Não sabendo mais para onde ir, Jack apanhou um táxi para o aeroporto depois de deixar o apartamento de Kate. Infelizmente, não havia qualquer voo àquela hora, e acabou por ficar no terminal o resto da noite, ainda zangado e incapaz de dormir.
Kate pernamecera sentada no escuro. Nao tinha vontade de fazer absolutamente nada. A dor que sentia no seu coracao era grande demais. Ao seu ouvido, o eco constante das palavras pronunciadas por Jack deixavam-na triste, decepcionada.
"Nós nem sequer chegamos perto do que eu e Sarah tivemos."
"Nós nem sequer chegamos perto do que eu e Sarah tivemos."
Consumida pela raiva e pela frustracao arremecou um pequeno cristal contra a parede.
Abriu a garrafa de vinho que comprara e virou. O alcool a deixou anestesiada e quando finalmente nao tinha mais lagrimas adormeceu no chao do quarto.
Na manhã seguinte, Jack apanhou o primeiro voo que conseguiu e chegou a casa pouco depois das onze, indo direto para o seu quarto. Deitado na cama, contudo, os acontecimentos da noite anterior não paravam de lhe atravessar a mente, mantendo-o acordado. Tentando em vão adormecer, acabou por se levantar.
Tomou um banho de chuveiro e vestiu-se, depois sentou-se outra vez na cama. Olhando para a foto de Sarah, acabou por pegar nela e levou-a consigo para a sala de estar. Na mesa de café encontrou as cartas onde as deixara. No apartamento de Kate ele estivera demasiado chocado para poder entendê-las, mas agora, com a foto dela à sua frente, ele leu-as devagar, quase com reverência, sentindo a presença de Sarah impregnando a sala.
Os pensamentos de Jack foram interrompidos pelo ranger da porta. O seu pai espreitava para dentro da sala.
- Vi a teu carro lá fora. Queria ter certeza de que estava tudo bem - disse ele, explicando-se. - Não esperava de volta até à noite.
Como Jack não respondeu, o pai entrou reparando imediatamente na foto de Sarah em cima da mesa.
- Estás bem, filho? - perguntou ele, cautelosamente.
Permaneceram sentados na sala de estar enquanto Jack explicava a situação desde o princípio - os sonhos que tivera ao longo dos anos, as mensagens que enviara nas garrafas, chegando finalmente à discussão que eles tinham tido na noite anterior. Não deixou nada de fora. Quando terminou, o pai tirou-lhe as cartas da mão.
- Deve ter sido um grande choque - disse ele, olhando para as folhas, surpreendido por Jack nunca lhe ter falado das cartas. Fez uma pausa.
- Mas não achas que foste duro demais com ela?
Jack abanou a cabeça, cansado.
- Ela sabia tudo sobre mim, pai, e nunca me disse. Ela planejou a coisa toda.
- Não planejou nada - disse ele delicadamente. - Ela pode ter vindo aqui para te conhecer, mas não fez com que te apaixonasses por ela. Tu fizeste isso sozinho.
Jack virou-se para o lado antes de finalmente voltar a olhar para a foto em cima da mesa.
- Mas não achas que ela procedeu mal ao esconder tudo de mim?
Chris suspirou, não querendo responder à questão, tentou pensar noutra maneira de chegar ao filho.
- Há umas semanas atrás, quando estivemos conversando, disseste que querias casar com Kate porque a amavas. Lembras disso?
Jack acenou distraidamente com a cabeça.
- Porque é que isso mudou?
Jack olhou para o pai, confuso.
- Já lhe disse que...
Chris interrompeu-o gentilmente antes dele acabar.
- Sim, explicaste as tuas razões, mas não foste honesto. Não comigo, não com Kate, nem mesmo contigo. Ela pode não te ter falado sobre as cartas e, admito, talvez devesse tê-lo feito. Mas não é por isso que estás ainda aborrecido agora. Estás aborrecido porque ela te fez perceber algo que tu não querias admitir.
Jack olhou para o pai sem responder. Depois, levantando-se do sofá, foi até à cozinha, sentindo subitamente o desejo de fugir da conversa. Encontrou um jarro de chá doce e encheu um copo. Abrindo o congelador e mantendo-o aberto, puxou para fora o tabuleiro de metal para tirar alguns cubos de gelo. Num súbito acesso de frustração, ele puxou a alavanca com força e os cubos de gelo voaram para cima do balcão e para o chão.
Enquanto Jack resmungava e praguejava na cozinha, Chris olhou para a foto de Sarah, lembrando-se da sua própria mulher. Pousou as cartas ao lado da moldura e caminhou até à porta de vidro corrediça. Abrindo-a, observou os ventos frios de Dezembro fazer as ondas rebentar com violência, fazendo ecoar o ruído através da casa. Chris contemplava o oceano, quando alguém bateu à porta.
Voltou-se, intrigado sobre quem poderia ser. Estranhamente, percebeu que em todas as suas visitas àquela casa, ninguém alguma vez batera à porta.
Jack não tinha ouvido. Chris foi atender.
- Já vou - disse ele em voz alta.
Quando a porta da frente se abriu, o vento entrou de rajada para dentro da sala, espalhando as cartas pelo chão. Chris, porém, não reparou. Toda a sua atenção estava centrada na visitante.
à sua frente estava uma mulher jovem de cabelo escuro que nunca vira antes. Hesitou à entrada, sabendo exatamente quem ela era mas dando por si sem palavras. Desviou-se para o lado para lhe dar espaço.
- Entre - disse ele baixinho.
Quando ela entrou, fechando a porta atrás de si, o vento morreu abruptamente. Ela olhou para Chris, constrangida. Por um momento, nenhum dos dois falou.
- Deve ser a Kate - disse Chris por fim. Ao fundo, Chris conseguia ouvir Jack a resmungar enquanto limpava o gelo na cozinha. - Tenho ouvido falar muito de voce.
Ela cruzou os braços, hesitando.
- Sei que não estavam à minha espera...
- Não faz mal - encorajou Chris.
- Ele está aqui?
Chris acenou com a cabeça em direção à cozinha.
- Sim, está. Foi buscar qualquer coisa para beber.
- Como ele está ?
Chris encolheu os ombros e mostrou-lhe um sorriso lento e forçado. - Terá de falar com ele...
Kate acenou com a cabeça, interrogando-se de repente se teria sido uma boa ideia ter vindo.
Olhou em volta da sala e reparou imediatamente nas cartas espalhadas pelo chão. Também reparou na mala de Jack, ainda por desfazer, junto à porta do quarto. Fora disso, a casa parecia exatamente na mesma.
Exceto, claro, a foto.
Espreitou-a por cima do ombro de Chris. Normalmente estava no quarto dele, e por alguma razão, agora que se encontrava plenamente à vista, não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava ainda olhando para a foto quando Jack voltou a sala.
- Pai, que aconteceu aqui...
Ele gelou. Kate encarou-o indecisa. Durante um longo momento, nenhum deles disse nada.
Depois Kate respirou fundo.
- Olá, Jack - disse ela.
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário