quinta-feira, 26 de junho de 2008

As Palavras que Nunca Te Direi - Cap 22

Capitulo 22


Não sabendo mais para onde ir, Jack apanhou um táxi para o aeroporto depois de deixar o apartamento de Kate. Infelizmente, não havia qualquer voo àquela hora, e acabou por ficar no terminal o resto da noite, ainda zangado e incapaz de dormir.

Kate pernamecera sentada no escuro. Nao tinha vontade de fazer absolutamente nada. A dor que sentia no seu coracao era grande demais. Ao seu ouvido, o eco constante das palavras pronunciadas por Jack deixavam-na triste, decepcionada.

"Nós nem sequer chegamos perto do que eu e Sarah tivemos."


"Nós nem sequer chegamos perto do que eu e Sarah tivemos."

Consumida pela raiva e pela frustracao arremecou um pequeno cristal contra a parede.


Abriu a garrafa de vinho que comprara e virou. O alcool a deixou anestesiada e quando finalmente nao tinha mais lagrimas adormeceu no chao do quarto.

Na manhã seguinte, Jack apanhou o primeiro voo que conseguiu e chegou a casa pouco depois das onze, indo direto para o seu quarto. Deitado na cama, contudo, os acontecimentos da noite anterior não paravam de lhe atravessar a mente, mantendo-o acordado. Tentando em vão adormecer, acabou por se levantar.


Tomou um banho de chuveiro e vestiu-se, depois sentou-se outra vez na cama. Olhando para a foto de Sarah, acabou por pegar nela e levou-a consigo para a sala de estar. Na mesa de café encontrou as cartas onde as deixara. No apartamento de Kate ele estivera demasiado chocado para poder entendê-las, mas agora, com a foto dela à sua frente, ele leu-as devagar, quase com reverência, sentindo a presença de Sarah impregnando a sala.

Os pensamentos de Jack foram interrompidos pelo ranger da porta. O seu pai espreitava para dentro da sala.

- Vi a teu carro lá fora. Queria ter certeza de que estava tudo bem - disse ele, explicando-se. - Não esperava de volta até à noite.


Como Jack não respondeu, o pai entrou reparando imediatamente na foto de Sarah em cima da mesa.


- Estás bem, filho? - perguntou ele, cautelosamente.

Permaneceram sentados na sala de estar enquanto Jack explicava a situação desde o princípio - os sonhos que tivera ao longo dos anos, as mensagens que enviara nas garrafas, chegando finalmente à discussão que eles tinham tido na noite anterior. Não deixou nada de fora. Quando terminou, o pai tirou-lhe as cartas da mão.

- Deve ter sido um grande choque - disse ele, olhando para as folhas, surpreendido por Jack nunca lhe ter falado das cartas. Fez uma pausa.


- Mas não achas que foste duro demais com ela?

Jack abanou a cabeça, cansado.

- Ela sabia tudo sobre mim, pai, e nunca me disse. Ela planejou a coisa toda.

- Não planejou nada - disse ele delicadamente. - Ela pode ter vindo aqui para te conhecer, mas não fez com que te apaixonasses por ela. Tu fizeste isso sozinho.

Jack virou-se para o lado antes de finalmente voltar a olhar para a foto em cima da mesa.

- Mas não achas que ela procedeu mal ao esconder tudo de mim?

Chris suspirou, não querendo responder à questão, tentou pensar noutra maneira de chegar ao filho.

- Há umas semanas atrás, quando estivemos conversando, disseste que querias casar com Kate porque a amavas. Lembras disso?

Jack acenou distraidamente com a cabeça.

- Porque é que isso mudou?


Jack olhou para o pai, confuso.

- Já lhe disse que...

Chris interrompeu-o gentilmente antes dele acabar.

- Sim, explicaste as tuas razões, mas não foste honesto. Não comigo, não com Kate, nem mesmo contigo. Ela pode não te ter falado sobre as cartas e, admito, talvez devesse tê-lo feito. Mas não é por isso que estás ainda aborrecido agora. Estás aborrecido porque ela te fez perceber algo que tu não querias admitir.


Jack olhou para o pai sem responder. Depois, levantando-se do sofá, foi até à cozinha, sentindo subitamente o desejo de fugir da conversa. Encontrou um jarro de chá doce e encheu um copo. Abrindo o congelador e mantendo-o aberto, puxou para fora o tabuleiro de metal para tirar alguns cubos de gelo. Num súbito acesso de frustração, ele puxou a alavanca com força e os cubos de gelo voaram para cima do balcão e para o chão.

Enquanto Jack resmungava e praguejava na cozinha, Chris olhou para a foto de Sarah, lembrando-se da sua própria mulher. Pousou as cartas ao lado da moldura e caminhou até à porta de vidro corrediça. Abrindo-a, observou os ventos frios de Dezembro fazer as ondas rebentar com violência, fazendo ecoar o ruído através da casa. Chris contemplava o oceano, quando alguém bateu à porta.

Voltou-se, intrigado sobre quem poderia ser. Estranhamente, percebeu que em todas as suas visitas àquela casa, ninguém alguma vez batera à porta.

Jack não tinha ouvido. Chris foi atender.

- Já vou - disse ele em voz alta.

Quando a porta da frente se abriu, o vento entrou de rajada para dentro da sala, espalhando as cartas pelo chão. Chris, porém, não reparou. Toda a sua atenção estava centrada na visitante.

à sua frente estava uma mulher jovem de cabelo escuro que nunca vira antes. Hesitou à entrada, sabendo exatamente quem ela era mas dando por si sem palavras. Desviou-se para o lado para lhe dar espaço.

- Entre - disse ele baixinho.

Quando ela entrou, fechando a porta atrás de si, o vento morreu abruptamente. Ela olhou para Chris, constrangida. Por um momento, nenhum dos dois falou.

- Deve ser a Kate - disse Chris por fim. Ao fundo, Chris conseguia ouvir Jack a resmungar enquanto limpava o gelo na cozinha. - Tenho ouvido falar muito de voce.

Ela cruzou os braços, hesitando.

- Sei que não estavam à minha espera...

- Não faz mal - encorajou Chris.

- Ele está aqui?

Chris acenou com a cabeça em direção à cozinha.

- Sim, está. Foi buscar qualquer coisa para beber.

- Como ele está ?

Chris encolheu os ombros e mostrou-lhe um sorriso lento e forçado. - Terá de falar com ele...

Kate acenou com a cabeça, interrogando-se de repente se teria sido uma boa ideia ter vindo.


Olhou em volta da sala e reparou imediatamente nas cartas espalhadas pelo chão. Também reparou na mala de Jack, ainda por desfazer, junto à porta do quarto. Fora disso, a casa parecia exatamente na mesma.

Exceto, claro, a foto.

Espreitou-a por cima do ombro de Chris. Normalmente estava no quarto dele, e por alguma razão, agora que se encontrava plenamente à vista, não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava ainda olhando para a foto quando Jack voltou a sala.

- Pai, que aconteceu aqui...

Ele gelou. Kate encarou-o indecisa. Durante um longo momento, nenhum deles disse nada.


Depois Kate respirou fundo.

- Olá, Jack - disse ela.



CONTINUA...

Nenhum comentário: