sexta-feira, 4 de abril de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 5

Capitulo 5



Kate acordou cedo, como era seu costume, e levantou-se da cama para olhar através da janela. O sol da Carolina do Norte projetava prismas dourados através de uma neblina matinal, e ela abriu a porta da varanda para refrescar o quarto.

Ao entrar na banheira, pensava em como fora fácil chegar até ali. Há pouco menos de quarenta e oito horas tinha estado sentada com Penny estudando as cartas, telefonando a procura de Jack.

O plano que por fim preparara era simples.


Visitaria Island Diving e daria uma olhadela pela loja, na esperança de conseguir ver Jack Shepard. Caso descobrisse que era um homem de setenta anos ou um estudante de vinte, ela daria simplesmente meia volta e voltaria para casa.


Mas, se os instintos delas estivessem certos e ele parecesse ser mais ou menos da idade dela, ela tentaria falar com ele. Por essa razão resolvera aprender alguma coisa sobre mergulho - queria dar a entender que conhecia o assunto. E provavelmente conseguiria saber mais dele se pudesse falar de algo em que ele estivesse interessado, sem ter que revelar muito de si mesma. Teria então um melhor domínio sobre as coisas.

Mas e depois? Essa era a parte sobre a qual ela não estava muito certa. Não queria contar a Jack toda a verdade sobre a razão que a trouxera ali - iria parecer uma loucura.


"Olá, eu li as cartas que escreveu a Sarah, e sabendo o quanto a amou, pensei que você poderia ser o homem de quem tenho andado à procura. Não, isso estava fora de questão, e a outra opção não parecia muito melhor - Olá, sou do Chicago Tribune e descobri as suas cartas. Será que podíamos fazer uma reportagem sobre você? Também não parecia certo. Tão pouco qualquer das outras ideias que lhe passavam pela cabeça. "

Mas ela não tinha chegado tão longe para desistir agora, apesar de não saber o que dizer. Além disso, como dissera Penny, se não desse certo voltaria a Chicago.

Saiu.

A sua primeira parada foi numa loja de conveniência, onde comprou um mapa de Wilmington. O empregado também lhe deu direções, e ela encontrou facilmente o caminho, apesar de Wilmington ser maior do que ela imaginara. As ruas estavam cheias de automóveis, especialmente junto às pontes que davam para as ilhas mesmo ao largo da costa. Carolina Beach e Wrightsville Beach, eram alcançadas por pontes que partiam da cidade, e era para aí que a maioria do tráfego parecia dirigir-se. Island Diving situava-se perto da marina. Depois de ter atravessado a cidade, o trânsito ficou um pouco menos congestionado, e ao chegar à estrada que procurava, abrandou a marcha e procurou pela loja.

Não ficava longe do ponto onde tinha virado. Era um edifício antigo de madeira, desbotado por causa do ar salgado e das brisas marinhas. O letreiro pintado à mão estava preso por duas correntes de metal enferrujadas, e as janelas tinham o aspecto velho provocado por inumeras tempestades.


Saiu do carro, afastou o cabelo do rosto, e dirigiu-se para a entrada. Parou antes de abrir a porta para respirar fundo e concentrar-se, depois entrou, fazendo o seu melhor para fingir que estava ali por razões banais.

Deu uma olhada na loja, caminhando ao longo dos corredores, observando os vários clientes a tirar e a repor artigos das prateleiras. Estava atenta para ver se reparava em alguém com ar de trabalhar ali. Olhou furtivamente para todos os homens na loja, perguntando, É o Jack? A maior parte, porém, parecia ser cliente.

Dirigiu-se para a parede de trás e pos-se a olhar para uma série de artigos de jornais e revistas, emoldurados e laminados, pendurados por cima das prateleiras. Depois de uma rápida olhada, inclinou-se para a frente e de repente percebeu que descobrira a resposta para a primeira pergunta que tinha sobre o misterioso Jack Shepard.

Finalmente sabia qual era a sua aparência.

O primeiro artigo, fotocopiado de um jornal, era sobre mergulho, e a legenda por baixo da fotografia dizia simplesmente: "Jack Shepard da Island Diving, preparando a sua classe para o primeiro mergulho no oceano".

Ela e Penny tinham razão sobre ele. Aparentava trinta e tal anos, com uma cara magra e cabelo castanho curto Ele era cerca de cinco centímetros mais alto que o estudante, e a camisa sem mangas que usava revelava músculos bem demarcados nos seus braços.

Porque a fotografia era um pouco granulosa, não conseguia ver a cor dos olhos, embora pudesse perceber que o rosto mostrava rugas nos cantos dos olhos, embora isso pudesse ter sido provocado pelo sol.

Leu o artigo com atenção, tomando nota de onde ele normalmente dava as suas aulas.


O outro artigo era sobre o Happenstance. Tinham sido tiradas oito fotografias do barco de vários ângulos, por dentro e por fora, todas com indicios da restauracao. O barco era quase único, pois era feito inteiramente de madeira e tinha sido construído originalmente em Lisboa, Portugal, em 1927. Quando Jack Shepard o comprara há quatro anos, estava já em estado de ruína, e o artigo dizia que ele e a sua mulher, Sarah, o haviam restaurado.


Sarah...

Kate olhou para a data do artigo. Abril de 2000. O artigo não dizia que Sarah tivesse morrido, e visto que uma das cartas que ela possuía fora encontrada há três anos em Norfolk, isso significava que Sarah devia ter falecido em 2001.

- Posso ajudá-la?

Kate virou-se instintivamente para a voz atrás dela. Esta pessoa não era ele, obviamente.

- Assustei-a? - perguntou ele, e Kate abanou depressa a cabeça.

- Não... estava vendo as fotografias.

Ele acenou com a cabeça na direção delas.

- É qualquer coisa, não é.
- O quê?
- Happenstance. Jack - o dono da loja - reconstruiu-o. É um barco impressionante. Um dos mais bonitos que já vi, agora que já está acabado.
- Ele está aqui? Jack, quero dizer.
- Não, está lá em baixo nas docas. Ele só aparece por aqui lá para o fim da manhã.
- Oh...
- Posso ajudá-la a encontrar qualquer coisa? Sei que a loja está um pouco desarrumada, mas tudo o que precisa para fazer mergulho pode encontrar aqui.

Ela abanou a cabeça.

- Não, obrigada, na verdade estava só dando uma volta.
- Está bem, mas se puder ajudá-la a encontrar alguma coisa, chame-me.
- Com certeza - disse ela, e o jovem acenou bem-disposto com a cabeça, depois voltou-se e dirigiu-se para o balcão na parte da frente da loja. Antes que ela pudesse conter as palavras, ouviu-se perguntar:

- Disse que Jack estava nas docas?

Ele voltou-se de novo e continuou a andar para trás enquanto falava.

- Sim, a dois quarteirões daqui pela estrada. Na marina. Sabe onde fica?
- Acho que passei por lá quando vinha para ca.
- Ele deve estar por lá mais uma hora ou coisa assim. Quer que deixe uma mensagem?
- Não, não é preciso. Não é assim tão importante.

Passou os três minutos seguintes fingindo examinar diferentes artigos nas prateleiras, depois saiu porta fora despedindo-se com um aceno ao jovem. Mas em vez de ir para o carro, tomou a direção da marina.


Quando chegou à marina, olhou em volta, esperando ver o Happenstance. Encontrou-o facilmente uma vez que a grande maioria dos barcos era branca e o Happenstance de madeira natural. Encaminhou-se então para a devida rampa.

Embora se sentisse nervosa quando começou a descer a rampa, os artigos na loja tinham-lhe dado algumas ideias sobre o que conversar. Quando o encontrasse, ela explicaria simplesmente que depois de ler o artigo sobre o Happenstance, quisera vir ver o barco de perto. Iria parecer confiavel, e com sorte poderia conseguir uma conversa mais longa. Então, claro, ficaria já com uma ideia de como ele era em pessoa. E depois disso... bem, depois veria.

à medida que se aproximava do barco, porém, a primeira coisa em que reparou foi que ninguém parecia estar por perto. Não havia ninguém a bordo, não havia ninguém nas docas, e parecia que ninguém ali estivera durante a manhã inteira. O barco encontrava-se com a vela coberta, e nada parecia fora do lugar. Depois de olhar em volta à procura de um sinal dele, verificou o nome na popa. Era de fato Happenstance. Afastou para o lado algum cabelo que o vento lhe atirara à cara, enquanto ponderava sobre o assunto. Estranho, pensou, o homem na loja dissera-lhe que ele estaria ali.


Em vez de voltar imediatamente para a loja, ela demorou-se um momento para apreciar o barco. Era muito bonito e bem constituído, ao contrário dos que o rodeavam. Tinha muito mais caráter do que os outros barcos à vela atracados a seu lado, e ela percebeu porque é que o jornal fizera uma reportagem sobre ele. De certa maneira, lembrava-lhe uma versão muito pequena dos navios de piratas que ela tinha visto no cinema. Decidiu por ir a Island Diving um pouco mais tarde. Era evidente que o homem da loja estava enganado. Depois de um último relance ao barco, voltou-se para se ir embora.

Um homem encontrava-se na rampa a alguns metros de distância, observando-a com atenção.

Jack...

Transpirava devido ao calor da manhã, e tinha a camisa encharcada nalguns lugares. As mangas tinham sido rasgadas, revelando músculos firmes nos braços e antebraços. As mãos estavam pretas com o que parecia ser óleo, e o relógio de mergulhador que trazia no pulso parecia riscado, como se o usasse há anos. Vestia calções castanhos-claros, calçava mocassins sem meias e tinha o aspecto de alguém que passava a maior parte do seu tempo, se não todo o tempo, perto do oceano.

Ele observou-a quando ela deu, involuntariamente, um passo para trás.

- Posso ajudá-la em alguma coisa? - perguntou. Ele sorriu mas não se aproximou dela, como se receasse que ela se sentisse encurralada. Foi exatamente como ela se sentiu quando os seus olhos se encontraram.

Durante um momento tudo o que ela foi capaz de fazer foi olhar para ele. Apesar de o ter visto numa fotografia, ele era mais bonito do que esperava, embora não soubesse ao certo porquê. Era alto e tinha ombros largos. Os olhos eram de tonalidade castanho-esverdeados e pareciam hipnotiza-la havia nele certamente algo de cativante. Algo de masculino no seu porte perante ela. Sentiu as pernas bambas.


Lembrando-se do seu plano, respirou fundo. Acenou em direção ao Happenstance.

- Estava apenas admirando o seu barco. É mesmo belo. Esfregando as mãos uma na outra para remover algum do óleo em excesso, ele disse cortesmente:

- Obrigado, é muito gentil da sua parte.

O olhar fixo dele a deixava tonta e subitamente tudo lhe veio à cabeça de uma só vez - encontrar a garrafa, a sua crescente curiosidade, a investigação que tinha feito, a sua viagem a Wilmington, e finalmente aquele encontro, cara a cara. Aturdida, ela fechou os olhos e tentado se controlar. De certo modo não esperara que aquilo acontecesse tão depressa. Sentiu de repente um momento de terror puro.

Ele deu um pequeno passo em frente.

- Sente-se bem? - perguntou numa voz preocupada.

Respirando fundo novamente e esforçando-se por se descontrair, ela disse:

- Sim, acho que sim. Foi só uma pequena tontura.

- Tem certeza?

Ela passou a mão pelo cabelo, envergonhada.

- Sim. Estou bem agora, Sério.

- Ainda bem - disse ele, como se esperando para ver se ela dizia a verdade. Em seguida, perguntou com curiosidade. - Já nos conhecemos?

Kate abanou lentamente a cabeça.

- Acho que não.

- Então como é que sabia que o barco era meu?

Aliviada, ela respondeu:

- Oh... vi a sua fotografia na loja, nos artigos na parede, com as fotografias do barco. O rapaz lá na loja disse que estaria aqui, e eu pensei que deveria ver com os meus próprios olhos.

- Ele disse que eu estava aqui?

Ela fez uma pausa enquanto se lembrava das palavras exatas.

- Na verdade, ele disse-me que você estava nas docas. Eu apenas supus que isso quereria dizer que você estava aqui.

Ele acenou com a cabeça.

- Estava no outro barco, o que usamos para o mergulho.

Um pequeno barco de pesca fez soar a sua sirene, e Jack voltou-se e acenou para o homem que estava no convés. Depois do barco ter passado, ele olhou de novo para ela e ficou admirado com a sua beleza. Parecia ainda mais bonita vista de perto do que quando a tinha visto do outro lado da marina. Num impulso, ele baixou o olhar e estendeu a mão para tirar o lenço vermelho que trazia no bolso de trás das calças. Limpou o suor da testa.

- Fez um belo trabalho de restauração - disse Kate.

Ele sorriu vagamente enquanto guardava o lenço.

- Obrigado, é gentil da sua parte.

Kate olhava para o Happenstance enquanto falava, depois olhou de novo para ele.

- Eu sei que não tenho nada a ver com isso - disse casualmente -, mas já que está aqui, importa-se que lhe faça algumas perguntas sobre ele?

Ela pôde perceber pela expressão dele que não era a primeira vez que lhe pediam para falar sobre o barco.

- O que é que gostaria de saber?

Ela fez o seu melhor para manter um tom de conversa.

- Bem, estava assim em tão mau estado quando o comprou como sugere o artigo?

- Na verdade estava pior. - Ele deu um passo em frente e apontou para os vários pontos do barco à medida que se ia referindo a eles. - A maior parte da madeira junto à proa tinha apodrecido, havia uma série de rombos nos lados - era um milagre ele ainda flutuar. Acabamos por ter de substituir grande parte do casco e do convés, e o que restou dele teve de ser lixado completamente e depois vedado e envernizado de novo. E isso foi só a parte de fora. Também tivemos de fazer a parte de dentro, e isso levou muito mais tempo.

Embora ela tivesse reparado que ele usara o plural na sua resposta, decidiu não fazer qualquer comentário sobre o fato.

- Deve ter sido muito trabalhoso.

Ela sorriu quando falou, e Jack sentiu algo como um soco no estomago. "Damn it!, ela é bela."

- Foi, mas valeu a pena. É mais divertido velejar nele do que nos outros barcos.

- Porquê?

- Porque foi construído por pessoas que o usavam como modo de ganhar a vida. Puseram muito cuidado e dedicação na sua construção, e isso torna a navegação muito mais fácil.

- Suponho que já saiba velejar há muito tempo.

- Desde criança.

Ela acenou com a cabeça. Depois de uma breve pausa, deu um pequeno passo em direção ao barco.

- Importa-se?

Ele abanou a cabeça.

- Não, esteja à vontade.

Kate aproximou-se do barco e passou as mãos ao longo do flanco do casco. Jack reparou que ela não usava aliança, embora isso não devesse ter qualquer importância. Sem se voltar, Kate perguntou:

- Que tipo de madeira é esta?

- Mogno.

- O barco todo?

- A maior parte. Tirando os mastros e parte do interior. Ela acenou de novo com a cabeça, e Jack observou-a a caminhar ao lado do Happenstance. à medida que ela se afastava, ele não podia deixar de notar a sua figura e como o seu cabelo liso e escuro roçava os ombros em pequenos cachos. Mas não era apenas a aparência dela que lhe chamava a atenção - havia confiança na maneira como ela se movimentava. Era como se ela soubesse exatamente o que os homens pensavam quando ela estava perto deles, percebeu ele subitamente. Abanou a cabeça.

- É mesmo verdade que usaram este barco para espiar os alemães na Segunda Guerra Mundial? - perguntou ela, voltando-se para ele.

Ele soltou um riso abafado, fazendo o seu melhor para pôr a cabeça no lugar.

- Isso foi o que o anterior proprietário me disse, mas não sei se era verdade ou se o disse para conseguir um preço mais alto.

- Bem, mesmo que não tenha sido, ainda assim é um belo barco. Quanto tempo levou para restaurá-lo?

- Quase um ano.

- Em que barco andava enquanto restaurava o Happenstance?

- Não andávamos. Não havia tempo suficiente, não com o trabalho na loja, dar aulas, e tentar arranjar o barco.

- você sentiu-se mal por não poder velejar? - disse ela com um sorriso.

Pela primeira vez, Jack percebeu que estava divertindo-se com a conversa.

- Claro. Mas tudo ficou bem logo que acabamos e o lançamos ao mar.

De novo, ela ouviu-o usar o plural.

- Acredito.

Depois de admirar o barco durante mais alguns segundos, voltou para junto dele. Por um instante, nenhum dos dois falou. Jack perguntava a si mesmo se ela sabia que ele a observava de soslaio.

- Bem - disse ela por fim, cruzando os braços. - Já tomei muito do seu tempo.

- Não faz mal - disse ele, e sentiu mais uma vez o suor na testa. - Adoro falar sobre velejar.

- Também gostaria. Sempre me pareceu divertido.

- Acho que nunca andou de barco à vela.

Ela encolheu os ombros.

- Nunca. Sempre quis fazê-lo, mas na verdade nunca tive a oportunidade.

Ela olhou para ele enquanto falava, e quando os seus olhos se cruzaram, Jack deu por si à procura do seu lenço pela segunda vez em poucos minutos. "Caramba, está calor aqui." Limpou a testa e ouviu as palavras saírem da sua boca antes que as pudesse deter.


- Bem, se quiser vir, eu normalmente saio para o mar depois do trabalho. Se quiser, terei muito gosto em que me acompanhe esta tarde.

Porque teria dito ele aquilo, não sabia ao certo. Talvez, pensou ele, o desejo de uma companhia feminina depois de todos aqueles anos, mesmo só por um curto período de tempo. Ou talvez tivesse alguma coisa a ver com a maneira como os olhos dela se iluminavam sempre que ela falava. Mas qualquer que fosse a razão, ele acabara de convidar-la e nada poderia alterar esse fato.

Kate também ficou um pouco surpreendida, mas decidiu logo aceitar. Era aquela, afinal, a razão porque viera a Wilmington.

- Adoraria - disse ela. - A que horas?

Ele guardou o lenço, sentindo-se um pouco desconcertado com o que acabara de fazer.

- Que tal sete horas? O Sol começa a pôr-se então, e é a hora ideal para sair.

- Sete horas está ótimo para mim. Trago alguma coisa para comermos. - Para surpresa de Jack, ela parecia ao mesmo tempo satisfeita e entusiasmada com a perspectiva.

- Não tem de fazer isso.

- Eu sei, mas é o mínimo que posso fazer. Afinal, não tinha que me convidar. Podem ser sanduíches?

Jack deu um pequeno passo atrás, subitamente precisando de um pequeno espaço para respirar.

- Sim, ótimo. Não sou assim tão exigente.

- Muito bem - disse ela, depois fez uma breve pausa. Transferiu o seu peso de um pé para o outro, esperando para ver se ele dizia mais alguma coisa. Como ele nada disse, ela ajustou distraidamente a alça da bolsa no ombro. - Bem, encontramo-nos então logo à tarde. Aqui no barco, certo?

- Aqui mesmo - disse ele, e apercebeu-se de como soava tão tenso. Pigarreou e sorriu um pouco.


- Vai ser divertido. Vai gostar.

- Tenho certeza que sim. Até logo.

Ela voltou-se e começou a andar e o seu cabelo voou com a brisa. Estava afastando-se quando Jack percebeu do que se esquecera.

- Ei! - gritou.

Ela parou e voltou-se para ele, usando a mão para proteger os olhos do sol.

- Sim?

Mesmo à distância ela era bonita. Ele deu alguns passos na direção dela.

- Esqueci de perguntar: como é que se chama?

- Sou Kate. Kate Austen.

- Jack Shepard.

- Muito bem, Jack. Até às sete.

Com isto, deu meia volta e encaminhou-se ligeira para fora das docas. Jack observou a figura dela desaparecer, tentando compreender as suas próprias emoções contraditórias. Embora uma parte dele se sentisse entusiasmada com o que acabara de acontecer, a outra parte achava que havia algo de errado naquilo tudo. Sabia que não havia qualquer razão para se sentir culpado, mas a sensação estava decididamente presente, e desejava que houvesse alguma coisa que pudesse fazer em relação a isso.

Mas não havia, claro. Nunca havia.



CONTINUA...

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