano ou de termos ligados ao oceano, e claro, é para aí que ele atira as garrafas. Pelo tom das cartas, parece que ele as escreve quando se sente sozinho ou quando pensa em Sarah.

- Foi isso que pensei. Parece-me que ele não faz qualquer menção de ocasiões especiais nas cartas. Elas falam do seu dia-a-dia.

- Muito bem - disse Penny, acenando com a cabeça. - Ele fala de um barco...

- Happenstance - disse Kate. - A carta diz que eles restauraram o barco e que costumavam velejar juntos. Por isso é provável que seja um barco à vela.

- Escreve isso - disse Penny. - Talvez consigamos descobrir mais sobre isso com alguns telefonemas daqui. É provável que exista um lugar onde se faz o registro de barcos por nome. Posso telefonar para o jornal de lá, para saber. Havia mais alguma coisa na segunda carta?

- Não que eu tenha reparado. Mas a terceira carta tem um pouco mais de informação. Entre aquilo que ele escreve, duas coisas sobressaem.

Penny intrometeu-se.

- Primeiro, Sarah morreu de fato. E parece também que ele é proprietário de uma loja de artigos de mergulho onde ele e Sarah costumavam trabalhar.

- Isso é outra coisa para anotar. Acho que podemos descobrir mais a partir daqui também. Mais alguma coisa?

- Penso que não.

- Bem, é um bom começo. Isto pode ser mais fácil do que pensávamos. Vamos começar.

Apos alguns telefonemas, elas não tinham conseguido muita coisa. Kate estava ficando decepcionada.


- Esse é um beco sem saída - Kate disse baixinho. Penny sussurrou:
- Talvez, talvez não. Não desistas com tanta facilidade.

Penny conseguiu alguns nomes de lojas de artigos para mergulho. Kate olhou para ela curiosa.

- O que lhes vais perguntar quando telefonares?
- Vou perguntar por Jack.

O coração de Kate deu um pulo.

- Assim, sem mais nem menos?

- Assim, sem mais nem menos - disse Penny, sorrindo enquanto ligava. Fez sinal a Kate para levantar a outra extensão - no caso de ser ele - e ambas esperaram em silêncio que alguém respondesse na Atlantic Adventures, o primeiro nome que lhes fora dado.

Quando finalmente atenderam, Penny respirou fundo e perguntou num tom simpático se Jack estava disponível para dar aulas de mergulho.

- Desculpe, acho que tem o número errado - disse a voz rapidamente. Penny pediu desculpa e desligou.

Receberam a mesma resposta nos cinco telefonemas seguintes. imperturbável, Penny passou para o número seguinte na lista e marcou de novo. Esperando a mesma resposta, ficou surpreendida quando a pessoa em linha hesitou por um instante.

- Fala de Jack Shepard?

Jack.

Kate quase caiu da cadeira quando ouviu o nome dele. Penny respondeu que sim, e o homem que a atendera continuou.

- Ele está com a Island Diving. Tem a certeza de que não a podemos ajudar? Temos algumas aulas a começar brevemente.

Penny desculpou-se rapidamente.

- Não, desculpe. Preciso mesmo trabalhar com Jack. Prometi-lhe que o faria. - Quando desligou tinha um sorriso largo nos lábios.

- Bem, estamos próximas agora.

- Não consigo acreditar que tenha sido tão fácil...

- Não foi assim tão fácil, se pensares bem, Kate. A menos que uma pessoa encontrasse mais do que uma carta, não teria sido possível.

- Achas que é o mesmo Jack?

Ela inclinou a cabeça e levantou uma sobrancelha.

- Tu não achas?

- Ainda não sei. Talvez.

Penny não ligou para a resposta.

- Bem, logo saberemos. Isto está divertido.

Penny telefonou então de novo para as informações e pediu o número do registro de barcos de Wilmington. Passado um momento, a mulher disse as palavras que tanto Penny como Kate esperavam que ela dissesse. - Sim, está aqui. Jack Shepard. Hum... tem o nome certo, pelo menos de acordo com a informação que temos. Diz aqui que o nome do barco é Happenstance.

Penny agradeceu-lhe - Jack Shepard - disse ela com um sorriso de vitória. - O nosso escritor misterioso chama-se Jack Shepard.

- Não consigo acreditar que o encontramos.

Penny acenou com a cabeça como se tivesse conseguido algo de que até ela própria duvidava.
- Mais alguma coisa que queiras saber?

Kate pensou durante um momento.

- Consegues descobrir alguma coisa sobre Sarah?

Penny encolheu os ombros e preparou-se para a tarefa.

- Não sei, mas podemos tentar. Vamos ligar para o jornal para ver se têm alguma coisa nos arquivos. Se a morte foi acidental, pode ter sido publicada.

Penny ligou novamente para o jornal mas infelizmente não descobriram nada sobre Sarah.

- Acho que é tudo o que podemos fazer a partir daqui. O resto depende de ti, Kate. Mas pelo menos sabes onde encontrá-lo.

Penny entregou a folha de papel com o nome. Kate hesitou. Penny olhou para ela durante um momento, depois colocou o papel em cima da mesa. Pegou no telefone mais uma vez.

- Agora o que esta fazendo?
- Reservando um voo e um lugar para ficar na Carolina.
- Ainda nem sequer disse se ia ou não.
- Oh, mas você vai.
- Como podes ter tanta certeza?
- Porque não te quero por aí sentada na redação durante todo o ano pensando no que poderia ter sido. Não trabalhas bem quando andas distraída.
- Penny...
- Não me venhas com Pennys. Sabes muito bem que a curiosidade iria te deixar doida.
- Mas...
- Mas nada. - Ela fez uma breve pausa, e as palavras surgiram mais suaves. - Kate, lembra, não tens nada a perder. O pior que pode acontecer é voltares para casa dentro de dois dias. Só isso. Não vais em busca de nenhuma tribo de canibais. Vais apenas saber se a tua curiosidade se justificava ou não.

Permaneceram em silêncio enquanto olhavam uma para a outra. Penny tinha um ligeiro sorriso atrevido no rosto, e Kate sentiu a pulsação acelerar quando tudo a atingiu. "Meu Deus, vou mesmo fazer isto. Não posso acreditar que vou fazer isto".

Mesmo assim fez mais uma frouxa tentativa de recusa.

- Nem sequer sei o que diria se acabasse por encontrá-lo...
- Tenho certeza de que na hora saberás. Agora deixa eu tratar disso. Vai buscar tua carteira. Vou precisar de um número de cartão de crédito.

A mente de Kate rodopiava enquanto se dirigia para a sua mesa.


"Jack Shepard. Wilmington. Island Diving. Happenstance."


As palavras não paravam de girar em torno da sua cabeça, como se estivesse gravadas na mente em loop constante. à tardinha do dia seguinte ela partiu para Wilmington, Carolina do Norte.

Penny disse-lhe para tirar o resto do dia e o seguinte de folga, e quando saia do escritório, Kate sentiu como se tivesse sido quase forçada a fazer algo que não tinha a certeza se devia, Mas bem no fundo ela sentia-se satisfeita, e depois de registrar-se no hotel, Kate Austen perguntava a si mesma onde tudo aquilo iria parar.



CONTINUA...

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