domingo, 20 de julho de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 27

Capitulo 27


My Beloved Kate,


Consegues perdoar-me?

Ela colocou a carta sobre os joelhos. Doía-lhe a garganta, dificultando a respiração. A luz por cima dela fazia um estranho prisma com as suas lágrimas inesperadas. Ela pegou num lenço de papel e esfregou os olhos. Recompondo-se, começou de novo.

Consegues perdoar-me?

Num mundo que eu raramente compreendo, existem ventos de destino que sopram quando menos os esperamos. Por vezes sopram com a violência de um furacão, outras vezes mal os sentimos no rosto. Mas os ventos não podem ser negados, trazendo como muitas vezes trazem um futuro impossível de ignorar.


Tu, minha querida, és o vento que eu não antecipei, a rajada que soprou com mais força do que eu alguma vez imaginara possível. Tu és o meu destino.

Eu fiz mal, muito mal, ao ignorar o que era óbvio, e peço que me perdoes. Como um viajante cuidadoso, tentei proteger-me do vento e perdi a alma em troca. Fui estúpido ao ignorar o meu destino, mas até os estúpidos têm sentimentos, e acabei por perceber que tu és a coisa mais importante que tenho neste mundo.

Eu sei que não sou perfeito. Cometi mais erros nos últimos meses do que alguns cometem numa vida inteira. Fiz mal ao agir da maneira como agi quando encontrei as cartas, tal como fiz mal ao esconder a verdade sobre aquilo que estava acontecendo comigo em relação ao meu passado. Quando corri atrás de ti na estrada e também quando te vi partir no aeroporto, soube que devia ter me esforçado mais para te deter. Mas mais do que tudo, fiz mal ao negar o que era óbvio no meu coração: que não sou capaz de continuar a viver sem ti.

Tinhas razão em relação a tudo. Quando estávamos os dois sentados na cozinha, eu tentei negar as coisas que dizias, mesmo sabendo que elas eram verdadeiras. Tal como um homem que olha apenas para trás numa viagem através do país, eu ignorei o que estava à minha frente. Perdi a beleza de um nascer do Sol que estava para vir, o encanto da antecipação que faz a vida valer a pena. Fiz mal ao proceder dessa maneira, em resultado da minha confusão, e gostaria de ter percebido isso mais cedo.

Agora, porém, com os meus olhos postos no futuro, vejo o teu rosto e ouço a tua voz, certo de que esse é o caminho que devo seguir. É o meu mais profundo desejo que tu me dês mais uma oportunidade. Como deves ter imaginado, tenho a esperança de que esta garrafa faça valer a sua magia, tal como aconteceu uma vez, e que de alguma maneira volte a nos unir.

Durante os primeiros dias depois de teres partido, quis acreditar que poderia continuar a viver como sempre tinha vivido até então. Mas não posso. Sempre que assistia a um pôr do Sol, pensava em ti. Sempre que passava pelo telefone, desejava te telefonar. Mesmo quando saía de barco, apenas conseguia pensar em ti e nos tempos maravilhosos que tivemos juntos. Sabia no meu coração que a minha vida nunca mais seria a mesma. Queria te ter de volta, mais do que imaginara ser possível, e no entanto, sempre que te evocava, ouvia as tuas palavras na nossa última conversa. Por mais que te amasse, sabia que nada iria ser possível a não ser que nós - os dois - tivéssemos a certeza de que eu me dedicaria inteiramente ao caminho que seguia em frente. Estes pensamentos continuaram a perturbar-me até ontem ao fim da noite, quando a resposta finalmente veio a mim.

Kate parou de ler.
Recostando-se na cadeira, fechou os olhos, tentando reter as lágrimas.
- Jack - murmurou ela -, Jack... - Lá fora, ela podia ouvir os ruídos de carros a passar. Começou a ler de novo, lentamente.

A noite ao observar as estrelas da varanda de casa, cochilei pesadamente e a resposta me veio em sonho. Sonhei com Sarah e sei que ao contar voce ira compreender:

Vi-me na praia com Sarah, no mesmo lugar onde te levei depois do nosso almoço no Hanks. Estava bem ao sol, os raios refletindo, brilhantes, na areia. à medida que caminhávamos ao lado um do outro, ela escutava com atenção enquanto eu lhe falava de ti, de nós, dos momentos maravilhosos que partilhávamos. Finalmente, depois de alguma hesitação, admiti que te amava, mas que me sentia culpado por causa disso. Ela não disse nada imediatamente mas continuou simplesmente a andar até que por fim voltou-se para mim e perguntou-me.

- Porquê?

- Por causa de ti.

Ao ouvir a minha resposta, ela sorriu para mim divertida e pacientemente, como costumava fazer antes de morrer

- Oh, Jack - disse ela finalmente, tocando-me ternamente no rosto -, quem é que pensas que lhe levou a garrafa?

Quando acordei, senti-me vazio e só. O sonho não me trouxe alívio. Pelo contrário, fez-me doer por dentro por causa do que eu tinha feito à nossa relação, e comecei a chorar. Quando finalmente me recompus, sabia o que tinha de fazer. Com a mão a tremer, escrevi esta carta que tens na tua mão neste momento. Eu fechei o ciclo com Sarah não só as palavras dela, mas também a vontade do meu coração que me levou de volta para ti.

Oh, Kate, lamento muito, mas mesmo muito, ter alguma vez te magoado. Para a semana irei a Chicago com a esperança de que encontres uma maneira de me perdoar. Sera que e tarde demais? Não sei.

Kate, eu te amo e sempre te amarei, sempre.


Estou cansado de estar sozinho. Vejo as crianças a chorar e a rir enquanto brincam na areia, e percebo que quero ter filhos contigo. Quero ver Kevin transformar-se num homem. Quero segurar a tua mão e ver-te chorar quando ele finalmente escolher uma noiva, quero te beijar quando os sonhos dele se realizarem. Mudarei para Chicago se me pedires, porque não posso continuar desta maneira. Fico doente e triste sem ti. Sentado aqui na cozinha, rezo para que me deixes voltar para ti, desta vez para sempre.

Jack

Kate nao conseguia conter as lagrimas. A dor no peito era quase insuportavel. Ela levantou-se e foi ate ele. Passando a mao suavemente sobre o rosto de Jack, ela inclinou-se e beijou-lhe os labios, uma, duas. tres vezes. Os dedos faziam pequenos circulos na pele dele.

- Jack, eu te amo tanto... por favor, volta pra mim...



CONTINUA...

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