terça-feira, 15 de abril de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 8

Capitulo 8



Kate passou o resto da tarde explorando a cidade enquanto Jack trabalhava no escritório.


Como não conhecia bem Wilmington, pediu indicações para o centro histórico e passou algumas horas olhando as lojas. Mas nada naquele belo lugar parecia deixa-la mais calma. A medida que o tempo passava, ela ficava mais ansiosa.


O convite de Jack para jantar a surpreedera realmente. Sera que tratava-se apenas de uma cortesia, ou de alguma forma ela conseguira amolescer o coracao de Jack Shepard? Sem conseguir se concentrar, voltou para o hotel para dormir um pouco. Os últimos dois dias tinham-na cansado, por isso adormeceu imediatamente.

Jack, ao seu modo, enfrentava pequenas crises sucessivas. Uma encomenda de novos equipamentos chegou logo errada,mais tarde surgiram problemas com alunos de mergulho, o trabalho o consumira tanto que nem sequer voltou a pensar no jantar.

às seis e meia já estava cansado, e respirou de alívio quando finalmente fechou a loja à tardinha. Depois do trabalho passou primeiro na mercearia e comprou as coisas de que precisava para o jantar. Tomou um banho e vestiu umas calças de moleton e uma camisa branca de algodão. Em seguida pegou uma cerveja. Depois de abrir, foi para a varanda e sentou-se numa das cadeiras de ferro forjado. Olhando para o relógio, deu conta de que Kate estaria ali, dentro de pouco tempo.

Jack estava ainda sentado na varanda quando finalmente ouviu o som de um motor em marcha lenta descendo o quarteirão. Desceu a varanda e deu a volta vendo Kate estacionar na rua atrás do seu carro.
Ela saiu do carro usando jeans e a mesma blusa que realçava maravilhosamente o corpo. Parecia descontraída quando veio ao seu encontro, e quando sorriu calorosamente para ele, Jack percebeu que a sua atração se tornara mais forte desde o almoço daquela tarde, o que, por alguma razão, o tornava um pouco inquieto.

Encaminhou-se para ela o mais despreocupadamente possível, e Kate encontrou-o a meio caminho, trazendo uma garrafa de vinho tinto nas mãos. Quando chegou perto dela, sentiu o aroma do perfume, algo que ela não tinha usado antes.

- Trouxe vinho - disse ela, entregando-o. - Achei que seria bom para acompanhar o jantar. - E, após uma breve pausa, disse: - Como foi a sua tarde?

- Muito ocupada. Os clientes não pararam de chegar até à hora do fechar e tive um montão de papelada para tratar. Na verdade, só cheguei há pouco. - Ele dirigiu-se para a porta da frente, Kate logo atrás. - E a Kate? O que é que fez durante o resto do dia?

- Dormi - disse ela gozando dele e ele riu. Nao iria contar o quanto pensara nele.

- Esqueci-me de lhe perguntar antes, mas quer alguma coisa especial para o jantar? - perguntou ele.

- Que planeja fazer?

- Talvez grelhar uns bifes, mas não sei se voce come essas coisas.

- Estás brincando? Esqueceu que eu cresci no Nebraska. Adoro um bom bife.

- Então vai ter uma agradável surpresa.

- O quê?

- Eu faço os melhores bifes do mundo.

- Ah faz? Não me diga!

- Vou provar - disse ele, e ela riu, num tom melodioso. Quando se aproximaram da porta da frente, Kate olhou para a casa pela primeira vez.


Era relativamente pequena - retangular e de apenas um piso. Ao contrário das casas em Wrightsville Beach, esta encontrava-se diretamente sobre a areia.


Quando lhe perguntou porque é que a casa não estava erguida em estacas como as outras, ele explicou que ela fora construída antes das regras de construção anticiclones terem entrado em vigor.

- Agora as casas têm de ser levantadas para que as marés possam passar por baixo da estrutura principal. O próximo grande furacão irá provavelmente arrastar esta velha casa para o alto mar, mas tenho tido sorte até agora.

- Isso não o preocupa?

- Não muito. A casa não vale grande coisa, e foi essa a única razão porque a pude comprar. O proprietário acabou se cansando da tensão que sentia sempre que uma grande tempestade começava a atravessar o Atlântico.

Chegaram às escadas e entraram. A primeira coisa em que Kate reparou ao entrar foi a vista da sala de estar. As janelas iam do chão até ao teto e estendiam-se ao longo de todo o comprimento dos fundos da casa, dando para a varanda e para Carolina Beach.

- Esta vista é incrível - disse ela, surpresa.

- É, não é? já vivo aqui há alguns anos, mas ainda não deixei de admirar.

Num dos lados havia uma lareira, rodeada por uma dúzia de fotos. Ela encaminhou-se para elas.


- Importa-se que eu dê uma olhada?

- Não, fique à vontade. Tenho que preparar a grelha lá fora. Precisa de uma pequena limpeza.

Jack saiu através da porta de vidro corrediça. Depois dele sair, Kate olhou para as fotografias durante algum tempo e depois fez uma excursão pelo resto da casa. Como muitas das casas de praia que já vira, não havia espaço para mais de uma ou duas pessoas lá viverem. Tinha apenas um quarto de dormir, no qual se entrava através de uma porta que dava para a sala. Na parte da frente da casa havia uma cozinha, uma pequena área para refeições e um banheiro. Embora tudo estivesse arrumado e limpo, a casa parecia não ter obras há anos.


Satisfazendo sua curiosidade havia apenas um lugar que ela queria explorar.Parou junto do quarto dele e olhou. De novo viu fotos decorando as paredes. Além disso havia um grande mapa da costa da Carolina do Norte pendurado diretamente sobre a cama. Quando olhou na direção da mesa de cabeceira, viu a foto emoldurada de uma mulher. Certificando-se de que Jack ainda estava lá fora, ela entrou no quarto para olhá-la de perto.

Sarah devia ter vinte e tal anos quando a foto foi tirada. Tal como as fotos nas paredes, parecia que Jack mesmo a fotografara e ela perguntava-se se a foto fora emoldurada antes ou depois do acidente. Pegando na moldura, ela reparou que Sarah era atraente - um pouco mais petite do que ela - com cabelo louro no meio dos ombros. Os olhos de Sarah eram verdes escuros e quase felinos, davam-lhe uma aparência exótica e pareciam quase como se estivessem a olhar fixamente para ela.


Pousou a moldura com cuidado na mesa de cabeceira, certificando-se de que estava na mesma posição que anteriormente. Tal como a sala, o quarto também tinha janelas do chão ao teto com vista para a praia.Voltando-se, continuou com a impressão de que Sarah observava cada movimento seu.


Ignorando a sensação, olhou para o espelho sobre a comoda. Uma fotografia de Jack e Sarah sorrindo abertamente, de pé no convés do Happenstance. Como o barco parecia já estar restaurado, Kate deduziu que a foto tinha sido tirada apenas alguns meses antes de Sarah ter morrido.


Sabendo que ele poderia entrar em casa a qualquer momento, saiu do quarto, sentindo-se um pouco culpada por ter bisbilhotado. Dirigiu-se às portas corrediças que davam da sala para a varanda e abriu-as. Jack limpava a grelha e sorriu quando a ouviu sair. Ela caminhou até à beira da varanda onde ele estava e encostou-se a grade, com uma perna por cima da outra.

- Foi voce que tirou todas aquelas fotos nas paredes? - perguntou ela. Ele usou as costas da mão para afastar o suor da testa.

- Foi. Houve uma epoca que levava a máquina em quase todos os mergulhos. Pendurei a maior parte na loja, mas como tinha tantas, pensei em pôr algumas aqui também.


- Parecem de um profissional.

- Obrigado. Mas acho que a qualidade tem mais a ver com a quantidade enorme que tirei. Devia ter visto todas aquelas que não saíram.

Enquanto falava, Jack segurava a grelha. Embora estivesse queimada de preto em alguns lugares, parecia estar pronta. Pegou num saco de carvão e deitou algum para uma grelha que parecia ter trinta anos, usando a mão para o espalhar por igual. Depois acrescentou um pouco de combustível, embebendo cada pedra apenas por um instante. Ela falou no mesmo tom de gozo que usara antes.


- Sabe, agora já existem grelha a gás.

- Eu sei, mas eu gosto de preparar como fazíamos quando éramos crianças. Além disso o sabor é muito melhor assim. Grelhar com gas é a mesma coisa que cozinhar dentro de casa.

Ela sorriu.

- E prometeu-me o melhor bife que alguma vez irei comer.

- E vai tê-lo. Confie em mim. - Ele terminou com o combustível e colocou-o ao lado do saco de carvão. - Vou deixar isto embeber durante uns minutos. Quer beber alguma coisa?

Kate perguntou:

- O que é que tem?

Jack clareou a garganta.

- Cerveja, refrigerantes, ou o vinho que trouxe.

- Pode ser uma cerveja.

Jack pegou o carvão e o combustível e pôs dentro de um velho baú que se encontrava ao lado da casa. Depois de sacudir a areia dos sapatos, entrou em casa, deixando a porta de vidro corrediça aberta.

Enquanto esperava por ele, Kate voltou-se e olhou para a extensão da praia. Agora que o Sol se pôra, a maior parte das pessoas tinha desaparecido, e as poucas que restavam faziam jogging ou passeavam a pé. Apesar da praia não estar cheia, mais de uma dúzia de pessoas passara pela casa no curto espaço de tempo em que ele demorara lá dentro.

- Nunca se cansa de ter todas estas pessoas à volta? - perguntou ela quando ele voltou.

Ele entregou-lhe a cerveja.

- Nada! também não estou muito tempo em casa. Normalmente quando chego, a praia já está bastante deserta. E no Inverno não há absolutamente ninguém.

Apenas por um instante, ela imaginou-o sentado na sua varanda, olhando a água sozinho como sempre. Jack meteu a mão no bolso e tirou de lá uma caixa de fósforos. Acendeu o carvão afastando-se quando as chamas irromperam. A brisa ligeira fazia o fogo dançar em círculo.

- Agora que já acendi o fogo, vou começar a preparar o jantar.

- Posso ajudá-lo em alguma coisa?

- Não há muito que fazer - respondeu ele. - Mas se tiver sorte, talvez lhe revele a minha receita secreta.

Ela inclinou a cabeça e olhou para ele com ar matreiro.

- Sabe que está pôndo a faisca bastante alta em relação a esses bifes.

- Eu sei. Mas tenho fé.

Ele piscou e ela riu-se antes de o seguir para dentro em direção à cozinha. Jack abriu um dos armários e tirou algumas batatas. Depois de acender o forno, embrulhou as batatas em folha de alumínio e colocou-as no tabuleiro.

- Que posso fazer?

- Como disse, não muito. Acho que tenho tudo sob controle. Comprei uma daquelas saladas pré-embaladas e não há mais nada no cardápio.

Kate afastou-se para um canto observando enquanto Jack punha as últimas batatas no forno e tirava a salada da geladeira. De soslaio, ele olhou para ela enquanto colocava a salada dentro de uma tigela.

O que havia nela que o fazia de repente querer estar o mais próximo possível? Pensando nisso, abriu a geladeira e tirou os bifes que pedira para cortar especialmente para aquela noite. Abriu o armário ao lado e encontrou o resto das coisas de que precisava. Depois de as retirar, colocou tudo perto de Kate.

Ela lançou-lhe um sorriso provocador.

- Então, o que há de tão especial nestes bifes grelhados?

Concentrando-se, ele deitou um pouco de brandy numa tigela rasa.

- Há algumas coisas. Primeiro, arranjam-se alguns bifes grossos como estes. Normalmente não se corta assim tão grossos, por isso tem de pedir especialmente para lhe fazerem esse favor. Depois tempera-os com um pouco de sal, pimenta, e alho em pó, e deixa-os embeber no brandy até o carvão ficar em brasa.

Ele fez o que explicou enquanto falava, e pela primeira vez desde que ela o conhecera, ele aparentava a idade que tinha. Com base no que havia dito, podia concluir que era pelo menos quatro anos mais velho do que ela. E como era bonito. Ela não podia deixar de se sentir atraída por ele.

- É esse o seu segredo?

- É só o começo - prometeu ele, subitamente consciente de como ela estava bela. - Mesmo antes de irem para a grelha, acrescenta-se um pouco deste produto para tornar a carne tenra. O resto tem a ver com a maneira como são grelhados, e não com o tempero.

- Parece que é um verdadeiro cozinheiro.

- Na verdade não. Sei fazer algumas coisas, mas hoje em dia não cozinho muito. Quando chego em casa normalmente apetece-me qualquer coisa que não exija muito esforço.

- Também sou assim. Se não fosse pelo Kevin acho que não cozinharia muito.

Depois de acabar de preparar os bifes, ele foi de novo até à gaveta de onde retirou uma faca, voltando para o lado dela. Pegou em dois tomates que estavam em cima do balcão e começou a cortá-los.

- Parece que tem uma ótima relação com Kevin.

- Tenho. Só espero que continue. Ele é quase adolescente agora, e preocupa-me que quando ele for mais velho, vá querer passar menos tempo comigo.

- Se fosse você não me preocuparia muito. Pela maneira como me fala dele, acho que os dois se darão sempre bem.

- Espero que sim. Neste momento, ele é tudo o que tenho. Não sei o que faria se ele começasse a afastar-me da sua vida. Tenho alguns amigos que têm filhos um pouco mais velhos do que ele que me dizem que isso é inevitável.

- Tenho certeza de que ele vai mudar um bocadinho. Todos mudam, mas isso não significa que ele deixará de falar contigo.

Ela olhou para ele.

- Está falando por experiência própria ou estás dizendo aquilo que eu quero ouvir?

Ele encolheu os ombros, sentindo de novo o perfume dela.

- Estou apenas a lembrando do que passei com o meu pai. Sempre fomos muito unidos quando era criança, e isso não mudou quando fui para a escola secundária. Comecei a fazer coisas diferentes e a passar mais tempo com os meus amigos, mas continuamos sempre a falar um com o outro.

- Espero que também seja assim comigo - disse ela.

Um silêncio tranquilo desceu sobre eles com a preparação do jantar. O simples ato de cortar tomates com ela a seu lado aliviava a ansiedade que ele havia sentido até então. Kate era a primeira mulher que convidara para sua casa, e Jack percebeu que havia algo de confortável em tê-la ali.

Quando acabou, Jack pôs os tomates na tigela da salada e limpou as mãos numa toalha de papel. Depois pegou a sua segunda cerveja.

- Quer beber mais uma?

Ela bebeu o resto da sua garrafa, surpresa por tê-la acabado tão depressa. Acenou que sim com a cabeça, colocando a garrafa vazia sobre o balcão. Jack abriu a nova garrafa e passou-a a Kate, abrindo depois outra para si. Kate estava descontraidamente encostada ao balcão, e quando pegou na garrafa, algo lhe pareceu surpreendentemente familiar na sua postura: o sorriso percorrendo suavemente os seus lábios, talvez, ou o seu olhar enviesado enquanto o observava a levar a sua própria garrafa aos lábios.

Lembrou-se de novo daquela indolente tarde de verão com Sarah, quando viera para casa fazer-lhe uma surpresa ao almoço - um dia que em retrospectiva lhe parecera tão repleto de sinais... no entanto como poderia ter ele antevisto tudo o que iria acontecer? Estavam na cozinha, tal como ele e Kate naquele momento.

Ele engoliu em seco, percebendo de repente do silêncio na cozinha.

- Vou ver como está o fogo - disse ele, precisando de uma coisa, qualquer coisa, para fazer. - Espero que já esteja quase pronto.

- Posso pôr a mesa enquanto for ver?

- Claro. A maior parte das coisas de que precisa estão aqui.

Depois de lhe mostrar onde encontrar o que precisava, ele foi lá para fora, esforçando-se por se descontrair e afastar da sua mente as recordações. Quando chegou a grelha, examinou o carvão, concentrando-se naquilo que estava a fazer. Quase branco, o carvão precisava de mais alguns minutos, calculou ele. Foi novamente até ao baú, e desta vez tirou de lá um pequeno abanador. Colocou-o sobre a grade ao lado da grelha e respirou fundo. O ar do oceano estava fresco, quase embriagante, e pela primeira vez, percebeu subitamente que apesar da visão de Sarah que tivera apenas há alguns instantes atrás, continuava contente por Kate ali estar. Na realidade, estava feliz, algo que não sentia havia muito tempo.


Não era apenas a maneira como eles se davam um com o outro, mas eram as pequenas coisas que Kate fazia. O modo como ela sorria, a maneira como olhava para ele, até a maneira como ela tinha pegado na mão dele naquela tarde - começava já a sentir como se a conhecesse há mais tempo. Perguntava a si mesmo se seria por ela ser parecida com Sarah, em tantas coisas, ou se o seu pai tivera razão sobre ele precisar passar algum tempo com outra pessoa.

Enquanto ele estava lá fora, Kate punha a mesa. Colocou um copo de vinho ao lado de cada prato e vasculhou na gaveta à procura de talheres. Encontrou duas velas com dois pequenos suportes para cada uma. Depois de se interrogar se seria excessivo decidiu colocá-las também na mesa. Deixaria a critério dele acendê-las ou não. Jack entrou quando ela estava terminando.

- Temos alguns minutos. Quer sentar-se lá fora enquanto esperamos?

Kate pegou sua cerveja e seguiu-o. Tal como na noite anterior, soprava uma brisa que não era nem de perto tão forte. Ela sentou-se numa das cadeiras e Jack a seu lado com as pernas cruzadas sobre os tornozelos. A camisa clara fazia sobressair a sua pele profundamente bronzeada, e Kate observou-o enquanto ele olhava para a água. Ela fechou os olhos durante um instante, sentindo-se mais viva do que se sentia há muito tempo.

- Aposto que não tem uma vista como esta onde vive em Chicago - disse ele quebrando o súbito silêncio.

- Tem razão - disse ela -, não tenho. Vivo num apartamento. Os meus pais acham que sou louca por viver no centro. Acham que devia viver nos subúrbios.

- Porque não vive?

- Vivi, antes do divórcio. Mas agora é tudo mais fácil. Posso chegar ao trabalho em apenas alguns minutos. A escola de Kevin fica ao fim do quarteirão, e nunca tenho de apanhar a auto-estrada a não ser que saia da cidade. Além disso queria algo diferente depois do casamento ter acabado. Não conseguia suportar os olhares que os meus vizinhos me lançavam depois de descobrirem que o James tinha ido embora.

- Que quer dizer?

Ela encolheu os ombros, e a sua voz suavizou-se.

- Nunca disse a nenhum deles porque é que eu e o James nos separamos. Achei que não tinham nada a ver com o assunto.

- E não tinham.

Ela fez uma breve pausa, lembrando-se.

- Eu sei isso, mas na mente deles, James era um marido maravilhoso. Era bonito e bem sucedido na vida, e eles não queriam acreditar que tivesse feito algo de errado. Mesmo quando estávamos juntos, ele agia como se tudo estivesse perfeito. Não tinha ideia nenhuma de que ele estava tendo um caso mesmo perto do fim.

Ela virou-se para ele, com uma expressão triste no rosto. - Como se costuma dizer, a mulher é sempre a última a saber.

- Como é que descobriu?

Ela abanou a cabeça.

- Sei que parece um cliché, mas dentre todas as pessoas, descobri através da empregada da lavanderia. Quando fui buscar as roupas dele, a empregada entregou-me algumas faturas que tinha encontrado no bolso. Uma era de um hotel no centro da cidade. E eu sabia pela data que ele tinha estado em casa naquela noite, por isso deve ter sido apenas por uma tarde. Ele negou tudo quando o confrontei, mas pela maneira como olhava para mim, eu sabia que ele mentia. Por fim, a história acabou por vir a tona, foi então que pedi o divórcio.

Jack escutava em silêncio, deixando-a terminar, perguntando a si mesmo como é que ela poderia ter se apaixonado por alguém que lhe fez uma coisa daquelas. Como se lesse o seu pensamento, ela continuou:

- Sabe, James era um daqueles homens que podia dizer qualquer coisa e fazer com que acreditássemos nele. Penso até que ele acreditava na maior parte das coisas que me dizia. Conhecemo-nos na faculdade, e fiquei encantada com todas as suas qualidades. Ele era inteligente e cativante, sentia-me lisonjeada por ele se interessar por uma pessoa como eu. Ali estava eu, uma jovem vinda diretamente do Nebraska, com um rapaz que era diferente de todas as pessoas que eu conhecera antes. E quando nos casamos, pensei que iria ter uma vida de conto de fadas. Mas imagino que isso era o que estava mais longe da mente dele. Descobri mais tarde que ele teve o primeiro caso apenas cinco meses depois de nos casarmos.

Ela parou por um momento, e Jack olhou para a sua cerveja.

- Não sei o que dizer.

- Não há nada que possa dizer - disse ela - Já acabou, e como disse ontem, a única coisa que quero dele agora é que seja um bom pai para Kevin.

- Faz tudo parecer tão fácil.

- Não é essa a minha intenção. James magoou-me bastante, e foram precisos alguns anos e mais do que algumas sessões com uma boa terapeuta para chegar onde estou hoje. Aprendi muito com a minha terapeuta, e fui aprendendo muito sobre mim também. Uma vez, quando estava a disparar como ele tinha sido um cafajeste, ela me chamou a atenção para o fato de que se eu continuasse a agarrar-me à minha raiva, ele continuaria a me controlar, e eu não estava disposta a aceitar isso. Por isso resolvi esquecer o assunto.

Ela bebeu mais um gole da sua cerveja. Jack perguntou:

- A sua terapeuta disse-lhe mais alguma coisa de que se recorde?

Ela pensou durante um momento, depois sorriu levemente.

- Por acaso até disse. Disse que se alguma vez encontrasse alguém que me fizesse lembrar James, eu deveria dar meia volta e correr para as montanhas.

- Eu faço lembrar-lhe James?

- De maneira nenhuma. É completamente diferente de James.

- Isso é bom - disse ele com seriedade fingida. - Não há muitas montanhas nesta zona do país, sabe. Teria de correr um bocado.

Ela riu-se, e Jack olhou para a grelha. Vendo que o carvão estava pronto, perguntou:

- Está pronta para começar com os bifes?

- Mostra o resto da sua receita secreta?

- Com prazer - disse ele enquanto se levantavam. Procurou na cozinha o produto para tornar os bifes mais tenros salpicando-os depois um pouco. Tirando ambas as fatias do brandy, acrescentou um pouco do produto nos outros lados também. Abriu a geladeira e tirou um pequeno saco de plástico.

- O que é isso? - perguntou Kate.

- É gordura - a parte gordurosa do bife que normalmente é cortada. Pedi para guardar alguma quando comprei os bifes.

- Para que serve?

- Vai ver - disse ele.

Depois de voltar para a grelha com os bifes e umas pinças, Jack começou a soprar as cinzas que se amontoavam por cima das brasas, explicando-lhe o que fazia.

- Para bem grelhar um bife é necessário certificarmo-nos de que as brasas estão quentes. Use o fole para tirar as cinzas de cima e assim não haverá nada a bloquear o calor.

Repôs a grelha deixou-a aquecer durante cerca de um minuto, e depois usou as pinças para colocar os bifes.

- Como é que gosta do seu bife?

- Ao ponto.

- Com bifes deste tamanho, isso significa cerca de onze minutos de cada lado.

Ela ergueu as sobrancelhas. - É muito rigoroso com isto tudo, não é?

- Prometi-lhe um bom bife, e tenciono cumprir. Durante o pouco tempo que demorou a grelhar os bifes, Jack observou Kate pelo canto do olho. Havia qualquer coisa de sensual na sua figura, recortada pelo Sol poente. O céu estava laranja, e a luz quente escurecia os seus olhos verdes fazendo-a parecer especialmente bonita. O cabelo elevava-se sedutor na brisa do fim de tarde.

- Em que está pensando?

Ele pôs-se direito ao ouvir o som da sua voz, percebendo que não dissera nada desde que começara a cozinhar.

- Estava pensando em como o seu ex-marido foi um idiota - disse ele, voltando-se para ela, e vendo-a a sorrir. Ela deu umas palmadinhas no ombro dele, suavemente.

- Mas se ainda estivesse casada, não estaria aqui contigo.

- E isso - disse ele, sentindo ainda o toque dela -, seria uma pena.

- Sim, seria - concordou ela, e os olhos deles demoraram-se por um momento um no outro. Por fim Jack desviou o olhar e pegou a gordura. Clareando a garganta:

- já estamos prontos para isto agora.

Jack continuou a trabalhar nos bifes. Olhando em volta, Kate comentou:

- Isto aqui é muito sossegado. Entendo porque é que comprou o lugar.

Ele acabou o que estava a fazer e bebeu mais um bocado de cerveja, umedecendo a garganta.

- Há qualquer coisa no mar que faz isso às pessoas. Talvez seja essa a razão por que tanta gente vem para ca repousar.

Ela voltou-se para ele.

- Diga-me, Jack, em que é que pensa quando está aqui sozinho?

- Em muitas coisas.

- Alguma coisa em particular?

Penso em Sarah, queria ele dizer, mas não disse.

Ele suspirou:

- Não, na verdade não. às vezes penso no trabalho, outras vezes penso nos novos lugares que quero explorar nos neus mergulhos. Outras vezes, penso em partir de barco e deixar tudo para trás.

Ela observou-o atentamente quando ele proferiu as últimas palavras.

- Seria capaz de fazer isso? Partir de barco e nunca mais voltar?

- Não tenho certeza, mas gosto de pensar que seria capaz. Ao contrário da Kate, não tenho nenhuma família tirando o meu pai, e de certa maneira, penso que ele compreenderia. Eu e ele somos muito parecidos, e tenho a impressão de que se não fosse por mim, ele já teria partido há muito tempo.

- Mas isso seria como fugir.

- Eu sei.

- Porque queria fazer isso? - insistiu ela, sabendo de certa forma a resposta. Jack não respondeu e ela aproximou-se dele falando suavemente. - Jack, sei que não tenho nada a ver com isso, mas não pode fugir daquilo que estás passando. - Ela fez-lhe um sorriso animador. - E além disso, tem tanto para oferecer a alguém. "A mim por exemplo" ela pensou mas nao teve coragem de dizer.


Ficou a admira-lo e ainda se questionando sobre o poderia fazer para traze-lo a sua realidade, mostrar o quanto queria que ele a visse como mulher. Ate aquele momento, ela ainda nao conseguira uma brecha digna para se expor.

Jack permaneceu em silêncio, pensando no que ela tinha dito, em como ela parecia saber exatamente o que dizer para fazê-lo sentir-se melhor.

Durante os minutos seguintes, os únicos ruídos em redor vieram de outro lugar. Jack voltou os bifes, e eles chiaram sobre a grelha. As ondas rebentavam na praia num rumor tranquilizante e contínuo.

A mente de Jack passou em revista os últimos dois dias. Pensou no momento em que a vira pela primeira vez, nas horas que tinham passado no Happenstance, e na conversa na praia à tarde quando ele lhe falou em Sarah pela primeira vez. A tensão que sentira mais cedo durante o dia tinha agora quase desaparecido, e com ela ali a seu lado, à luz do crepúsculo que se adensava, ele pressentia que havia algo mais naquela noite do que ambos queriam admitir.

Pouco antes dos bifes estarem prontos, Kate voltou para dentro para preparar o resto da mesa. Tirou as batatas do forno, desembrulhou-as da folha de alumínio, e pôs uma em cada prato. Acrescentou a salada e pôs o sal, a pimenta, manteiga, e um par de guardanapos. Como estava escuro dentro de casa, ela acendeu a luz da cozinha, mas pareceu muito brilhante. Voltou a apagá-la.


Num impulso, decidiu acender as velas, afastando-se da mesa em seguida para verificar se seria demais. Achando que estava bem, pegou na garrafa do vinho e estava colocando-a na mesa quando Jack entrou.

Depois de fechar a porta de vidro corrediça, Jack viu o que ela tinha feito. Estava escuro na cozinha exceto pelas duas pequenas chamas apontando para cima, e o brilho fazia Kate parecer mais bonita. O seu cabelo escuro parecia misterioso à luz da vela, e os seus olhos refletiam as chamas inconstantes. Incapaz de falar durante um longo momento, tudo o que Jack pôde fazer foi olhar fixamente para ela, e foi nesse momento que soube exatamente o que estivera negando a si mesmo todo tempo.


- Pensei que ficassem bem - disse ela baixinho.

- Acho que sim.

Continuaram a olhar um para o outro cada um do seu lado da cozinha, ambos paralisados durante um momento. Depois Kate desviou o olhar.

- Não consegui encontrar o saca-rolhas - disse ela, agarrando-se a qualquer coisa para dizer.

- Vou buscá-lo - disse ele depressa. - Não o uso muitas vezes, por isso deve estar escondido numa das gavetas.

Ele levou o prato dos bifes para a mesa e de seguida foi até à gaveta. Depois de vasculhar entre os utensílios no fundo, encontrou o saca-rolhas e trouxe-o para a mesa. Com alguns movimentos ágeis, abriu a garrafa e serviu apenas a quantidade certa em cada copo. Depois, sentando-se, usou as pinças para pôr os bifes nos pratos.

- É o momento da verdade - disse ela mesmo antes de dar a primeira dentada. Jack sorriu enquanto a observava provar o bife. Kate ficou agradavelmente surpresa ao descobrir que ele tivera razão o tempo todo.

- Jack, está delicioso - disse ela com sinceridade.


- Obrigado.

As velas consumiam-se à medida que a noite ia passando devagar, e Jack disse por duas vezes o quanto ele estava feliz por ela ter vindo. De ambas as vezes Kate sentiu algo a formigar na nuca e teve de beber outro gole de vinho apenas para fazer desaparecer a sensação.
Lá fora a maré subia lentamente, observada por uma lua surgida aparentemente de lugar nenhum.
Depois do jantar, Jack sugeriu outro passeio ao longo da praia.


- É muito bonito à noite - disse ele. Assim que Kate aceitou, ele pegou nos pratos e nos talheres e pôs na pia.

Saíram da cozinha e dirigiram-se lá para fora e Jack fechou a porta atrás de si. A noite estava amena. Desceram pela varanda, encaminhando-se através de uma pequena duna de areia até à praia.


Quando chegaram à beira da água, repetiram os movimentos daquela tarde, tirando os sapatos e deixando-os na praia, ja que não havia mais ninguém ao redor. Caminharam lentamente, próximos um do outro. Surpreendendo-a, Jack pegou na sua mão. Sentindo o seu calor, Kate interrogou-se apenas por um instante sobre como seria o toque dele sobre o seu corpo, demorando-se sobre a sua pele. O pensamento fê-la sentir um aperto por dentro, e quando o olhou de relance, perguntou-se se ele sabia o que ela estava pensando.

- Há muito tempo que não tinha uma noite como esta - disse Jack por fim, e a sua voz soou quase como uma recordação.

- Eu também não - disse ela.

A areia estava fresca debaixo dos pés.

- Jack, lembra-se quando me convidou para ir andar de barco? - perguntou Kate.

- Sim.

- Porque é que me pediu para ir contigo?

Ele olhou para ela com curiosidade.

- Que quer dizer?

- Quero dizer que pareceu quase como se tivesse arrependido no momento em que o fez.

Ele encolheu os ombros.

- Não sei se arrependido é a palavra certa. Acho que fiquei surpreso por ter perguntado, mas não me arrependi.

Ela sorriu.

- Tem certeza?

- Sim, tenho. Lembre-se de que eu não convidava ninguém para sair há mais de três anos. Quando disse que nunca tinha andado de barco à vela, de repente percebi de que estava farto de estar sempre sozinho.

- Quer dizer que eu estava no lugar certo no momento certo?

Ele abanou a cabeça.

- Não quis dizer isso. Eu quis levá-la a passear de barco comigo. Não o teria feito se fosse outra pessoa. Além disso tudo acabou por se revelar muito melhor do que eu esperava. Estes últimos dois dias têm sido os melhores que já tive há muito tempo.

Ela sentiu-se confortável por dentro com o que ele disse. Enquanto caminhavam, ela sentia-o mexendo lentamente o polegar, desenhando pequenos círculos na pele dela. Ele continuou.

- Pensava que as suas férias iriam ser parecidas de alguma forma às que estás tendo?

Ela hesitou, decidindo que não era o momento certo para lhe contar a verdade.

- Não.

Caminharam juntos em silêncio.


- Acha que alguma vez virá aqui de novo? Quer dizer, para outras férias?

- Não sei. Porquê?

- Porque queria que viesse.

Ao longe, ela conseguia ver as luzes de um embarcadouro. Sentiu de novo a mão dele mexer-se na dela.


- Me convidaria outra vez para jantar se voltasse?

- Cozinharia para ti o que quisesse. Desde que fosse bife.

Ela riu-se baixinho.

- Então vou pensar no assunto. Prometo.

- E que tal se incluísse umas aulas de mergulho também?

- Acho que Kevin iria gostar mais disso do que eu.

- Então traga-o contigo.

Ela olhou para ele.

- Não se importaria?

- De modo nenhum. Gostaria muito de o conhecer.

- Aposto que gostaria dele.

- Eu sei que iria gostar.

Continuaram a andar em silêncio, até Kate balbuciar:

- Jack, posso te fazer uma pergunta?

- Claro.

- Sei que isto vai parecer estranho, mas...

Ela fez uma breve pausa, e ele olhou para ela com curiosidade.

- O quê?

- Qual foi a pior coisa que alguma vez fez?

Ele riu-se alto.

- Donde é que veio isso?

- Só quero saber. Faço sempre essa pergunta às pessoas. Permite-me saber como é que as pessoas funcionam na verdade.

- A pior coisa?

- A pior de todas.

Ele pensou durante um momento.

- Posso dizer que a pior coisa que já fiz foi quando eu e um grupo dos meus amigos saímos uma noite em Dezembro - tínhamos bebido muito e estávamos fazendo um barulho dos diabos quando fomos parar numa rua inteiramente decorada com luzinhas de Natal. Bem, estacionamos e começamos a desenroscar e a roubar todas as lâmpadas de que éramos capazes.

- Não!?

- É verdade. Éramos cinco, e enchemos a mala do carro com lâmpadas de Natal roubadas. E deixamos os fios - isso foi a pior parte. Parecia que o Grinch tinha passado por aquela rua. Ficamos lá durante quase duas horas, perdidos de riso com o que estávamos fazendo. A rua tinha aparecido no jornal como uma das mais decoradas da cidade, e quando acabamos... Não consigo imaginar o que aquela gente pensou. Devem ter ficado furiosos.

- Isso é terrível!

Ele riu-se de novo.

- Eu sei. Agora, sei que foi terrível. Mas na hora foi hilariante.

- E julgava eu que era um cara tão bem comportado...

- Eu sou um tipo bem comportado.

- Comportou-se como o Grinch. - Ela insistiu, curiosa. - Então e que mais é que você e os seus amigos fizeram?

- Quer mesmo saber?

- Sim, quero.

Ele começou então a regalá-la com histórias de adolescente. Vinte minutos mais tarde ele ainda contava histórias, para grande divertimento dela. Quando finalmente terminou, ele fez a mesma pergunta que havia começado a conversa.


- Oh, nunca fiz nada dessas coisas - disse ela quase envergonhada. - Sempre fui bem comportada.

Então ele riu novamente, sentindo-se como se tivesse sido enganado - não que se importasse - e sabendo muito bem que ela não dizia a verdade.

Caminharam até ao fim da praia, trocando entre si mais histórias de infância. Enquanto ele falava Kate tentava imaginar como ele seria quando era mais novo, perguntando-se sobre o que teria achado dele se o tivesse conhecido quando frequentava a faculdade. Teria achado tão atraente como o achava agora, ou teria voltado a apaixonar-se por James? Queria acreditar que teria apreciado as diferenças entre ambos. James parecera tão perfeito na época.

Pararam durante um momento e ficaram olhando a água. Ele estava próximo dela, e os ombros de ambos quase se tocavam.

- Em que estas pensando? - perguntou Jack.

- Em como o silêncio é tão agradável contigo ao meu lado.

Ele sorriu.

- E eu estava agora mesmo pensando em como lhe contei um montão de coisas que não conto a mais ninguém.

- É porque sabe que vou voltar para Chicago e não vou contar a ninguém?

Ele riu-se.

- Não, não é nada disso.

- Então o que é?

Ele olhou para ela com curiosidade.

- Não sabe?

- Não.

Ela sorriu quando o disse, quase desafiando-o a continuar. Ele pensava como explicar algo que ele próprio tinha dificuldade em compreender. Após um longo momento em que aproveitou para se concentrar, disse baixinho:


- Creio que é porque queria que a Kate soubesse quem eu sou na realidade. Porque se me conhecer de verdade, e ainda quiser ficar comigo...

Kate nada disse, mas sabia exatamente o que ele tentava dizer. Jack desviou o olhar.

- Desculpe. Não era minha intenção fazê-la sentir-se embaraçada.

- Não me fez sentir embaraçada - começou Kate a dizer. - Ainda bem que disse... - Ela fez uma pausa. Depois de um momento começaram a caminhar de novo lentamente.

- Mas não sente o mesmo que eu sinto.

Ela olhou para ele.


- Jack... eu... - A sua voz sumiu-se.

- Não, não precisa dizer nada...

Ela não o deixou acabar.

- Preciso sim. Voce quer uma resposta, e eu quero da-la. - Ela fez uma pausa, pensando na melhor maneira de dizer. Depois, respirando fundo:


- Após eu e o James nos separarmos, passei por um período horrível. E quando pensei que tinha vencido , comecei a sair com outros homens. Mas os homens que conheci... não sei, parecia simplesmente que o mundo tinha mudado durante o tempo em que estive casada. Todos eles queriam qualquer coisa, mas nenhum deles queria dar. Suponho que me cansei dos homens em geral.

- Não sei o que dizer...

- Jack, não estou contando isto porque penso que seja igual a esses homens. Você é muito diferente deles. E isso me assusta um pouco. Porque se eu disser o quanto gosto de ti... de certa maneira, estou sujeita a ser magoada de novo.

- Eu nunca a magoaria - disse ele gentilmente.

Ela parou de andar e o fez olhar para ela. Falou tranquilamente.

- Eu sei que acredita nisso, Jack. Mas luta com os seus próprios demônios durante os últimos três anos. Não sei se já está pronto para seguir em frente, e se não estiver, então vou ser eu quem vai se magoar porque eu estou me apaixonando por você.

As palavras atingiram-no com força, e ele levou algum tempo para responder. Jack obrigou-a a olhá-lo nos olhos.

- Kate... desde que nos conhecemos... não sei...

Ele parou, percebendo que não era capaz de pôr em palavras aquilo que sentia. Em vez disso levantou a mão e tocou o rosto dela com o dedo, acariciando-a tão levemente que parecia como uma pena contra a pele dela. No momento em que ele a tocou, ela fechou os olhos e apesar das suas dúvidas deixou que a sensação de formigueiro viajasse através do seu corpo, aquecendo-lhe o pescoço e os seios.

A partir daquele momento ela sentiu que tudo começava a desmoronar ficando apenas a certeza de que devia estar ali. O jantar que tinham partilhado, o passeio pela praia, a maneira como ele a olhava - não conseguia imaginar nada melhor que aquilo que estava acontecendo naquele momento.

As ondas vinham rebentar na praia, molhando os seus pés. A brisa quente de verão soprava por entre os cabelos dela, aumentando a sensação do toque dele. O luar emprestava um brilho singular à água, enquanto as nuvens projetavam sombras ao longo da praia, tornando a paisagem quase surreal.

Eles cederam então a tudo o que acumulara-se desde o momento em que se conheceram.


Ela afundou-se nele, sentindo o calor do seu corpo, e ele soltou-lhe a mão. Então, envolvendo-a lentamente nos seus braços, puxou-a para si e beijou-a suavemente nos lábios. Depois de se afastar ligeiramente para a olhar, beijou-a de novo suavemente. Ela devolveu o beijo, sentindo a mão dele percorrer as suas costas e parar no seu cabelo, onde ele enterrou os dedos. Sentir seus lábios junto aos dela, foi um momento tão sublime como há muito tempo ela não sentia. E a cada movimento feito em busca do novo, Kate percebia o quanto ela ansiava por isso, talvez desde sempre. Era como se ali naquele momento ela experimenta-se pela primeira vez um beijo. Seu corpo respondia ao desejo que a envolvia.

Permaneceram abraçados, beijando-se ao luar durante muito tempo, nenhum deles preocupado em saber se alguém os poderia ver. Tinham esperado muito tempo por aquele momento, e quando finalmente se afastaram, ficaram a olhar um para o outro. Depois, pegando de novo na mão dele, Kate conduziu-o lentamente de volta para a casa.

Parecia um sonho.Jack beijou-a de novo imediatamente após ter fechado a porta, com mais fervor desta vez, e Kate sentiu o corpo tremer de antecipação. Ela foi até à cozinha, pegou nas duas velas em cima da mesa, e levou-o para o quarto. Colocou as velas sobre a mesa, e ele tirou os fósforos do bolso, acendendo-as, enquanto ela foi até às janelas e começou a fechar as cortinas.

Jack estava ao pé da mesa quando ela voltou para ele. Novamente muito próximos um do outro, ela passou as mãos pelo peito dele, sentindo os músculos firmes por baixo da camisa, entregando-se à sua própria sensualidade. Olhando-o nos olhos, tirou a camisa lentamente expondo o peito dele. Deslizou-a pela cabeça e encostou-se a ele, ouvindo a camisa a cair no chão.


Beijou-lhe o peito, depois o pescoço, estremecendo quando as mãos dele passaram para a frente da sua blusa. Dando-lhe espaço, ela inclinou-se para trás enquanto ele desabotoava lenta e cuidadosamente os botões, um por um, de cima para baixo.

Quando a blusa caiu aberta, ele abraçou-a e puxou-a para si, sentindo o calor da pele dela contra a sua. Beijou-a no pescoço e mordiscou-lhe o lóbulo da orelha enquanto as suas mãos traçavam o contorno da espinha dela. Ela abriu os lábios, sentindo a ternura do contato dele. Os dedos dele detiveram-se no soutien, e com uma volta hábil foi ao chão, fazendo-a conter a respiração libertando os seios.


Ele inclinou-se e beijou-os ternamente, um de cada vez, e ela inclinou a cabeça para trás, sentindo a respiração aquecida e a umidade da boca dele onde quer que ela a tocasse.

Ela estava quase sem fôlego quando estendeu a mão para procurar o fecho das jeans dele.


Olhando-o de novo nos olhos, ela desabotoou-lhe as calças, puxando lentamente o fecho para baixo. Continuando a olhar para ele, enquanto puxava as calças. Elas soltaram-se ligeiramente e ele deu um passo para trás por um instante, para as despir. Depois, aproximando-se para beija-la de novo, ele ergueu-a nos seus braços e transportou-a com cuidado ao longo do quarto, colocando-a sobre a cama.

Deitada ao lado dele, ela passou as mãos pelo peito dele de novo, apertando um dos mamilos.


Jack soltou um gemido.Sentiu as mãos dele deslocarem-se suavemente para o jeans. Ele desabotoou e levantando ligeiramente as nádegas, ela despiu-as, uma perna de cada vez, enquanto as mãos dele continuavam a explorar o corpo dela. Ela acariciou-lhe as costas e mordeu-lhe suavemente no pescoço, escutando a sua respiração acelerar. Ele começou a tirar os boxers enquanto ela despia a calcinha, e quando ficaram finalmente nus, os seus corpos aproximaram-se.

Ela estava bela à luz das velas. Ele passou a língua por entre os seios, pela barriga dela abaixo, passando pelo umbigo e de novo para cima. Sua pele era macia e convidativa quando se abraçaram um ao outro. Ele sentiu a mão dela nas costas, puxando-o para mais perto dela.

Em vez disso ele continuou a beijar-lhe o corpo, sem apressar o movimento. Encostou o rosto à barriga dela e roçou suavemente. A barba do seu queixo despertava uma sensação erótica na pele dela, e ela enterrou as suas mãos no cabelo dele para que nao parasse. Ele continuou até ela não suportar mais, então ele subiu e fez a mesma coisa aos seios.

Ela puxou-o de volta para si, arqueando as costas enquanto ele se movia lentamente para cima dela. Ele beijou-lhe as pontas dos dedos, uma de cada vez, e quando eles finalmente se uniram como num só, ela fechou os olhos com um suspiro. Beijando-se ternamente, fizeram amor com um fervor que estivera sufocado durante os últimos três anos.

Os seus corpos moviam-se juntos, cada um consciente das necessidades do outro, cada um tentando agradar ao outro. Jack beijava-a quase continuamente, ela sentiu o seu corpo começar a vibrar com a urgência crescente de algo maravilhoso. Quando finalmente aconteceu, enterrou os dedos nas costas mas mal o momento terminava começava logo outro e ela começou a atingir orgasmos em longas sequências, um apos o outro.


Kate estava exausta quando acabaram de fazer amor e por fim abraçou-o, apertando-o. As suas mãos acariciavam delicadamente a pele suave enquanto descansava. Kate adormeceu nos braços dele, sentindo-se maravilhosamente bem.


Na madrugada,Kate abriu os olhos, percebendo instintivamente que ele já não estava na cama.


Virou-se para o lado, procurando-o. Não o vendo, levantou-se e foi até o banheiro onde encontrou um roupão. Envolvendo-se nele, deixou o quarto e lançou uma olhada em direção à escuridão da cozinha. Não estava lá. Procurou na sala, mas também lá não estava, e subitamente soube exatamente onde ele estaria.

Lá fora, encontrou-o sentado na cadeira, vestido apenas com os seus boxers e uma camisa cinzenta. Ele a viu e sorriu.

- Olá.

Ela aproximou-se, e ele fez sinal para ela se sentar ao seu colo. Beijou-a enquanto a puxava para si, e ela pôs os braços à volta do pescoço dele. Percebendo que havia algo errado, Kate afastou-se e tocou-lhe a face.

- Estás bem?

Ele demorou um momento a responder.

- Sim - disse ele, baixinho, sem olhar para ela.

- Tem certeza?

Ele acenou que sim com a cabeça, mais uma vez sem a olhar nos olhos, e ela usou o seu dedo para o fazer olhar para ela. Disse delicadamente:

- Pareces um pouco... triste.

Ele fez um sorriso fraco sem responder.

- Estás triste por causa do que aconteceu?

- Não - disse ele. - De maneira nenhuma. Não me arrependo de nada.

- Então o que foi?

Ele não respondeu, desviando novamente os olhos.

Ela falou suavemente.

- Estás aqui fora por causa de Sarah?

Ele esperou um momento antes de responder, depois colocou a mão dela na sua. Por fim olhou-a nos olhos.

- Não, não estou aqui fora por causa de Sarah - disse ele, quase sussurrando as palavras. - Estou aqui fora por sua causa.

Depois, com ternura ele puxou-a suavemente para si e abraçou-a sem dizer mais uma palavra, não a largando até o céu começar a clarear. Tudo que queria era congelar o momento para sempre.



CONTINUA...


Nenhum comentário: