terça-feira, 20 de maio de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 16 Parte 2

Capitulo 16 - Parte 2


No dia seguinte, Kate levou Jack para mais uma volta por Chicago, passando a maior parte da manhã nos bairros italianos, vagando pelas ruas estreitas e sinuosas e parando para os ocasionais cannoli e cafés. Jack quis saber mais sobre o jornal, fez perguntas sobre o assunto enquanto atravessavam calmamente a cidade.


- Não podes escrever a coluna em casa?

- Daqui a uns tempos, suponho que sim. Mas neste momento, não é possível.

- Porque não?

- Bem, para começar não está no meu contrato. Além disso tenho de fazer muito mais do que sentar-me ao computador e escrever. Muitas vezes tenho de entrevistar pessoas, logo isso implica tempo, às vezes até uma pequena viagem. Mais, há toda a pesquisa que tenho de fazer, especialmente quando escrevo sobre temas médicos ou psicológicos, e quando estou no escritório, tenho acesso a muito mais fontes. Se trabalhasse em casa, sei que muita gente telefonaria ao fim do dia quando estou com Kevin, e não estou disposta a renunciar ao meu tempo com ele.

- Recebes telefonemas em casa agora?

- De vez em quando.

- Recebes muitos telefonemas malucos?

Ela acenou que sim com a cabeça.

- Acho que todos os colunistas recebem.

Jack parou junto a uma loja com uma banca de fruta fresca à venda no passeio. Tirou duas maçãs da caixa, dando uma a Kate.

- Qual foi a coisa que escreveste na tua coluna que mais êxito teve? - perguntou ele.

Kate ficou de repente sem ar. A que mais êxito teve? Fácil. Encontrei uma mensagem numa garrafa um dia, e recebi cerca de duzentas cartas.

Ela forçou-se a pensar noutra coisa qualquer.

- Oh... recebo muitas cartas quando escrevo sobre a educação de crianças deficientes - disse ela finalmente.

- Isso deve ser gratificante - disse ele, pagando ao dono da loja.

- É.

Antes de dar uma dentada na sua maçã, Jack perguntou:

- Podias continuar escrevendo a tua coluna mesmo se mudasses de jornal?

Ela meditou sobre a pergunta.

- Seria difícil, especialmente se quiser continuar a ter as minhas cronicas publicadas noutros jornais. Uma vez que sou tão nova e ainda estou tentando firmar meu nome, trabalhar para o Chicago Times ajuda muito. Porquê?

- Curiosidade apenas - disse ele baixinho.


Na manhã seguinte foi trabalhar durante algumas horas, mas passaram a tarde no parque de Chicago, onde fizeram um piquenique. A refeição foi interrompida duas vezes por pessoas que reconheciam Kate da sua foto no jornal, e Jack percebeu que Kate era mais conhecida do que ele pensara.

- Não sabia que eras uma celebridade - disse ele ironicamente depois de a segunda pessoa ter partido.

- Não sou realmente uma celebridade. É que a minha foto aparece na coluna, por isso as pessoas reconhecem-me.

- Este tipo de coisa acontece muitas vezes?

- Não muito. Talvez uma ou duas vezes por semana.

- Isso é muito - disse ele, surpreendido.

Ela abanou a cabeça.

- Não se pensares nas verdadeiras celebridades. Essas nem sequer podem ir a uma loja sem que alguém lhes tire uma foto. Eu tenho uma vida bastante normal.

- Mas mesmo assim deve ser estranho ter pessoas completamente desconhecidas vindo falar contigo.

- Na verdade até é um pouco lisonjeador. A maior parte das pessoas são muito simpáticas.

- De qualquer maneira, ainda bem que não sabia que eras tão famosa quando te conheci.

- Porquê?

- Poderia ter ficado intimidado para te convidar a passear de barco.

Ela estendeu o braço e pegou-lhe na mão.

- Não consigo imaginar voce intimidado com o quer que seja.

- Então não me conheces muito bem.

Ela ficou calada durante um momento.

- Terias mesmo ficado intimidado? - perguntou ela com um ar de falsa timidez.

- Provavelmente.

- Porquê?

- Acho que pensaria o que é que uma pessoa como tu poderia ver em mim.

Ela inclinou-se para beijá-lo.

- Eu digo o que vejo. Vejo o homem que amo, o homem que me faz feliz... alguém que quero continuar a ver durante muito tempo.

- Como é que sabes sempre exatamente o que dizer?

- Porque - disse ela baixinho - sei muito mais sobre voce do que voce alguma vez poderia imaginar.

- Como por exemplo?

Um sorriso demorou-se nos seus lábios.

- Por exemplo, sei que queres que eu te beije outra vez.

- Quero?

- Absolutamente.

E ela tinha razão.

***************


Mais tarde no mesmo dia Jack disse:

- Sabes, Kate, não consigo encontrar um único defeito em ti.

Eles estavam os dois na banheira, rodeados de montanhas de espuma, Kate encostada ao peito dele. Ele usava uma esponja para lavar a pele dela enquanto falava.

- O que queres dizer com isso? - perguntou ela curiosa, voltando a cabeça para olhar para ele.

- Exatamente o que disse. Não consigo encontrar um único defeito em ti. Quer dizer, és perfeita.

- Não sou perfeita, Jack - disse ela, satisfeita apesar de tudo.

- Mas és. És bonita, és simpática, fazes-me rir, és inteligente, e és também uma ótima mãe. Acrescenta a isso tudo o fato de seres famosa, e não penso que haja alguém que possa igualar-te.

Ela acariciou-lhe o braço, recostando-se contra ele.

- Acho que estás me vendo com lentes cor-de-rosa. Mas gosto...

- Porque diz isso? Estou errado?

- Não - mas até agora só viste o meu lado bom.

- Não sabia que tinhas outro lado - disse ele, apertando-lhe ambos os braços ao mesmo tempo. - Os dois lados parecem bastante bons neste momento.

Ela riu.


- Sabes o que quero dizer. Ainda não viste o meu lado negro.

- Tu não tens um lado negro.

- Claro que tenho. Todos tem. Só que quando tu estás presente, ele gosta de se manter escondido.

- Então, como é que descreverias o teu lado negro?

Ela pensou durante um momento.

- Bem, para começar, sou teimosa, e posso ser maldosa quando me zango. Tenho a tendência para me estressar e dizer a primeira coisa que me vem à cabeça, e acredita, não é bonito. Também tenho a tendência de dizer aos outros exatamente aquilo que penso, mesmo quando sei que seria melhor virar simplesmente as costas.

- Isso não parece muito mau.

- Ainda não estiveste do outro lado.

- Mesmo assim não parece tão mau.

- Bem... deixa-me pôr a questão desta maneira. Quando confrontei o David pela primeira vez depois de conhecer o caso, chamei alguns dos piores nomes que existem no dicionário.

- Ele merecia.

- Mas não tenho a certeza se merecia que lhe atirasse com um vaso.

- Tu fizeste isso?

Ela acenou que sim com a cabeça.

- Devias ter visto a expressão na cara dele. Nunca me tinha visto daquela maneira antes.

- O que é que ele fez?

- Nada. Acho que ficou muito chocado para reagir. Especialmente quando comecei com os pratos. Limpei o armário quase todo naquela noite.

Ele sorriu com admiração.

- Não sabia que eras tão feroz.

- É de ter sido educada e crescido no midwest. Não te metas comigo, meu.

- Eu não.

- Fazes bem. A minha pontaria anda muito melhor hoje em dia.

- Não me esquecerei.

Eles afundaram-se um pouco mais na água quente. Jack continuava a passar a esponja pelo corpo dela.

- Ainda assim penso que és perfeita - disse ele baixinho. Ela fechou os olhos.

- Mesmo com o meu lado negro? - perguntou ela.

- Especialmente com o teu lado negro. É mais um elemento de excitação.

- Fico contente, porque para mim tu também és perfeito.



CONTINUA...

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