No dia seguinte, Kate levou Jack para mais uma volta por Chicago, passando a maior parte da manhã nos bairros italianos, vagando pelas ruas estreitas e sinuosas e parando para os ocasionais cannoli e cafés. Jack quis saber mais sobre o jornal, fez perguntas sobre o assunto enquanto atravessavam calmamente a cidade.
- Não podes escrever a coluna em casa?
- Daqui a uns tempos, suponho que sim. Mas neste momento, não é possível.
- Porque não?
- Bem, para começar não está no meu contrato. Além disso tenho de fazer muito mais do que sentar-me ao computador e escrever. Muitas vezes tenho de entrevistar pessoas, logo isso implica tempo, às vezes até uma pequena viagem. Mais, há toda a pesquisa que tenho de fazer, especialmente quando escrevo sobre temas médicos ou psicológicos, e quando estou no escritório, tenho acesso a muito mais fontes. Se trabalhasse em casa, sei que muita gente telefonaria ao fim do dia quando estou com Kevin, e não estou disposta a renunciar ao meu tempo com ele.
- Recebes telefonemas em casa agora?
- De vez em quando.
- Recebes muitos telefonemas malucos?
Ela acenou que sim com a cabeça.
- Acho que todos os colunistas recebem.
Jack parou junto a uma loja com uma banca de fruta fresca à venda no passeio. Tirou duas maçãs da caixa, dando uma a Kate.
- Qual foi a coisa que escreveste na tua coluna que mais êxito teve? - perguntou ele.
Kate ficou de repente sem ar. A que mais êxito teve? Fácil. Encontrei uma mensagem numa garrafa um dia, e recebi cerca de duzentas cartas.
Ela forçou-se a pensar noutra coisa qualquer.
- Oh... recebo muitas cartas quando escrevo sobre a educação de crianças deficientes - disse ela finalmente.
- Isso deve ser gratificante - disse ele, pagando ao dono da loja.
- É.
Antes de dar uma dentada na sua maçã, Jack perguntou:
- Podias continuar escrevendo a tua coluna mesmo se mudasses de jornal?
Ela meditou sobre a pergunta.
- Seria difícil, especialmente se quiser continuar a ter as minhas cronicas publicadas noutros jornais. Uma vez que sou tão nova e ainda estou tentando firmar meu nome, trabalhar para o Chicago Times ajuda muito. Porquê?
- Curiosidade apenas - disse ele baixinho.
Na manhã seguinte foi trabalhar durante algumas horas, mas passaram a tarde no parque de Chicago, onde fizeram um piquenique. A refeição foi interrompida duas vezes por pessoas que reconheciam Kate da sua foto no jornal, e Jack percebeu que Kate era mais conhecida do que ele pensara.
- Não sabia que eras uma celebridade - disse ele ironicamente depois de a segunda pessoa ter partido.
- Não sou realmente uma celebridade. É que a minha foto aparece na coluna, por isso as pessoas reconhecem-me.
- Este tipo de coisa acontece muitas vezes?
- Não muito. Talvez uma ou duas vezes por semana.
- Isso é muito - disse ele, surpreendido.
Ela abanou a cabeça.
- Não se pensares nas verdadeiras celebridades. Essas nem sequer podem ir a uma loja sem que alguém lhes tire uma foto. Eu tenho uma vida bastante normal.
- Mas mesmo assim deve ser estranho ter pessoas completamente desconhecidas vindo falar contigo.
- Na verdade até é um pouco lisonjeador. A maior parte das pessoas são muito simpáticas.
- De qualquer maneira, ainda bem que não sabia que eras tão famosa quando te conheci.
- Porquê?
- Poderia ter ficado intimidado para te convidar a passear de barco.
Ela estendeu o braço e pegou-lhe na mão.
- Não consigo imaginar voce intimidado com o quer que seja.
- Então não me conheces muito bem.
Ela ficou calada durante um momento.
- Terias mesmo ficado intimidado? - perguntou ela com um ar de falsa timidez.
- Provavelmente.
- Porquê?
- Acho que pensaria o que é que uma pessoa como tu poderia ver em mim.
Ela inclinou-se para beijá-lo.
- Eu digo o que vejo. Vejo o homem que amo, o homem que me faz feliz... alguém que quero continuar a ver durante muito tempo.
- Como é que sabes sempre exatamente o que dizer?
- Porque - disse ela baixinho - sei muito mais sobre voce do que voce alguma vez poderia imaginar.
- Como por exemplo?
Um sorriso demorou-se nos seus lábios.
- Por exemplo, sei que queres que eu te beije outra vez.
- Quero?
- Absolutamente.
E ela tinha razão.
***************
Mais tarde no mesmo dia Jack disse:
- Sabes, Kate, não consigo encontrar um único defeito em ti.
Eles estavam os dois na banheira, rodeados de montanhas de espuma, Kate encostada ao peito dele. Ele usava uma esponja para lavar a pele dela enquanto falava.
- O que queres dizer com isso? - perguntou ela curiosa, voltando a cabeça para olhar para ele.
- Exatamente o que disse. Não consigo encontrar um único defeito em ti. Quer dizer, és perfeita.
- Não sou perfeita, Jack - disse ela, satisfeita apesar de tudo.
- Mas és. És bonita, és simpática, fazes-me rir, és inteligente, e és também uma ótima mãe. Acrescenta a isso tudo o fato de seres famosa, e não penso que haja alguém que possa igualar-te.
Ela acariciou-lhe o braço, recostando-se contra ele.
- Acho que estás me vendo com lentes cor-de-rosa. Mas gosto...
- Porque diz isso? Estou errado?
- Não - mas até agora só viste o meu lado bom.
- Não sabia que tinhas outro lado - disse ele, apertando-lhe ambos os braços ao mesmo tempo. - Os dois lados parecem bastante bons neste momento.
Ela riu.
- Sabes o que quero dizer. Ainda não viste o meu lado negro.
- Tu não tens um lado negro.
- Claro que tenho. Todos tem. Só que quando tu estás presente, ele gosta de se manter escondido.
- Então, como é que descreverias o teu lado negro?
Ela pensou durante um momento.
- Bem, para começar, sou teimosa, e posso ser maldosa quando me zango. Tenho a tendência para me estressar e dizer a primeira coisa que me vem à cabeça, e acredita, não é bonito. Também tenho a tendência de dizer aos outros exatamente aquilo que penso, mesmo quando sei que seria melhor virar simplesmente as costas.
- Isso não parece muito mau.
- Ainda não estiveste do outro lado.
- Mesmo assim não parece tão mau.
- Bem... deixa-me pôr a questão desta maneira. Quando confrontei o David pela primeira vez depois de conhecer o caso, chamei alguns dos piores nomes que existem no dicionário.
- Ele merecia.
- Mas não tenho a certeza se merecia que lhe atirasse com um vaso.
- Tu fizeste isso?
Ela acenou que sim com a cabeça.
- Devias ter visto a expressão na cara dele. Nunca me tinha visto daquela maneira antes.
- O que é que ele fez?
- Nada. Acho que ficou muito chocado para reagir. Especialmente quando comecei com os pratos. Limpei o armário quase todo naquela noite.
Ele sorriu com admiração.
- Não sabia que eras tão feroz.
- É de ter sido educada e crescido no midwest. Não te metas comigo, meu.
- Eu não.
- Fazes bem. A minha pontaria anda muito melhor hoje em dia.
- Não me esquecerei.
Eles afundaram-se um pouco mais na água quente. Jack continuava a passar a esponja pelo corpo dela.
- Ainda assim penso que és perfeita - disse ele baixinho. Ela fechou os olhos.
- Mesmo com o meu lado negro? - perguntou ela.
- Especialmente com o teu lado negro. É mais um elemento de excitação.
- Fico contente, porque para mim tu também és perfeito.
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário